Cada Vez Mais Diferente

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Saì incrédulo de dentro do quarto, não estava conseguindo entender tudo aquilo que Ellaide tinha dito. Não acreditava que meu avô tinha morrido por causa daquele Grimório, e eu estava ali, conseguindo manipulá-lo tão bem. Fico parado do lado de fora da casa, precisava pegar um ar e pensar sobre toda aquela informação. Após alguns minutos Arief sai de dentro da casa e fica próximo a mim.

- Esta melhor?

- Não entendo... – Suspirava fortemente. – Surpresa atrás de surpresa, não aguento mais.

Um silêncio absurdo fica entre nós. Uma fraca ventania passa por entre a gente, me fazendo arrepiar todo. Estava exausto, por isso decido ir dormi.

- Acho melhor eu ir descansar. – Falei já acenando e entrando para dentro da casa.

Ando lentamente até chegar ao meu quarto, enquanto Arief ficava à porta.

- Vá descansar, pois irá precisar de muita energia amanhã.

Entro em meu quarto, onde um breu esquisito toma conta. Pego uma lamparina que estava próxima de uma mesinha à porta, e a acendo. Agora não tinha mais nada escuro no quarto, a não ser minha sombra bruxuleante que dançava pelas paredes. Deito, e por mais incrível, não tive dificuldades para dormir, para ser mais exato, já devo ter caído dormindo.

"Azborg Jorgan Gradest

Um grande disparo elétrico acaba destruindo metade dos Kyomas que saiam da terra. Corro o mais rápido que posso e, à frente, encontro Ezaq com sua espada de duas laminas em punho.

- Vamos, não podemos perde tempo com eles, Zyrma irá cuidar disso.

- Certo, darei cobertura. – Um sorriso estonteante estava em seu rosto e, de alguma maneira, aquilo era contagiante.

Um grande Demônio Sieg aparece à nossa frente, interceptando à nossa passagem.

- Precisamos dar um jeito nesse. – Ezaq começará a recitar encantamento em sua espada, que é tomada por uma chama roxa bruxuleante.

- Era tudo que eu queria ouvir.

Estendo minha mão ao alto onde uma fraca luz desce e o meu Grimório aparece. Olho para Ezaq, que já estava pronto. Trocamos um sorriso e saímos em disparada. Ezaq sai à minha frente, cortando alguns Kyomas que aparecia e desviando ligeiramente do braço do Sieg, que logo em seguida e decepado por um corte preciso. Enquanto Ezaq o distrai, eu corro para a direção traseira do demônio e estendo minha mão para o lado, que sai deslizando por uma pagina que aparece em meio ao ar. Passo a mão rapidamente por ela e retiro uma mini-foice mediana. O demônio lança seu único braço contra mim, que - sem maiores dificuldades - desvio facilmente. Me reposiciono e descrevo um arco com minha mini-foice em sua perna, fazendo-o tombar para frente enquanto o sangue escorre. Vejo pelo canto do olho Ezaq terminar de matar outro demônio com a espada e correr para longe, enquanto a mim, subo em cima da criatura e coloco a mão em sua nuca, de onde sai três correntes a frente, prendendo-o no chão. O demônio se debate, embora as correntes não permitissem que ele se levantasse. Dou um grande salto, saindo de cima do Sieg, enquanto Ezaq descia do céu com sua espada em chamas, que, ao tocar a criatura, desliza facilmente pela carne fazendo-o desaparecer logo em seguida como fumaça ao vento."

Levanto com um grande pulo da cama, mal conseguia respirar. Mais uma vez tive um sonho relacionado a guerras, destruição. Não conseguia entender. Parecia uma cena de algo que estava para acontecer. Uma premonição. Me encaminho para o banheiro, onde jogo várias vezes água no rosto. A cena ainda estava em minha mente. Sento de volta na cama, mas não consigo dormir novamente. Fico olhando para o nada até o dia amanhecer.

- Enoch? - Falava uma voz que reconhecia bem - Vamos, acorde.

