Rósea Lewis

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McGonagall largou os documentos que lia quando ouviu uma batida na porta.

—Entre.

Malfoy e Jack entraram na sala e sentaram-se em frente a mesa de madeira da diretora.

—Tem alguma coisa acontecendo com Hermione. — disse Jack, sem ir direto ao assunto. A diretora olhou para Malfoy, esperando que ele explicasse direito. Ele respirou fundo e começou a falar.

—Ela tem agido diferente. Muito diferente.

—O quão diferente? — perguntou a mulher, atenta ao que viria a seguir.

—Eu a flagrei vestindo meu uniforme ontem. — disse ele. A diretora continuou encarando-o sem mudar de expressão. —Quero dizer, ela estava vestindo minha gravata.

—Foi só dessa vez?

—Acredito que tenha sido a única vez que vestiu meu uniforme, mas aconteceu mais algumas coisas.

—Envolvendo?

—Hermione e sua predileção por verde e prata. — disse ele, soltando o ar. Jack se remexeu na cadeira do lado, os dois garotos se olharam brevemente, como se estivessem conversando só pelo olhar.

—Explique melhor, senhor Malfoy. — ela esfregou as mãos uma na outra, analisando mentalmente a situação.

—Ela tem vestido roupas verdes, e acessórios prateados. Eu nunca havia visto ela vestindo verde ou prata. Ontem a vi com as duas cores juntas.

—E também aconteceu de ela-

—Eu já vou chegar nessa parte.— disse Malfoy, interrompendo Jack no meio da frase, o fuzilando com o olhar.

—Se está acontecendo algo com Hermione, você precisa me contar, senhor Malfoy. Não pode esconder de mim. — disse McGonagall, contendo sua preocupação. Malfoy suspirou.

—Nós vimos, em momentos separados, a cor dos olhos de Hermione mudar. — disse ele, passando a palma da mão pela sua capa. McGonagall tirou os óculos.

—Ela não é metamorfo. — disse baixo, mais fazendo uma anotação mental do que afirmando para os dois.

—Malfoy tem uma teoria improvável. — disse Jack. McGonagall transferiu sua atenção para ele.

—Rósea Lewis.

—Foi o único caso na história desta escola. — argumentou Minerva, nervosa.

—Não é só uma lenda? — perguntou Jack.

—Não. Mas eu não vi acontecer. Foi antes de meu tempo. E ninguém nunca fala disso por não se ter certeza atualmente se foi verdade ou não.

—Mas você sabe a história, não? — perguntou Malfoy. Minerva confirmou com a cabeça.

—Conte-nos como aconteceu.

Os segundos seguintes foram de puro silencio, quase como se ela ponderasse se devia ou não contar a história. Se ouvia apenas o trepidar na lareira. O reflexo do fogo nos olhos de Minerva.

—Em 1722 existiu uma aluna da Grifinoria chamada Rósea Lewis. — começou ela. — Ela passou por um trauma muito grande, que foi quando dois bruxos torturaram e mataram seus pais na sua frente, na hora do jantar. Eles a deixaram viver, e ela foi morar com os avós. — disse e fez uma pausa. Talvez tentando lembrar-se exatamente a história, talvez tentando escolher as palavras certas. Os dois esperaram pacientemente. —Ela era filha única do casal, e eram uma família muito unida. Amavam muito a filha. Portanto, para Rósea, perder os pais foi quase como perder uma parte do corpo. Um trauma terrível, ainda mais uma morte tão violenta.

—E então? — Jack na tentativa de apressar a história, mas Minerva pareceu não se importar com a falta de modos do garoto.

—Eu li em um livro uma vez que um trauma desse tamanho pode mudar completamente uma pessoa.

—Ok, mas como assim? — perguntou ele, inclinando levemente seu corpo para frente e apoiando os cotovelos nos joelhos. Malfoy fazia silencio, esperando que ela terminasse de contar a história para poder finalmente perguntar o que fazer agora.

—Rósea mudou tanto depois do trauma, que não conseguia mais se adaptar à sua vida antiga. Alguma coisa dentro dela estava quebrada. Ela sabia que alguma coisa nela estava diferente, mas ela não sabia dizer o que era. Ninguém sabia. Ela ficava lá, se sentindo deslocada, sentindo que ela não era mais ela mesma. — disse e fungou um pouco, pensando na possibilidade de isso estar acontecendo com Hermione. —Ela tentava voltar a ser como antes, mas não conseguia. Então o corpo dela começou a mandar sinais. Sua pele mudava. Seus olhos mudavam. Seu cabelo mudava. Seus gostos mudavam.

—E então? — Jack perguntou ansioso. Malfoy quase revirou os olhos, com vontade de dizer "cale a boca e deixe ela terminar a história".

—E então ela foi em médicos, em psicólogos, em curandeiros. Mas nada funcionava, ela não descobria o que estava acontecendo. Até que como último recurso, o diretor pediu que ela experimentasse o chapéu seletor mais uma vez.

—O que aconteceu? — perguntou Jack, mesmo sabendo a resposta.

—Ela foi para a Sonserina. — respondeu Malfoy, resumindo ao máximo a história para que ela terminasse logo e ele pudesse fazer suas perguntas.

—Exatamente. O chapéu não a reconheceu, e a partir de sua nova cabeça ela foi mandada para a Sonserina.

—Você disse que o cabelo dela mudava, a pele. Os olhos, que cor ficavam? — perguntou Jack.

—Verdes.

Malfoy e Jack se entreolharam e McGonagall dividia seu olhar entre os dois.

—O olho dela está mudando para verde, não está?

Malfoy confirmou com a cabeça.

—Vou mandar uma coruja ao ministério. Preciso de instruções nesse caso. — levantou-se de sua cadeira, assim como os dois rapazes. —Obrigada por virem até mim. Não preciso dizer que essa conversa é extremamente confidencial, e nada do que foi falado aqui deve sair desta sala, não é?

—Não senhora. — respondeu Malfoy.

—E por favor, não a tratem diferente até eu saber o que fazer. Isso dificultaria as coisas. O processo de mudança dela aconteceria mais intensamente.

Malfoy fez uma careta.

—O que você fez? — perguntou com preocupação.

—Meio que fugi dela.

McGonagall revirou os olhos e tornou a se sentar na cadeira. Essa foi a primeira vez que Malfoy a vira fazer um gesto do tipo.

—Por Merlin, Malfoy!

—Fiquei assustado. — se defendeu com um pouco de vergonha.

—Tenha senso: vocês quase tiveram um filho juntos! Como poderia esta mulher te assustar de alguma forma?

Ele só encolheu os ombros. Jack o encarou com as sobrancelhas arqueadas. Como assim "quase tiveram um filho juntos"?

—Pois trate de se desculpar, e trate-a bem até que eu tenha mais instruções.

—Avise-me quando souber o que fazer.

E os dois saíram da sala.

o Leão e a CobraOnde histórias criam vida. Descubra agora