Capítulo 2

11.2K 884 38
                                    

A casa de Camila ficava a apenas dois quarteirões do prédio onde Evandro morava e já que ela tinha dito a minha mãe que eu dormiria lá, foi para onde corri de qualquer maneira.

— Você está péssima — ela disse assim que abriu a porta e me puxou para dentro. Seus olhos castanhos claros me avaliaram enquanto ela enrolava uma mecha do cabelo loiro ao redor do dedo. Assentiu como se estivesse concordando consigo mesma e me pegou pelo pulso. — Vem, você precisa de um banho, apesar de que suspeito que esse possa ter sido um dos itens de diversão ontem a noite, e de café da manhã.

— Mila! — exclamei horrorizada.

— O que? — me olhou inocentemente. — Vai dizer que vocês não transaram?

Fiquei calada e a ouvi resmungar "quem cala consente" enquanto nos dirigíamos ao seu quarto.

— Papai saiu agora a pouco pro trabalho e a minha mãe está na cozinha fofocando com a vizinha que acabou de se mudar pra casa aí do lado e aparentemente sua nova melhor amiga, então ninguém vai nos atrapalhar — sentou-se na cama e me encarou com os braços cruzados. — O banheiro é todo seu, madame, mas depois que terminar você vai comer alguma coisa e vai me contar o que você tinha na cabeça para que deixasse tudo isso acontecer.

Assenti, embora não estivesse nem um pouco animada com isso e deixei minha bolsa com ela.

Escovei os dentes sem pressa, mas feliz por finalmente poder tirar aquele gosto horrível da boca e enrolei ainda mais no banho. Camila ia querer me dar lição de moral, ainda que mesmo ela não fosse uma santa, o que não me deixava nem um pouco ansiosa para sair logo do banho. Mas tive que fazê-lo que qualquer forma. As únicas peças de roupa que eu usava era a lingerie da noite anterior, mas havia uma toalha enrolada em volta do meu corpo e outra nos cabelos.

— Separei esse vestido pra você — disse Camila apontando a peça de roupa sobre sua cama. — E nem olhe pra mim assim! Talvez fique um pouco curto, mas é muito melhor do que as suas roupas, elas estão cheirando a...

— Tudo bem, eu visto — interrompi, sentando na cama e me recostando na cabeceira. — Mas depois. Pode começar a falar, eu sei que você quer.

— Nossa, obrigada por me dar permissão! — exclamou irônica e bateu uma palma contra a outra. — Espere um instantinho, eu já volto.

Fechei os olhos e bati a cabeça de leve contra a cabeceira da cama, o que me fez gemer baixinho de dor. A dor de cabeça tinha melhorado um pouco, o banho e o remédio tinham ajudado, mas eu ainda não estava me sentindo nenhuma maravilha. O tempo que Camila passou pra voltar foi o suficiente para que eu pudesse me culpar e me chamar mentalmente de irresponsável uma centena de vezes, mas aí ela chegou e fez isso por si mesma.

— E então, garotinha irresponsável, já ligou pro seu irmão? — ela me ofereceu um prato com um sanduíche e dois pedaços de bolo e me passou um copo de suco de laranja.

— Não — respondi com tom culpado. — Ainda não tive coragem.

Camila sentou ao meu lado.

— Sua mãe ligou faz mais ou menos meia hora e eu tive que dizer que você ainda estava dormindo. Provavelmente ela não acreditou em mim, mas deve pensar que é só que você não quer falar com ela.

— Eu não quero falar com ela — falei erguendo uma fatia de pão para examinar o que exatamente ela tinha posto no sanduíche. Satisfeita por não encontrar nenhum item estranho, diferentemente de algumas outras vezes, dei uma mordida.

— Olha, eu não quero bancar a chata — falou pegando um dos pedaços de bolo para si —, mas isso de ser irresponsável e ficar bêbada é coisa minha, não combina com você. Está definitivamente proibida de fazer algo assim novamente, ouviu? Você me deixou preocupada ontem, não quis vir pra casa comigo de jeito nenhum. Sei que eu deveria ter insistido mais, mas poxa, Char, você é tão cabeça dura as vezes que chega a ser irritante.

— Desculpe — suspirei.

— Além disso... — inclinou a cabeça para cima, como se estivesse pensando em como, ou se, deveria dizer algo. — Você parecia feliz pra caramba — disse por fim. — Com ele. Mas talvez fosse só a bebida falando.

Depois disso nenhuma de nós disse mais nada enquanto comíamos silenciosamente, cada uma com seus pensamentos.

Eu entendo porque Camila se preocupa e que ela quer nos ver juntos novamente, mas Evandro e eu simplesmente não damos mais certo como um casal. Devíamos continuar como amigos agora e esse era o nível máximo em que deveria ficar nossa relação. Uma recaída não ia mudar isso.

— A primeira vez que você tomou um porre e já acordou na cama do seu ex — Camila quebrou o silêncio. — Eu não sei se isso é triste ou cômico.

— Voto na primeira opção — eu disse me levantando e deixando o prato sobre a cama.

Peguei o vestido e corri novamente para o banheiro para me trocar. Já vestida, voltei penteando com os dedos meus cabelos agora soltos. Um olhar para Camila e eu sabia que havia algo mais a preocupando.

— Mila, eu juro, não importa com o quanto de raiva eu estiver, não vou fazer isso novamente. Já senti na pele as consequências de fazer coisas idiotas desse tipo.

— Não é isso — negou rapidamente.

— Não?

— Bem, sim — contradisse confusa. — É que... — me encarou, apertando os lábios com força e sacudiu a cabeça negativamente. — Char — disse e respirou fundo —, eu sei que essa é uma pergunta totalmente pessoal, mas você sabe que eu não sou a pessoa mais sutil e educada, além de ser uma amiga que se preocupa muito com você, então... vocês usaram proteção, né?

***

Olá, gente!

Obrigada por terem lido até aqui :)

Se gostou, que tal deixar seu votinho e comentário? Me ajudaria muito, porque isso faz com que a visibilidade melhore e que outras pessoas conheçam a história e me deixaria muito feliz. Quero muito saber a opinião de vocês pra saber se fiz tudo certinho.

Próximo capítulo dia: 26/04 (Terça-feira)

Bjos e até a próxima!

Aos 18 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora