"O colar da serpente da eternidade"

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"Você consegue pescar com anzol o Leviathan ou prender sua língua com uma corda? Consegue fazer passar um cordão pelo seu nariz ou atravessar seu queixo com um gancho? Pensa que ele vai lhe implorar misericórdia e lhe vai falar palavras amáveis? Acha que ele vai fazer acordo com você, para que você o tenha como escravo pelo resto da vida? [...] se puser as mãos nele, a luta ficará em sua memória, e nunca mais você tornará a fazê-lo. Esperar vencê-lo é ilusão; só vê-lo já é assustador. [...] quem consegue arrancar sua capa externa? Quem se aproximaria dele com uma rédea? [...] A espada que o atinge não lhe faz nada, nem a lança nem a flecha nem o dardo. [...] as flechas não o afugentam, as pedras das fundas são como cisco para ele. O bastão lhe parece fiapo de palha; o brandir da grande lança o faz rir. [...] Deixa atrás de si um rastro cintilante; como se fossem os cabelos brancos do abismo" - Jó 41:1-32

Eles corriam apressadamente para fora do templo japonês. O coração de Ícaro acelerava a cada passo, enquanto o mesmo mordia seu próprio lábio inferior, chegando ao ponto de sangrar. Mesmo cansado e apressado, ele segurava a mão de Halley, que suava constantemente, tornando-se escorregadia, com medo de deixa-la para trás, e perdê-la uma outra vez.

— Ícaro, o que houve? — Perguntou Halley.

Ícaro tentou ignorá-la, entretanto, a voz da garota continuava ecoando em sua mente. Então, no momento em que eles estavam saindo do templo Fushimi Inari-Taisha, ele parou a nefilim na entrada, segurando-a pelos ombros. Os olhos negros, cansados e confusos da garota fixaram-se nas esferas azuis — que lembravam profundos oceanos — que eram os olhos de Ícaro. Com um tom de voz artificialmente calmo, o arcanjo mortal perguntou:

— Halley, você se lembra da primeira vez que você me viu?

Halley assentiu e respondeu, mesmo achando que o momento não era próprio para aquela pergunta:

— Sim, é claro que me lembro, como poderia me esquecer do dia em que eu finalmente te vi? Deitado no sofá, lendo aquele livro, enquanto eu descia as escadas.

— Não sei se você já sabia, mas aquela pode ter sido a primeira vez que você me viu, mas não a minha.

O rosto da garota tornou-se confuso, e em um movimento rápido ela franziu o cenho.

— Como assim?!

Ele desviou o olhar dos olhos negros e profundos — que lembravam um escuro abismo — de Halley, e passou o olhar para o chão.

— Eu já andava te observando antes mesmo daquele dia. Na verdade, eu era uma espécie de "anjo da guarda" para você desde que você completou seus dezesseis anos, pois foi nessa idade que seus poderes angelicais passaram a emanar com mais frequência, e foi nesse momento que o templo legionário Norte-Americano exigiu um legionário guardião melhor, e mandou uma mensagem por Gabriel para Jerusalém, em Israel, ordenando que o templo de Betesda mandasse um guerreiro forte e ágil para proteger essa mortal que emanava uma aura celeste. Raphael, o pretor, escolheu a mim, entre todos os legionários de Betesda, para vigiar você, e naquele momento eu percebi que havia recebido uma dádiva divina, pois seria recompensado por anos de treinamento.

— Então foi por isso que você chegou exatamente no momento em que Lillith me atacou no Central-Park, porque na verdade você nunca saiu do meu lado

— Sim, eu nunca saí do seu lado, sempre estive aqui. Quando eu a vi pela primeira vez, você estava em uma casa de piscina com Lillith, ainda com a aparência meiga de Donnye, e com uma garota loura de olhos cor de mel. Era seu aniversário, e você estava se divertindo muito. Comendo churrasco e escutando música alta, sentada em uma cadeira de praia. Eu vi seu sorriso no rosto e percebi o quão inocente você era, uma simples mortal, que não sabia o que era o mundo espiritual.

As Asas de Um Anjo - Livro II da saga 'A Última Nefilim'Onde histórias criam vida. Descubra agora