Capítulo 6

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Nossa, ainda bem que eu disse "provavelmente" e não "com certeza" que o capítulo sairia ontem, porque eu tava tão cansada que nem tive tempo de terminá-lo, mas aqui está. Acabei de terminar de escrever e revisar, espero que gostem. 😊

🍎🍎🍎

De certo modo, foi um milagre fazer Evandro aceitar a ideia de que deveria me deixar sozinha com Camila e ir para casa. Eu sei, não sou exatamente de confiança já que não tinha contado nada para ele antes, mas não seria tão cara de pau a ponto de mentir ou esconder o resultado dos testes. Queria apenas chamar o mínimo de atenção possível e Camila já estava nervosa o suficiente, deixá-lo ficar lá seria o mesmo que gritar para quem quisesse ouvir que algo estava errado.

Van tinha comprado dois tipos diferentes de teste enquanto eu esperava dentro do carro e agora, sentada de frente para mim na cama, minha amiga franzia a testa, preocupada, enquanto segurava um deles.

— Amiga — murmurou, olhando em direção a porta de seu quarto e depois para mim. —, eu não queria estar na sua pele. Nem é comigo e já estou morrendo de ansiedade.

Mesmo que estivéssemos falando baixinho e a porta estivesse trancada a chave, ela ainda estava meio neurótica já quem seus pais se encontravam em casa e esse assunto devia ser mantido em segredo. Ninguém poderia ouvir em hipótese alguma.

— Ainda é muito cedo pra começar a pensar nas minhas últimas palavras? — perguntei e olhei para o teto, um pouquinho desesperada. — Porque se eu estiver mesmo grávida, acho que o Nick e a minha mãe vão disputar o primeiro lugar na fila de quem vai me matar primeiro.

Ao voltar a olhar para ela, notei sua expressão ainda mais desanimada.

— Já pensou no que vai fazer se der positivo? — questionou, inclinando-se um pouco para frente.

Dei de ombros.

— Mais ou menos.

— Mais ou menos?! — repetiu incrédula, aumentando o tom de voz. Arregalando os olhos, tapou a boca com as mãos, como se tivesse acabado de contar um segredo de estado. — Olha, eu sei que é muito pra assimilar, mas isso é sério, você sabe — disse depois.

Sorri um pouquinho.

— É meio cômico que logo você esteja tentando enfiar juízo na minha cabeça. De novo.

— E eu não sei? — Mila riu, mas logo estava séria novamente. Ela pegou os testes de gravidez e estendeu para mim, no pequeno espaço entre nós. — E melhor ir. Se continuarmos enrolando, não vamos chegar a lugar nenhum. Vai.

Assenti para ela, meus olhos se enchendo rapidamente de lágrimas e os peguei.

🍁🍁🍁

Positivo.

A palavra se repetia em minha mente como uma sentença de morte.

Positivo.

Eu já estava olhando em silêncio para os testes sem realmente vê-los a uns três minutos quando Camila bateu na porta do banheiro, suavemente.

— Char? Você já sabe? — sua voz atravessou a porta, baixinha, sutil.

Toquei uma mão na parte baixa de meu ventre, emocionada por agora ter certeza de que havia uma vida ali dentro. Um bebê. Meu.

Mas o que eu faço agora?

Não que eu realmente não tivesse uma ideia do que fazer, mas o pensamento foi inevitável. Tenho dezoito anos e acabei de concluir o ensino médio. Mal me decidi que faculdade vou fazer e já vou ser mãe. Isso é tão… Deus, que estranho. E lindo. E errado…

— Charlote?

Não, não é um erro. Ele não tem culpa pela minha irresponsabilidade.

Camila abriu a porta repentinamente e eu pulei assustada.

— Deu positivo, não é?

Assenti em silêncio e ela abriu os braços para mim. Me aproximei e deixei que seus braços me envolvessem, aceitando todo o apoio que ela me oferecia.

🍁🍁🍁

Comemore! Você vai ser papai!

— Mila, quando eu pedi pra escrever uma mensagem pro Van, não era todo esse otimismo todo que eu tinha em mente — eu disse, apagando a mensagem na caixa de texto e digitando uma outra eu mesma.

Deu positivo.
Por favor, não venha aqui e nem tente falar comigo agora, ainda estou tentando assimilar tudo isso.
Conversamos depois.

Enviei, desligando o celular logo depois.

— Tentar ser otimista nos momentos mais críticos é bem melhor do que ficar com cara de enterro — contradisse apertando o travesseiro em seus braços.

— Não é cara de enterro, é o realismo batendo com força na minha cara, só isso. Eu não estou triste, é só… difícil. Me sinto um pouco perdida, sabe? E com medo. Mas ao mesmo tempo estou feliz e achando isso tudo tão incrível…

Suspirei.

— Não precisa ficar com medo — me tranquilizou. — Tenho certeza de que o Evandro vai assumir a responsabilidade, você não tá sozinha nessa. E eu vou te apoiar também. O Tiago e o Nícolas… depois que a raiva passar. E talvez a sua mãe.

— Acho difícil. Ela vai querer que eu me case com o Van.

— Mas…

— Mila, eu não seria feliz se casasse com ele. Essa é a mais pura verdade. A família dele faria da minha vida um inferno por eu ser “de baixo nível” e ainda tem… bem, eu quero que ele assuma a criança, mas não existe a mínima possibilidade de voltarmos.

— Você ainda o ama, não deveria deixar a família dele tirá-lo de você — ela parecia triste.

— Esse amor diminui cada vez mais a cada dia que passa — afirmei, encolhendo-me mais na cama. — Está morrendo e não a nada que eu queira fazer para parar isso. É como se fosse uma grande piada do destino, Mila. Eu tentando deixar tudo no passado e então algo acontece para que eu nunca consiga. Mas eu não me importo de ser mãe solteira se tiver vocês me apoiando. Eu vou amar esse bebê e cuidar dele como a minha mãe nunca fez por mim ou pelo Nick. Eu já disse, não quero e nem vou ter a vida dela, que é tudo que eu não quero ser. Não sei como as coisas serão daqui pra frente, mas vou fazer de tudo pra ser feliz com essa criança, amiga.

A ouvi fungar e quando a olhei vi que tinha lágrimas em seus olhos. Ao que parecia, minha instabilidade emocional era contagiosa.

— Não se preocupe, como eu disse, você não tá sozinha. Esse bebê vai ser feliz, Char. Vou te ajudar no que puder pra que isso aconteça. É pra isso que servem as amigas, não é? — sorriu e passou as mãos nos olhos para afastar as lágrimas. Observei isso por entre meus próprios olhos borrados. — Agora dorme. Você teve um longo dia, precisa descansar.

Assenti e fechei os olhos, murmurando um “obrigada” e sentindo um pequeno sorriso se formar em meus lábios. As palavras dela eram, para mim, a promessa de que tudo valeria a pena.

Aos 18 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora