Ressaca era realmente uma droga como todos diziam, e não demorou muito para que eu percebesse isso, bastou apenas abrir os olhos. A luz que iluminava o quarto preencheu meu campo de visão e no mínimo movimento que fiz para virar a cabeça, senti como se ela estivesse prestes a explodir. Todo meu corpo se sentia estranho e os reflexos ainda lentos que eu demonstrava, me faziam questionar o quanto na verdade eu tinha bebido na noite passada. Acho que passei um pouco dos limites no meu aniversário.
Ignorando o gosto estranho na minha boca e a dor de cabeça horrível que me atormentava, puxei junto ao peito o lençol fino que me cobria e sentei, olhando ao redor.
Espera... eu conheço essa coleção de CDs. E não é minha. Nem os livros de direito e... droga, até o quarto era arrumado de mais para ser meu. Virei rapidamente para confirmar em cima do que - de quem - eu estava dormindo segundos antes.
- Ah, não, não, não - supliquei baixinho. - Só era o que me faltava.
Debrucei-me um pouquinho sobre ele como se o simples fato de seu rosto estar virado de perfil fosse o suficiente para que eu pudesse confundi-lo com outra pessoa. Mas era inegável e nem todas as orações do mundo poderiam mudar o fato de que o homem dormindo do meu lado era o meu ex-namorado.
Porcaria.
Levantei o mais cuidadosamente possível, aproveitando-me do seu sono pesado intensificado pela bebedeira - sim, ele deve ter bebido tanto quanto eu, porque Deus e o mundo sabem que de outra forma não estaríamos na situação que estamos agora se não fosse por isso - e apanhei do chão cada uma das minhas peças de roupa. Francamente, eu estava completamente nua. Nem mesmo se quisesse poderia entrar em negação sobre o fato de termos transado ontem a noite.
Enquanto me vestia procurei lembrar de cada detalhe da noite passada.
Era meu aniversário de dezoito anos e eu estava com raiva da minha mãe por termos brigado de novo. Sempre pelo mesmo motivo estúpido. Tinha combinado com uns amigos - incluindo Evandro, meu ex, o homem sobre quem eu estava deitada momentos antes - de irmos comemorar na Egoist, a casa noturna que meu irmão, Nícolas, e outros dois amigos, abriram em sociedade a uns meses atrás. Mas eu estava com raiva e não queria o meu irmão me policiando a noite inteira, então fizemos uma mudança de planos e fomos numa concorrente. Nícolas apenas não foi atrás de mim porque estava ocupado no trabalho, mas me ligou e me fez garantir que não faria besteira. Bem, aparentemente fiz a promessa, mas a quebrei em tempo recorde. Lembro-me de dançar muito e começar a beber. Lembro de ter sido mais amigável do que deveria com Evandro. Mas depois disso a noite foi um borrão.
Amarrei meu cabelo em um nó e peguei minha bolsa, então saí nas pontas dos pés, sendo duplamente cuidadosa ao puxar a porta do quarto, que já estava aberta.
O lado bom de tudo isso? Ele morava sozinho, sendo assim eu não seria obrigada a fazer a caminhada da vergonha tendo sua família como plateia. O lado ruim era todo o resto.
A culpa me abateu assim que cheguei a sala. Encarei a porta que me daria liberdade por apenas um instante antes de jogar minha bolsa no sofá e ir em direção a cozinha.
Que tipo de garota eu seria se saísse assim sem nem dizer nada? Sem me certificar de que ele está bem?
Enchi até a metade dois copos de água e voltei para o quarto, logo indo ao seu banheiro, onde peguei duas aspirinas no armário de remédios, engolindo uma delas com um pouco de água. Só aí reuni coragem para ir até ele.
- Van, acorda - sentei na cama ao seu lado, toquei seu ombro e o chacolhei de leve. - Evandro? - empurrei-o com um pouco mais de insistência.
- Charlote? - ele perguntou alguns segundos depois, ao abrir os olhos. - O que você...? - fez uma leve careta de dor e levou uma mão a cabeça. - Merda.
- Eu sei - falei, compartilhando sua dor. - Você vai precisar disso.
Empurrei o copo e a aspirina em sua direção. Evandro sentou, revelando ainda mais de seu corpo esculpido, mal coberto com o lençol e tanto isso, quanto nossa proximidade enviou fogo ao meu rosto.
- Você está ficando vermelha - ela disse, logo antes de jogar o comprimido na boca e tomar um gole de água.
- Bem, você não pode me culpar por isso - falei me levantando.
Com os braços cruzados, observei enquanto ele apertava o copo na mão, pensando.
- Nós fizemos besteira, não foi? - perguntou cuidadosamente, um leve franzir em sua testa.
- É o que parece - meu rosto deve ter se tingido ainda mais de vermelho, porque um sorrisinho começou a curvar seus lábios. - Não que isso deva mudar as coisas - acrescentei e o sorriso desapareceu. - Você sabe, nossa amizade. O que aconteceu foi... um erro.
- Ah - disse devagar, desviando os olhos de mim. - Um erro. Claro - ficamos num silêncio desconfortável por um instante, até que ele voltou a falar. - Seu irmão vai me matar.
Mordi o lábio, e neguei com a cabeça.
- Ele não. Mas a minha mãe vai me matar - comecei a recuar em direção a porta. - E é por isso que...
- Char - falou e lancei-lhe um olhar suplicante.
- Van, eu já vou, tá bom?
Não esperei que ele respondesse, corri para fora do seu quarto. Quase como que por reflexo peguei minha bolsa no sofá e saí rapidamente de seu apartamento.
Já no elevador, vasculhei a bolsa a procura do meu celular. Dezessete ligações perdidas - algumas da minha mãe - e cinco mensagens. A última delas era de Camila, uma das minhas amigas.
Coloquei vc e o Evandro dentro de um táxi ontem, caso não se lembre.
Vcs, ñ queriam se desgrudar, então ñ pude fazer nada sobre isso, mas disse a sua mãe que você ia dormir na minha casa.
O Nick ligou pra mim perguntando onde vc tava e porque não atendia o celular, então tive que contar o que aconteceu, não fique com raiva de mim, certo?
Bjos, Mila.
Três das mensagens de Nícolas eram semelhantes umas as outras e perguntavam onde eu estava - deveriam ter sido de antes de ele falar com Camila - mas a última era completamente diferente, dizia:
É, maninha... Você com certeza vai se arrepender disso amanhã.
Saí do prédio com vontade de chorar. Ele tinha razão. Eu já estava completamente arrependida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aos 18 [Completo]
ChickLitBastou apenas uma noite para que sua vida mudasse ainda mais... Em seu aniversário de 18 anos, Charlote sai com alguns amigos para uma noite na balada. Ela estava com raiva, tinha acabado de ter mais uma briga com a mãe, mas não esperava que fosse s...