CAPÍTULO VIII

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Após sair do chalé, segui pela esquerda, como os rapazes haviam orientado.

Sentia-me um pouco mais feliz, mas nada que me fizesse sair por aí saltitando. Tinha água e comida, o que era menos mal, mas ainda precisava resolver muita coisa.

Muitas peças do quebra-cabeça ainda estavam soltas. Os bilhetes, a estrada, Thomas desaparecido, o carro...

Se eu ficasse me forçando a pensar nisso, com certeza perderia minha sanidade.

Agora eu precisava chegar à estrada. Previa mais uma longa caminhada... Se bem que não precisava ser nenhum gênio para saber disso.

O céu estava nublado, portanto não havia sombras. E por isso, não conseguia ver a direção da luz do sol e deduzir que horas eram.

Era horrível não ter um relógio...

Eu ouvia o estalar das folhas misturadas com neve sob as solas das minhas botas. Tentava caminhar e não pensar, mas... Era tanta coisa. Tanta coisa que merecia minha atenção. Tantas perguntas.

Como toda essa gente veio parar aqui? Por quê? O que aconteceu? Há quanto tempo estão aqui?

Will e Martin parecem ter chegado há pouco tempo... Mas e a Sra. O'Neil? Ela parece acostumada com tudo, e também parece conformada em estar aqui com o filho. Eu duvido que ela tenha passado menos que um ano nesta floresta.

E era disso que eu tinha medo. Já estive por aqui por dois meses. Em dois meses eu já devo ter perdido muita coisa da vida lá fora. Provavelmente meu irmão mais velho já se casou. Nosso irmão do meio já deve ter se formado. Eu duvido que alguém da minha família ou dos meus poucos amigos tenha parado a vida por minha causa.

Eu não quero perder mais. Dois meses era muito, agora eu percebia.

Eu quero voltar para casa.

Mas... Não sem o Thomas.

Sempre que eu lembrava que ele também estava desaparecido, meu coração apertava. Ele poderia estar em qualquer lugar, mas onde? Bem longe de mim, por sinal. Se o acidente aconteceu longe daqui...

Mas como ele sumiu?

Escutei um estalo sob minha bota, o que me fez recuar de susto. Era apenas um galho, agora quebrado no meio.

Suspirei desanimadamente. Sou mesmo um exemplo de coragem...

Tornei a caminhar. Onde eu estava? Sim, Thomas.

Era simplesmente desesperador não saber o que aconteceu com ele. Era simplesmente desesperador saber que ele não estava são e salvo, em sua casa, junto com a sua família.

E se ele tivesse... Não. Eu prometi para mim mesma que não iria sequer cogitar isso. Thomas estava vivo. Tinha que estar. Eu não saberia lidar com o contrário. Eu não viveria com isso.

Thomas é mais que um "namoradinho" ou uma paixonite adolescente. Antes de qualquer coisa, ele é meu melhor amigo, um porto seguro. Alguém com quem posso contar sempre. Ele me mostrou isso em menos de um ano. Se estou conseguindo superar a minha depressão, é por causa dele, que tenta e consegue me fazer feliz a cada momento.

O dia em que o conheci permanece claro em minhas memórias. Era uma época difícil... Eu tinha acabado de mudar de cidade, de escola. Tinha passado por coisas horríveis.

Fui dura com ele no começo, confesso. Mas de alguma forma, nos tornamos amigos. E depois...

Agora estamos aqui. Ou melhor, eu estou aqui, sozinha.

These Roads - Nessas EstradasOnde histórias criam vida. Descubra agora