CAPÍTULO XV

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Caminhei até o pôr do sol.

Eu só tinha esse único objetivo em minha mente agora: encontrá-los.

Tossi duas vezes até aqui. Minha situação ainda era crítica, mas era preciso seguir em frente. Cansara de chorar por cada desgraça que me acontecia. Thomas espera que eu aguente firme e siga. Eu quero aguentar firme e seguir.

O céu escurecia, adquirindo um cinza mais escuro com o tempo. E eu não parava de caminhar, mesmo com dor, mesmo que surgissem algumas cãibras. Mesmo que eu estivesse morrendo de fome e de sede.

Minha boca estava seca. Meu estômago doía de tão vazio. Mas eu negava tudo isso. Parte do quebra-cabeça estava resolvida: ele estava com Thomas. Eu só precisava saber onde.

Não que descobrir isso fosse fácil. Eu ainda ia comer muita poeira. Ou melhor, neve.

O sol já havia desaparecido. Já escurecera. Eu pouco enxergava na estrada escura.

Eu tenho me perdido bastante em pensamentos nas últimas horas. Nem reparava no tempo passando ao meu redor.

Ajeitei melhor meu cachecol ensanguentado no pescoço. Coloquei as mãos nos bolsos e me encolhi, tremendo um pouco.

Ficava mais difícil à noite. Era um verdadeiro breu. Eu era obrigada a andar mais devagar, para não topar em nada que estivesse no meio da estrada. Sem falar que fazia muito mais frio.

Tirei as mãos dos bolsos devagar, para não derrubar os bilhetes e abracei a mim mesma. Caminhava de um jeito meio melancólico. Encolhida, devagar, no escuro.

Mas eu não estava disposta a dormir. Estava cansada, mas não eu tinha um pingo de sono. Apenas o desejo de encontrá-los.

Um vento frio assobia em meus ouvidos. Estremeço. As folhas das árvores emitem um leve farfalhar.

Acelerei um pouco o ritmo da caminhada, ainda andando numa velocidade segura. Ouvia o barulho dos meus sapatos no asfalto, a cada passo.

O farfalhar de folhas secas seguia baixinho, o vento soprando suave, mas trazendo junto de si um frio cortante.

Meus passos no asfalto. Brisa fria. Farfalhar nas folhas secas.

Caminhei a passos mais leves, fazendo menos ruído. A brisa fria ganha um pouco mais de força, separando minha franja no meio. A folhas nas árvores fizeram barulho. E o silêncio.

Inspirei com um pouco de dificuldade. Voltei a caminhar normalmente, ouvindo o barulho dos meus sapatos no asfalto, junto com o farfalhar das folhas secas.

Um momento, folhas secas?

Parei de caminhar. O barulho das folhas secas no chão também parou.

Era sincronizado demais para ser o vento.

Engoli em seco. Acelerei o passo, ouvindo as folhas secas estalarem junto com barulho de meus passos no asfalto.

— Você está aí, não está? — Disparei, exaltada. Parei de caminhar, respirando forte e com certa dificuldade.

Silêncio.

— O que você quer? — Perguntei ao escuro, num tom de voz mais baixo. Eu mal conseguia piscar, tão ansiosa que estava.

O estalar das folhas secas passou a ser o mesmo som que meus passos faziam no asfalto. Sem pensar, afastei-me no escuro, mesmo sem saber se estava indo para mais perto ou para mais longe daquilo.

De súbito, sinto um baque nas costas. Sou chutada para frente, caindo de joelhos no chão. Quando fui virar o rosto para olhar para trás — por puro impulso, já que estava tudo escuro —, levei um tapa e um corpo passou a me segurar no chão, fazendo minhas costas baterem contra o chão violentamente.

These Roads - Nessas EstradasOnde histórias criam vida. Descubra agora