Capítulo Sete

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"Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira
Dá?"

Mário Quintana

-- Entre logo. – o professor Luck disse com cara de poucos amigos. – Antes que eu me arrependa de não o ter deixado lá fora.

Quando sai de casa essa manhã, depois da noite terrivelmente confusa que tive, não vi Mike em lugar algum, até perguntei a minha mãe se ele ainda estava lá e ela somente assentiu, tratando de desviar logo do assunto, me perguntou onde estava Ross, pois não o tinha visto desde que chegara do trabalho na noite passada, além de seu quarto estar do mesmo jeito que nossa auxiliar costuma deixar. Resumindo, ele não dormiu em casa.

De novo.

Acabei por dizer que achava que ele estava na casa de sua nova namorada.

-- Não sei, não, mãe, mas eu acho que esse assunto de namorada está meio estranho. – lembro-me de dizê-la antes de me despedir com um beijo e ir andando a pé para a escola.

Odiava ter que mentir para minha mãe, mas eu sabia que Ross esteve em casa nessa madrugada, mas, aparentemente, ele tinha sumido novamente.

Me deligo dos meus pensamentos quando noto que a sala está silenciosa demais.

Olho para Mike e observo seus lindos olhos verdes brilharem de um modo diferente.

Talvez até macabro, diria eu.

Ele deu apenas um sorriso sarcástico a Luck, sorriso esse que não combinava em nada com seu rosto angelical e arrumou sua mochila verde escura nos ombros.

Depois de ter entrado como um furacão na sala de aula e feito uma espécie de piada sem humor com o novo – e belo -- professor de biologia, o rapaz louro veio até mim, me dando um beijo estalado no topo da cabeça, logo após indo se sentar no lugar vazio ao meu lado.

Todos na sala me olharam com um olhar de espanto, não acreditando realmente no que viam.

Bom, nem eu acreditava.

-- Espero que não me falte com respeito novamente, caro colega, não esqueças que sou seu superior. – o professor disse calmamente mirando Mike nos olhos enquanto esse se enfurecia ao meu lado.

Aparentemente ele estudaria na mesma classe que eu, apesar de ser mais velho. E ter me dito que veio a cidade apenas a negócios, e apenas por um tempo.

Detalhe:

Não aceitava que lhe afirmassem que era inferior.

Ninguém se atrevia murmurar algo, estávamos todos centrados ao que estava acontecendo ao nosso redor, quando de repente eu senti que Mike ia se levantar e dar-lhe uma resposta afiada e começar uma discussão.

Tudo passava muito rápido, as imagens como num filme velho. A iluminação parecia algo mais brilhante, de um branco incandecente.

Não conseguia compreender a ordem dos acontecimentos.

As vidraçarias começaram a tremer e a rachar em alguns pontos, os alunos corriam e se amontavam na porta tentando fugir de qual for a loucura que estivesse acontecendo ali.

Palavras desconexas eram gritadas tanto por Luck quanto por Mike, esses, já no chão, distribuindo socos entre si, enquanto uma nuvem coloria se instaurava no ar.

A cena era tão familiar a mim, que eu sentia que eu realmente já tinha presenciado algo assim.

Sinto uma pontada de dor no peito e o ar foge de meus pulmões.

Olhe-me, AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora