CAPÍTULO XIII

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Perdi a noção do tempo caminhando, como de praxe.

Não havia nada. Nada que pudesse me ajudar. Apenas o caminho cinza, os matagais ao lado, as elevações geográficas ao fundo.

Eu suava, por mais frio que estivesse. Minha testa continuava queimando e eu não conseguia mais respirar pelo nariz. Descobri que eu tossira o sangue que havia manchado o cachecol e agora eu estava unindo todos os meus esforços para não tossir de novo.

A estrada estava tortuosa e turva. As árvores pareciam crescer bem rápido ao meu redor e minha perspectiva estava embaralhada.

Socorro. Eu quero implorar por socorro.

Meus olhos pesavam muito. Passei a caminhar de olhos fechados mesmo. Que risco haveria? A estrada é deserta.

Comecei a tremer e ter leves espasmos. Essa febre vai me matar.

Mas eu não podia me dar esse luxo. Eu não tenho onde cair morta. Eu não quero morrer sem saber o que aconteceu. Eu não quero morrer perdida.

Eu repetia isso para mim mesma, como um mantra. Eram minhas únicas motivações.

Abri os olhos, olhei para as árvores tentando mantê-los abertos. Elas continuavam crescendo sem controle.

Minha cabeça latejou junto com meu braço. Minha visão embaçou e escureceu.

***

Elizabeth já havia visto toda aquela matéria. E sabia aquele assunto muito bem.

No entanto, lá estava ela, tentando prestar atenção apesar de tudo. Suspirava entediada vez ou outra, rabiscava letras numa caligrafia caprichada na contracapa de seu caderno, enquanto escutava o mesmo discurso sobre termodinâmica mais uma vez.

Ás vezes, a professora chamava sua atenção. Perguntava-lhe coisas esperando que não soubesse as respostas, mas Elizabeth sempre sabia, por mais que os seus colegas sempre continuassem com aquela chacota de “loira burra”.

Elizabeth os ignorava. Não devia nada a ninguém; sua vida não era da conta de nenhum deles. Já tinha passado por coisa pior. O que era uma piadinha de mau gosto daquele cunho para ela?

Continuou olhando para o quadro, sem emoção. Ultimamente, não sentia muita coisa. Talvez um pouco de ansiedade e tristeza.

Ouviu um “ei” bem baixinho. Não tirou os olhos do quadro.

Ouviu outro. E outro. E depois, sentiu uma bolinha de papel ser jogada em si.

Elizabeth virou o rosto, levemente irritada, procurando quem fizera aquilo. Seus olhos pararam sobre Thomas, que olhava para ela, acenando discretamente.

Thomas era a única pessoa que se importava em puxar conversa com ela. Mesmo quando o deixava falando sozinho.

O garoto estava sentado na fila ao lado, paralelo a Elizabeth. Ela mexeu a cabeça devagar, meio confusa, como se dissesse “o que foi?”.

Ele lançou um olhar cauteloso para a professora. Passou um bilhete rapidamente para a sua carteira e voltou ao seu lugar como se nada tivesse acontecido.

Elizabeth franziu o cenho para ele, estranhando aquilo. Olhou para o pedaço de papel, abriu-o. Antes de ler, lançou mais um olhar desconfiado para Thomas.

Ele apenas olhava para o quadro, meio tenso. Às vezes olhava de soslaio para ela e voltava a olhar para cima.

A garota olhou para o papel. Deu uma boa olhada na letra de Thomas; era bonita até. Um tanto grande.

These Roads - Nessas EstradasOnde histórias criam vida. Descubra agora