CAPÍTULO VI

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Esqueci tudo. Tudo.

Apenas fechei os olhos molhados e cansados, sentindo as lágrimas quentes se congelarem sobre meu rosto.

***

A luz ínfima de um dia de inverno já irradiava quando recobrei meus sentidos.

E eu estava ali. Viva. Inteira.

Abro meus olhos timidamente. Ainda permanecia recostada na mesma árvore em que havia adormecido.

Olhei em volta. Até que a floresta não parecia tão hostil assim, à luz do dia. É até bonito o jeito como a luz do sol atravessa as copas destas árvores e... Parece tão confortante.

Levanto devagar. Minhas pernas estão dormentes, então é melhor não forçar a barra.

Dou passos desajeitados sobre o solo branco, apoiando-me nas árvores.

Fico nisso por alguns minutos até escutar um grunhido.

Olho ao redor, receosa. Seria um urso ou, ou, ou, ou um alce? Alces fazem esse barulho?

Não importa, eu morro de medo de alces!

Ignorei a dormência em minhas pernas e comecei a correr desajeitada e loucamente. Não ligava para onde ia, eu só não quero ficar perto de nenhum alce!

Corri, corri muito, como se não houvesse amanhã — e considerando minha situação, talvez realmente não houvesse.

Precisei topar umas cinco vezes e ralar feio o meu joelho para conseguir compreender de onde vinha aquele barulho.

Ele vinha de nada mais nada menos que...

Meu estômago.

Não sabia se ria ou se chorava.

Eu estava fugindo do meu próprio estômago.

Confundi meu estômago com um alce.

Ainda bem que ninguém viu isso. Ou pelo menos eu espero que ninguém tenha visto.

Respirei fundo e continuei a caminhar tranquilamente como se nada tivesse acontecido.

Contudo, eu agora tinha (mais) um problema: fome.

Remexi nos bolsos do meu casaco. Não havia nada além dos bilhetes, embalagens de bombom e um panfleto de um jogo de hóquei. Nenhuma balinha de menta.

Mas... Por que cargas d'água eu tenho o panfleto de um jogo de hóquei? Eu nem acompanho hóquei no gelo...

É... Então ok.

Continuo a caminhar. E minha fome continua aumentando.

O estômago começa a doer

E eu não sei como sobreviver na floresta.

Céus...

Ficar pensando em comida não vai adiantar.

Mas está difícil.

Não há nenhuma alternativa a não ser continuar caminhando.

Só que o barulho do meu estômago não deixa eu me concentrar.

Já estava com tantos vazios dentro de mim, agora tenho um na barriga também.

Mas eu tenho que aceitar que não há nada que eu possa fazer além de caminhar. Caminhar. E caminhar.

E ficar caminhando, caminhando, caminhando.

"Stillborn by choice
It airs no need to hold"

These Roads - Nessas EstradasOnde histórias criam vida. Descubra agora