Capítulo 1

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Ressaca era realmente uma droga como todos diziam, e não demorou muito para que eu percebesse isso, bastou apenas abrir os olhos. A luz que iluminava o quarto preencheu meu campo de visão e no mínimo movimento que fiz para virar a cabeça, senti como se ela estivesse prestes a explodir. Todo meu corpo se sentia estranho e os reflexos ainda lentos que eu demonstrava, me faziam questionar o quanto na verdade eu tinha bebido na noite passada. Acho que passei um pouco dos limites no meu aniversário.

Ignorando o gosto estranho na minha boca e a dor de cabeça horrível que me atormentava, puxei junto ao peito o lençol fino que me cobria e sentei, olhando ao redor.

Espera... eu conheço essa coleção de CDs. E não é minha. Nem os livros de direito e... droga, até o quarto era arrumado de mais para ser meu. Virei rapidamente para confirmar em cima do que - de quem - eu estava dormindo segundos antes.

- Ah, não, não, não - supliquei baixinho. - Só era o que me faltava.

Debrucei-me um pouquinho sobre ele como se o simples fato de seu rosto estar virado de perfil fosse o suficiente para que eu pudesse confundi-lo com outra pessoa. Mas era inegável e nem todas as orações do mundo poderiam mudar o fato de que o homem dormindo do meu lado era o meu ex-namorado.

Porcaria.

Levantei o mais cuidadosamente possível, aproveitando-me do seu sono pesado intensificado pela bebedeira - sim, ele deve ter bebido tanto quanto eu, porque Deus e o mundo sabem que de outra forma não estaríamos na situação que estamos agora se não fosse por isso - e apanhei do chão cada uma das minhas peças de roupa. Francamente, eu estava completamente nua. Nem mesmo se quisesse poderia entrar em negação sobre o fato de termos transado ontem a noite.

Enquanto me vestia procurei lembrar de cada detalhe da noite passada.

Era meu aniversário de dezoito anos e eu estava com raiva da minha mãe por termos brigado de novo. Sempre pelo mesmo motivo estúpido. Tinha combinado com uns amigos - incluindo Evandro, meu ex, o homem sobre quem eu estava deitada momentos antes - de irmos comemorar na Egoist, a casa noturna que meu irmão, Nícolas, e outros dois amigos, abriram em sociedade a uns meses atrás. Mas eu estava com raiva e não queria o meu irmão me policiando a noite inteira, então fizemos uma mudança de planos e fomos numa concorrente. Nícolas apenas não foi atrás de mim porque estava ocupado no trabalho, mas me ligou e me fez garantir que não faria besteira. Bem, aparentemente fiz a promessa, mas a quebrei em tempo recorde. Lembro-me de dançar muito e começar a beber. Lembro de ter sido mais amigável do que deveria com Evandro. Mas depois disso a noite foi um borrão.

Amarrei meu cabelo em um nó e peguei minha bolsa, então saí nas pontas dos pés, sendo duplamente cuidadosa ao puxar a porta do quarto, que já estava aberta.

O lado bom de tudo isso? Ele morava sozinho, sendo assim eu não seria obrigada a fazer a caminhada da vergonha tendo sua família como plateia. O lado ruim era todo o resto.

A culpa me abateu assim que cheguei a sala. Encarei a porta que me daria liberdade por apenas um instante antes de jogar minha bolsa no sofá e ir em direção a cozinha.

Que tipo de garota eu seria se saísse assim sem nem dizer nada? Sem me certificar de que ele está bem?

Enchi até a metade dois copos de água e voltei para o quarto, logo indo ao seu banheiro, onde peguei duas aspirinas no armário de remédios, engolindo uma delas com um pouco de água. Só aí reuni coragem para ir até ele.

- Van, acorda - sentei na cama ao seu lado, toquei seu ombro e o chacolhei de leve. - Evandro? - empurrei-o com um pouco mais de insistência.

- Charlote? - ele perguntou alguns segundos depois, ao abrir os olhos. - O que você...? - fez uma leve careta de dor e levou uma mão a cabeça. - Merda.

- Eu sei - falei, compartilhando sua dor. - Você vai precisar disso.

Empurrei o copo e a aspirina em sua direção. Evandro sentou, revelando ainda mais de seu corpo esculpido, mal coberto com o lençol e tanto isso, quanto nossa proximidade enviou fogo ao meu rosto.

- Você está ficando vermelha - ela disse, logo antes de jogar o comprimido na boca e tomar um gole de água.

- Bem, você não pode me culpar por isso - falei me levantando.

Com os braços cruzados, observei enquanto ele apertava o copo na mão, pensando.

- Nós fizemos besteira, não foi? - perguntou cuidadosamente, um leve franzir em sua testa.

- É o que parece - meu rosto deve ter se tingido ainda mais de vermelho, porque um sorrisinho começou a curvar seus lábios. - Não que isso deva mudar as coisas - acrescentei e o sorriso desapareceu. - Você sabe, nossa amizade. O que aconteceu foi... um erro.

- Ah - disse devagar, desviando os olhos de mim. - Um erro. Claro - ficamos num silêncio desconfortável por um instante, até que ele voltou a falar. - Seu irmão vai me matar.

Mordi o lábio, e neguei com a cabeça.

- Ele não. Mas a minha mãe vai me matar - comecei a recuar em direção a porta. - E é por isso que...

- Char - falou e lancei-lhe um olhar suplicante.

- Van, eu já vou, tá bom?

Não esperei que ele respondesse, corri para fora do seu quarto. Quase como que por reflexo peguei minha bolsa no sofá e saí rapidamente de seu apartamento.

Já no elevador, vasculhei a bolsa a procura do meu celular. Dezessete ligações perdidas - algumas da minha mãe - e cinco mensagens. A última delas era de Camila, uma das minhas amigas.

Coloquei vc e o Evandro dentro de um táxi ontem, caso não se lembre.

Vcs, ñ queriam se desgrudar, então ñ pude fazer nada sobre isso, mas disse a sua mãe que você ia dormir na minha casa.

O Nick ligou pra mim perguntando onde vc tava e porque não atendia o celular, então tive que contar o que aconteceu, não fique com raiva de mim, certo?

Bjos, Mila.

Três das mensagens de Nícolas eram semelhantes umas as outras e perguntavam onde eu estava - deveriam ter sido de antes de ele falar com Camila - mas a última era completamente diferente, dizia:

É, maninha... Você com certeza vai se arrepender disso amanhã.

Saí do prédio com vontade de chorar. Ele tinha razão. Eu já estava completamente arrependida.

Aos 18 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora