o Leão e a Cobra

Mudanças

Ela se aproximou na cama receosa. Ele não olhava para ela, mas sim para as gravatas. E ela se odiou por ter deixado essa ideia estúpida tomar conta dela.

Nem soube por que fizera, foi um impulso. Viu a gravata e quis usá-la.

Não era nenhum crime, certo?

Ela se sentou na cama, atraindo o olhar dele. Tombou um pouco a cabeça.

—O que diabos estava fazendo com minha gravata? — perguntou ele, levantando uma sobrancelha. Ela não respondeu de imediato, e nem mudou a expressão enigmática em seu rosto.

—Também senti sua falta. — respondeu após alguns instantes de absoluto silêncio.

Ele soltou os ombros até o momento tensionados. Suspirou e abraçou a garota.

—Não importa o que faça, não consigo te odiar. — disse ele. Ela o abraçou de volta e colocou a cabeça em seu peito. —Tentar fugir com o nosso bebê foi sujo, Hermione. E você sabe. Mas pior do que isso é a perspectiva de viver sem você. — disse em tom tranquilo. Não parecia bravo, nem magoado. Hermione sorriu por que soube que o que ele falava era verdade, escutava o coração dele, e estava acelerado.

—Não sei o que tinha na minha cabeça. Parecia uma boa ideia na hora. — disse ela, com sinceridade.

—Por favor, nunca mais faça algo assim. — pediu Malfoy, acariciando os cabelos dela.

—Jamais.

E logo depois deram um beijo carinhoso.

Ela levantou-se após alguns minutos, colocou a gravata — a da Grifinoria, e se despediu dele. Tinha que ir para a aula. E ele também.

Aula de trato das criaturas mágicas, com a Corvinal. Ela caminhou até o pátio. Encontrou Luna.

—Olá. — cumprimentou a amiga com um sorriso. Ela sorriu.

—Oi Hermione. — disse e piscou seus grandes olhos azuis. Ficou encarando a amiga com uma expressão curiosa.

—O que foi? — perguntou quando o olhar de aluna fixo nela já estava demasiado desconfortável.

—Você mudou. — sorriu docemente.

—Como assim? O que mudou? — perguntou Hermione, confusa.

—Tudo, oras. — respondeu Luna, como se fosse óbvio. Os brincos prateados com formato de estrela balançavam graciosamente a cada passo  que ela dava.

—Tudo o que? — Hermione sentia-se confusa, e um misto de sensações que beiravam a ansiedade. Como se todos soubessem de um segredo que não estavam contando a ela. Luna riu uma última vez para a amiga.

—Eu nunca tinha visto alguém mudar assim, mas meu pai me contou que quando ele estudava um menino mudou também. Não se preocupe, você saberá em breve.

Logo depois de soltar essa frase enigmática em cima de Hermione, ela se distraiu com uma borboleta, que voava baixo, perto das plantas. Hermione deixou que ela seguisse a borboleta sem interrompê-la com mais perguntas que certamente não seriam respondidas.

Por que nos últimos dias todos pareciam notar alguma coisa nela que ela mesma não conseguia. Sentia como se tivesse sempre algo no seu dente, ou uma mancha na sua blusa.

Só queria se isolar de todo mundo.

Passou a tarde imersa nesses pensamentos, refletindo sobre os últimos acontecimentos esperando que conseguisse encontrar algumas respostas na meditação. Mas não conseguiu. Só saiu com mais perguntas.