Capítulo 10

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O medo estava me consumindo.

— Hoje ela só dá aulas pela tarde. Acho que ainda está em casa — comentei, consciente de que Nícolas já devia saber disso.

— É verdade — ele disse. — É melhor entrarmos. Se ficarmos muito tempo estacionados aqui fora ela pode sair e nos ver. Acho que um escândalo público é a última coisa que precisamos agora. Vamos acabar com isso.

Nick saiu do carro e eu fiz o mesmo logo depois, observando cada movimento seu. O andar confiante, a expressão meticulosamente inexpressiva. Diferente de mim, ele é perfeito. Consegue se controlar. O único problema é que eu sei que ainda que não pareça, a dor ainda está ali. Para mim que o conheço tão bem, ela é nada mais do que nítida. E é por isso que não posso deixar de culpar minha mãe. O que restou da nossa família depois que meu pai partiu, se destrói mais a cada dia que passa e não me restam dúvidas de que a partir de hoje poderemos chegar ao um lugar de onde não há mais volta. O fio tênue que sustenta tudo que nos restou, poderá ser partido para sempre.

Parecia que os nervos da minha mão tinham se enrijecido ao ponto de ela não poder mais se mover.

— Certifique-se de tentar não gritar — Nícolas disse baixinho ao pôr a mão sobre a minha e girar a maçaneta.

Ele me empurrou de leve para dentro de casa e fechou a porta atrás de nós, então me devolveu a chave.

— Charlote, você chegou?! — mamãe gritou da cozinha. Antes mesmo que pudesse me preparar, ouvi seus passos se aproximando. — Venha me ajudar a…

Suas palavras cessaram.

Vestindo um avental e secando as mãos com um pano de prato, ela permaneceu parada na porta que ligava a cozinha a sala, seu olhar se tornando mais frio do que normalmente é. O que estava por vir era nada menos do que eu e Nícolas esperávamos.

— Saia!

— Mãe…

— Cale-se, Charlote. Eu não o quero aqui.

— Eu não me importo com o que você quer ou deixa de querer, dona Maura — disse Nick. — Só estou aqui pela Char. Quando eu souber que tudo foi resolvido, sairei daqui com o maior prazer, não se preocupe.

— O que pensa que está fazendo, filha? Você sabe muito bem que ele não é mais bem-vindo nessa casa, como se atreve a…

— Ao menos por um minuto será que dá pra calar essa boca? — perguntei agressivamente. Ela não pareceu surpresa, nossas brigas já eram constantes demais para que algo assim pudesse surpreendê-la.

— Eu não tenho nada pra falar com ele. Pensei ter deixado isso muito claro antes — dando-nos as costas ela voltou para a cozinha.

Olhei para Nick, ainda fervendo de raiva.

— Não faça essa expressão, é um desperdício do seu rostinho bonito. E não tente pedir desculpas por ela — me avisou antes que eu pudesse sequer abrir a boca. Ele suspirou e seus olhos se suavizaram ainda mais. — Vou rapidinho no seu quarto pegar algumas roupas suas. Hoje você não vai dormir aqui, então tente terminar a sua conversa com ela o mais pacificamente possível. Tente se controlar, Charlote. Você se estressa muito facilmente e isso pode fazer mal para o bebê. Pra melhor ou pra pior, eu sempre vou estar aqui por você.

Me senti grata. Sempre que precisei, Nick esteve lá por mim e ainda que suas palavras pudessem ser rudes uma vez ou outra, era um fato inegável que, se fosse para o meu bem, ele sempre me apoiava. Não havia uma forma simples de agradecer por isso.

Okay.

Assim que ele foi para o meu quarto, me mostrando um frágil sorriso encorajador, segui em direção a cozinha, me aventurando a chegar próximo ao balcão onde minha mãe estava dando continuidade aos preparativos para o almoço. O silêncio pesou sobre nós durante um minuto inteiro antes que alguma palavra fosse dita.

Aos 18 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora