Capítulo Dois

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Quando dou por mim estou aos gritos, agachada do outro lado do corredor.

Os soluços irrompem por minha garganta e as lágrimas descem como duas cascatas sem fim por meus olhos.

Tento parar de gritar para entender o que está acontecendo para que ninguém me ouça e venha ver isso, o que é bem improvável, já que as salas ficam do outro lado do prédio e ninguém que estaria lá seria capaz de ouvir a essa distância, e tem mais, eles podem achar que fui eu... Posso ser acusada injustamente de ter feito isso. De ter...

De ter o matado.

Mas, se eu não contar a ninguém, o que eu faço?

E agora?!

Socorro!

Encaro, com os olhos embaçados de lágrimas ainda não derramadas o vendo à minha frente.

E aquela cabeça me encara de volta.

Se trata de um homem, que aparenta ter pouco mais de cinquenta anos. Os cabelos, agora bagunçados e machados de vermelho parecem ser um pouco grisalhos, e sua boca recurvava-se de um jeito assombroso

Bem, ele tinha pouco mais de cinquenta. Talvez.

Aqueles olhos opacos e sem vida estão focados de um modo macabro em mim, e aquele sangue...

E a palavra que formou...

Mas quem poderia...?

E o que queria comigo?

Droga, por quê eu?

-- Adaira! -- alguém grita meu nome quando percebo que estava começando a gritar desesperadamente de novo.

Não tenho coragem de me virar e ver quem é.

Só espero que os gritos sobre como aquilo foi parar ali comecem logo e,  junto com eles, toda a confusão que acarretará.

Mas eles não vem.

Sinto um toque gentil em meu ombro e me arrepio, é como se...

Uma corrente elétrica atravessace meu corpo.

Arrisco olhar para cima e me surpreendo ao ver de quem se trata.

É o cara dos olhos azuis-gelo que esbarrei no portão hoje.

-- O que está acontecendo? -- pergunta-me calmamente. -- Por que você está gritando? Está tudo bem com você?

Balanço a cabeça que não e aponto meu dedo trêmulo para o local próximo ao meu armário.

Fecho os olhos com força tentando evitar que novas lágrimas caiam e o ouço respirar fundo perto de mim.

Como se não acreditasse também no que visse.

-- Eu não fiz nada, não fiz nada! -- murmuro puxando meus cabelos.

Ninguém acreditaria em mim!

A não ser que...

- Não tem nada aqui, anjo.

O quê?

Abro os olhos o encarando e depois olhando para onde deveria estar uma cabeça toda ensanguentada de um homem.

Sim, deveria, pois não está lá mais.

- Mas o quê...? -- não termino minha pergunta/exclamação.

Tudo tinha simplesmente desaparecido, não havia nem sequer resquícios de sangue.

Será possível que foi tudo fruto da minha imaginação?

Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos tempestuosos.

Eu vi.

Tenho certeza do que vi.

- Não, estava aqui, você não viu? -- pergunto.

Ele franze um pouco o cenho, mas nada diz.

Encaro isso como um não.

-- Me desculpe, eu acho que só... - penso em uma desculpa digna enquanto me levanto ainda trêmula, escorando na parede que a pouco escorou minhas costas e caminho quatros passos pra frente, o medo e a confusão ainda estampados em meu rosto, fecho a porta -sem sange algum- com as pontas dos dedos e seco meu rosto.

Olho em seus olhos, mas assim que começo a falar, os desvio.

-- Não tenho dormido direito. Devo ter cochilado e tido algum pesadelo.

Minto descaradamente.

Não consegui mentir olhando em seus olhos, e sei, de alguma forma eu sei que ele percebeu, claramente até, que eu menti.

Mas de forma alguma conseguiria explicar o que aconteceu. Era mais que algo louco.

Era surreal.

Ele se levanta e me encara, mas finjo que não percebo.

Ele se aproxima de mim e me afasto delicadamente, a situação está constrangedora.

-- Adaira, nada aconteceu. -- fala ele com aquela voz aveludada e rouca.

Respiro fundo e tento entender as emoções conflitantes que estão tomando conta de mim.

Mordo o lábio inferior e olho pra ele.

Então, num rompante ele toca a ponta do dedo indicador na minha testa e de repente me sinto sonolenta.

A ultima coisa que penso antes da escuridão me tomar é:

Como ele sabe meu nome se não me lembro de ter dito a ele?!

~☆~

Remecho-me em minha confortável cama e...

Epera, como assim cama?

Abro meus olhos de uma vez e me deparo com a decoração de cor clara do meu quarto.

Estranho, não me lembro de ter voltado pra casa.

Será que foi só um sonho?

Não, não, eu me lembro bem do que aconteceu, tenho certeza de que foi real.

Mas que droga está acontecendo comigo?

Me levanto e vou até o banheiro, preciso de um banho. Acho que só a água vai ser capaz de varrer esta confusão de mim.

Enquanto vou me despindo, me encaro no meu grande espelho com moldura cor de bronze a minha frente.

A garota que me encara de volta não se parece nada comigo, quer dizer, sempre me cuidei muito bem e agora estou parecendo literalmente um lixo.

Minha pele quase translúcida está com aspecto rececado, meus cabelos escuros estão embaraçado e arrepiados e meus olhos perderam o brilho de sempre.

-- Preciso de um SPA, urgentemente. -- digo para o nada.

Esgueiro-me até estar posicionada embaixo do chuveiro e abro a água quente.

Relaxo no mesmo instante, é como se algum peso misterioso tivesse saído das minhas costas.

Encaro a banheira pequena que está próxima a mim, mas logo desisto da ideia que meu cérebro estava formando.

Daria muito trabalho enxê-la.

Puxo a cortina com estampa de flores, nunca gostei daqueles vidros de box de banheiro.

Me sentia - e ainda me sinto - presa.

Começo a esaboar meu corpo enquanto cantarolo e ouço passadas em meu quarto. Deve ser Roth me procurando, então, desligo o chuveiro e quando vou pegar uma cortina para puxá-la e sair, uma mão grande a pega também por cima da minha.

Uma mão grande e desconhecida.

Meu corpo molhado se congela com aquele toque frio.

E então começo a gritar.

~☆~

Me desculpe se tiver algum erro ortográfico.

Olhe-me, AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora