6° Capítulo: Matthew

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"Uma vez me disseram que o lugar em que alguém está pensando em você, é o lugar para onde você deve voltar. "

Acordo novamente assustado por ter caído do sofá. Em um dia normal eu até teria reclamado, mas minha preocupação com o estado do meu pai era maior que a vontade de reclamar da vida. Não me lembro muito da noite anterior, tenho apenas alguns flashes. Sei que estava na casa do Carlos, aí Scott apareceu lá e flertamos, recebi uma ligação da vizinha dizendo que meu pai estava no hospital e por último fui para a casa de Megan busca-la pois ela dormiria em minha casa, assistimos algumas séries , aí peguei no sono e cá estou eu.

Não demorei para subir e lavar o rosto, dei um beijo no rosto de Megan que ainda estava dormindo e saí. Antes de voltar para o hospital dei uma passadinha em casa e peguei o pequeno rádio que meu pai tinha. Era antigo, e por incrível que pareça ainda funcionava que perfeitamente. Chegando ao hospital fui direto para o quarto onde meu pai estava sendo tratado. Vê-lo naquele estado me deixava péssimo, mesmo que meu pai fosse um desses fanáticos da igreja ele ainda tinha seus momentos "sóbrios" de razão. Ele tinha a fé dele, frequentava a igreja e seguia os costumes básicos. O problema maior era esse costume de escolher minha esposa, para ele era tradição e tudo mais.

Entrei no quarto e o vi naquele estado. Lágrimas escorreram dos meus olhos instantaneamente. Caminhei até a mesinha ao lado da cama, liguei o rádio e coloquei na estação de rock. Mesmo meu pai morando em Faith City, a cidade com a população mais religiosa do país ele ainda curtia ouvir rock. Era algo que trazia lembranças boas de minha mãe, antes dela desaparecer.

Depois de ficar algumas horas sentado decidi dar uma volta pelo hospital, talvez comprar algo na praça de alimentação. Enquanto caminhava não conseguia tirar da cabeça o pensamento de que tudo isso que estava acontecendo poderia ser culpa minha. Eu deveria ter sido um filho melhor e prestado mais atenção no estado de saúde do meu pai, ou talvez passar mais tempo com ele ao invés de ficar indo em festas. Não sei, apenas sinto que é minha culpa e pronto.

Quando estava me aproximando do quarto reparei que a porta estava entreaberta, eu não lembro de a ter deixado assim. Entrei no quarto e vi o pastor ajoelhado ao lado da cama rezando por meu pai.

- Venha meu jovem, junte-se a mim. - Disse ele quando virou para traz e me viu.

- Eu prefiro acreditar que os remédios e a competência dos médicos vão curá-lo, mas obrigado. - Eu simplesmente não suportava o pastor, ele era tão artificial e forçado.

- Pelo seu pai meu jovem, você nem precisa falar nada, apenas me dê sua mão.

Meu pai gostaria que eu fizesse isso, então eu fiz, segurei na mão do pastor e fechei os olhos enquanto ele rezava em voz baixa. Ficamos nisso cerca de 25 minutos.

- Foi um bom começo meu jovem. Seu pai está está desacordado, mas ainda sente as boas ações feitas para ele. Você precisa fazer o que acha que faria ele feliz. - O pastor agora olhava em meus olhos. - Dê uma passada na igreja domingo, sempre fazemos grupos de oração.

- Muito obrigado pelo convite, não é assim que eu lido com este tipo de situação, mas mesmo assim, obrigado. - Caminhei até a porta e fiz sinal para que ele saísse, a presença dele já estava me incomodando.

Quando ele saiu eu voltei a me sentar na poltrona. Aquilo que ele havia dito ficou na minha cabeça. Será que eu deveria voltar a frequentar a igreja? Será que de alguma forma não estou sendo punido por ser gay?

Meus olhos se encheram de lágrimas. Está decidido, vou deixar de ser gay e me casar com Megan. Farei isso não por mim, mas pelo meu pai.

Aos Olhos De Megan e Matthew Onde histórias criam vida. Descubra agora