Abro os olhos vagarosamente e avisto quem me chamava. Arief se encontrava estranhamente sério a minha frente. Percebo que dormi, levo alguns segundos para acordar, e mais alguns para responde-lo.

- Nossa... - Falei enquanto passava a mão no rosto - O que faz aqui?

- Vamos treinar, como sempre fazíamos, ora! - Um sorriso realmente sombrio estava em seu rosto.- Te espero lá fora!

Após terminar de falar, ele se vira e sai do quarto. Mas antes ele para na porta, sorri e diz: "Estarei esperando um bom combate". Arief estava muito sombrio nas últimas horas, aquilo já estava me deixando inquieto. Saio do quarto, como ele realmente disse, estava lá fora me esperando. Ele me olha com uma cara de confusão.

- Cadê seu Grimório?

- Não preciso mais andar com ele, depois daquela luta e aquele acontecimento estranho com ele, eu não preciso mais levá-lo comigo. Ele simplesmente aparece quando eu necessito.

- Humm...

Percebi que ele estava escutando bem tudo o que falava, sem me interromper, parecia ouvir cada palavra atentamente. Aquilo era realmente estranho porque ele não se interessava por esses assuntos. Como ele já disse várias vezes, ele achava "chato demais" falar sobre esse tipo de coisa. Nos encaminhamos para uma parte um pouco distante da floresta.

- Mas então, Arief, você irá lutar com qual espada se à sua foi quebrada?

- Não se preocupe, peguei algo melhor no vilarejo. Espere e verá!

Prosseguimos o resto do caminho em silêncio, até que ele para de súbito.

- Pronto, treinaremos aqui. - Ele permanece de costas.

- Certo. - Virei e prossegui na distância oposta.

Paro a uma distância razoável e me viro para encara-lo. Ele abre um grande sorriso e puxa duas mini-adagas das costas. Me espanto. Arief não era de usar este tipo de arma de curta distância.

- Não vai pegar seu Grimório? - Senti um leve tom de deboche em sua fala.

- Na verdade não sei como traze-lo.

- Como assim?

- Daquele vez que ele apareceu, não sei como tinha feito.

- Então quer dizer que irá lutar sem arma nenhuma?- Deboche. Novamente.

- Sim, vamos ver no que vai dar. - Falei com um tom desafiador.

Ele posicionou um dos pés para trás, como alguém que irá pegar impulso. Me posiciono de qualquer jeito, mas antes de me arrumar ele já estava a caminho com as adagas prontas para cortar tudo ao seu alcance. Já me posicionei para tentar esquivar, mas não iria conseguir, o movimento foi lento demais. Foi quando as páginas soltas do meu Grimório apareceram e interceptaram Arief de me acertar.

Arief deu um passo atrás e gargalhou.

- Ora veja, apareceu quem faltava. - Ele estava sorrindo ferozmente.

- Agora que a verdadeira luta começa. – Também estava empolgado com toda aquela situação.

Lutamos com toda vontade por um longo tempo, até que decidimos parar por hoje. Foi uma das batalhas mais interessantes que já tivemos. Ele estava melhor, por incrível que pareça ele se encaixava bem com as adagas. Era um estilo rápido e feroz, algo que em um campo de batalha parecia ter sido feito pra ele. Mas também vi algo diferente dessa vez, a feição dele nos treinos havia mudado, e aquele tom de deboche permanecia. Oculto, mas não por completo.

Me sento em uma arvore próxima, enquanto Arief permanecia em pé um pouco a minha frente.

- Acho que nunca treinei com tanta vontade. - Falava ofegantemente.

Arief permanecia em silêncio. Me dirijo até ele para ver se estava acontecendo algo, mas antes mesmo de chegar perto ele virou com um sorriso.

- Acho melhor irmos, está ficando tarde.

Paro de súbito. Olho pra ele e dou de ombros, viro as costas e prossigo de volta para o vilarejo, enquanto Arief me seguia de forma silenciosa.

A Última Magia (Pausado Temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora