CAPÍTULO IV

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     "Você sabe que o frio tem uma voz?"

     Acordei com o coração acelerado. Tentei me localizar, mas o ambiente estava invadido por uma escuridão tão plena que eu poderia tocá-la. Eu era incapaz de discernir qualquer objeto ou forma de vida ali.

     "Eu perguntei se você sabe que o frio tem uma voz."

Agora tenho certeza de que ouvi algo! Era... era uma voz... Será que ela falava comigo? Era uma voz masculina e suave, porém de tom levemente estressado.

     "Estou falando com você, Elizabeth! Responda!"

     A voz bradou contra mim, raivosamente. Com medo, finalmente resolvo me pronunciar:

     - Diante d-de t-t-tudo que eu já passei, não duvido de nada! - Falei trêmula e vacilante, tão apavorada que estava.

     "Você não deve sentir medo."

     - Por que diz isso? E como sabe meu nome? - Pergunto, quase sussurrando.

     "Eu conheço o nome de todos que conhecem o frio."

     - O frio...?

     "Sim, Elizabeth. Agora escute-me: siga, permaneça nessas estradas. Encontrará o que quer."

     Calei-me ao ouvir tais palavras. De repente, sinto como se estivesse caindo num abismo, completamente sem chão. O ar começa a me faltar e o frio me envolve completamente.

     Então, finalmente acordo. Estava extremamente afoita e suava frio, além de estar tremendo bastante.

    Olhei em volta para me certificar se aquilo era mesmo a realidade. Era o mesmo quartinho no qual estava alojada nos últimos meses, nada anormal.

     Fico pensando no sonho que tive. O que era aquela voz? O que ela quis dizer com "permaneça nessas estradas"? Era o frio falando comigo?

     Eu só podia estar delirando! Realmente, estou ficando maluca.

     Mas a voz disse que eu encontraria o que eu queria se eu... NÃO! É só um sonho. Sonho não, pesadelo!

     Resolvo levantar-me. A sra. O'Niel e o Alfred já deveriam estar me esperando para o café da manhã.

     Minha perna tinha melhorado bastante desde o acidente, e já fazia quase dois meses do acontecido. Quase dois meses que eu estava desaparecida, ou até dada como morta para o meus pais. Quase dois meses longe do conforto da minha casa. Quase dois meses sem saber o que teria acontecido a Thomas.

     Troquei de roupa, colocando um vestido que me foi cedido pela dona da casa. Era um pouco largo, mas me caía muito bem. Era melhor do que não vestir nada.

     Como a casa era pequena, eu dava logo de cara com cozinha (que também era copa) assim que abria a porta dos meus aposentos.

     - Bom dia - cumprimento, sentando-me à mesa. Nossa refeição era bem simples: um cafezinho e uns pães de ontem.

     - Não estamos tendo tanta variedade por causa do inverno - explicou-me a sra. O'Niel certa vez.

     - Bom dia, Liz! - Alfred responde.

     Sra. O'Niel apenas me sorri.

     - Sua perna tá melhor, não tá? - Ele me pergunta.

     - Muito melhor - Sorrio.

     Conversamos calorosamente sobre o cotidiano durante aquele humilde café da manhã. Depois que terminei e lavei minha louça, resolvi dar um passeio lá fora. A neve não estava castigando tanto naquela manhã.

These Roads - Nessas EstradasOnde histórias criam vida. Descubra agora