Fire

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Conhecendo a infância conturbada de Adaira.





Todas as pessoas falam que algum momento é melhor ficar só.

Deve ser até bom, por que tipo, sofrer calada sem ter que dar satisfações a ninguém deve ser maravilhoso.

Pena que eu nunca havia tido essa oportunidade.

Desde pequena eu me sentia como se estivesse sendo observada, contei para papai e mamãe, mas eles apenas me olharam com aquele semblante de reprova e mandavam-me ir para o meu quarto, minutos depois podia-se ouvir gritos por toda a casa.

Eles estavam discutindo por minha causa.

De novo.

Minha irmã mais velha sempre me culpava por isso. Ela estava certa...

Sempre adorei desenhos, normal, como toda criança – e alguns adultos – gosta. Mas tinha um que sempre me chamava mais atenção, Garsparzinho.

Sim, ele era incrível, o considerava meu herói favorito, nunca quis ser igual a ele, mas toda noite desejava em meu íntimo ter um amigo como ele.

Tolo pedido.

Era quase meia noite, em breve completaria oito anos, quando estava sentada de pernas cruzadas na cama lendo escondido Lágrimas de Sangue no Wattpad.

Olho para o meu lado esquerdo e visualizo meu reloginho que fazia de morada meu criado mudo.

Meia noite em ponto.

Levanto-me e vou até a janela observar as estrelas, logo vejo uma se deslocar, é uma estrela cadente, fecho os olhos e faço meu desejo.

-- Desejo, do fundo da minha alma, um amigo fantasminha! – disse apertando as mãos no coração.

--Mas você já tem um amigo fantasma. – uma voz próxima a mim disse.

Me assustei e abri os olhos dando alguns passos para trás.

Senti meus olhos brilharem de expectativa. Tinha um rapaz alto e bonito na minha frente, ele era louro dos olhos verdes.
Era lindo e tinha mais, ele era quase translúcido.

--Gazparzinho? – perguntei esperançosa.

Será que eu ganhei os Gasparzinho de presente?

-- Não Adaira, não sou. – o sorriso que eu sustentava no rosto murchou na hora. – Sou muito melhor, sou real. – e magicamente meu sorriso reapareceu.

Você vai ser meu amigo?

-- Mas é claro que vou, pequeno anjo.

-- Vou ter que te dividir com Aline? Minha irmã?

Não posso dividi-lo com ela, eu o encontrei primeiro. Ele é meu.

Seus lábios finos e delicados curvaram-sem em um breve sorriso que foi se apliando ainda mais.

-- Não, claro que não. – disse rindo. – Eu sou todinho seu.

Sorri ainda mais, mas o fantasma ficou olhando para mim de um modo estranho, seu sorriso morrendo aos poucos, parecia... Parecia que ele queria dizer-me algo, e as lágrimas que brotavam lentamente em seus olhos me angustiou.

Não sabia o que estava acontecendo, mas era algo que resplandecia em minha alma.
Algo estremamente maravilhoso e tristemente angustiante. De repente ele  olhou para algo atrás de mim, com uma expressão que mais me parecia uma careta, me virei, mas não vi nada de diferente.

Olhe-me, AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora