"A Chama Violeta"

34 2 3
                                    

        Se Halley estivesse lá em baixo, no chão, e olhasse para os céus naquele momento, provavelmente ela pensaria que aquele bando voando nos céus era uma revoada de pássaros; jamais imaginaria que se trataria de anjos voando e amazonas gregas montadas em unicórnios alados... soava tão impossível e irreal que era até estranho pensar nisso. 

       Eles voavam nos céus, a caminho do Templo Legionário de Roma, no subsolo da Igreja de San Francesco A Ripa. Halley olhava, com o canto do olho, para o Pretor da Grécia, o irmão de Lúcifer, Luciel; ela não parava de pensar na possibilidade de Adão e Eva terem reencarnado, como assim? Ela, que nunca havia acreditado em anjo, demônio, Deus, ou em diabo, agora teria que acreditar em Adão e em Eva? E ainda na chance de se voltar a terra com outro corpo, mas com o mesmo espírito? Era tudo muito novo para ela, Halley estava confusa. Ela batia suas asas de nefilim e segurava o voo, planando no céus como uma ave de rapina; Halley seguia as amazonas de Luciel montadas em seus unicórnios alados e acelerava seu voo, pegando mais impulso para tentar alcançar a velocidade dos unicórnios. Então, inconscientemente, ela virou-se e começou a olhar para o garoto de cabelos dourados e de olhos violeta; ela observava Ícaro voando, mas percebia que algo pesava sobre seus ombros, como se suas asas estivessem mais pesadas do que o normal. Os olhos do garoto pesavam também, como se sua energia estivesse sendo sugado por um aspirador de pó de energia e seus lábios rosados, semi fechados, perdiam cada vez mais a cor. Antes que Halley pudesse falar, as asas do garoto se desfizeram em pó prateado e, como uma estrela cadente, Ícaro despencou do céu e caía em alta velocidade, desacordado. Halley, pegando impulso com suas asas, voou na direção de Ícaro e tentou agarrá-lo enquanto ele caía, porém, ao segurá-lo, a força da gravidade foi tão grande que a empurrou para baixo também e ela passou a decair junta a Ícaro. 

        Em um momento ela estava voando, no outro ela estava decaindo; em um momento ela estava voando acima das nuvens e agora estava caindo e vendo-as passar rapidamente pelos seus olhos, até que ela viu que o chão estava próximo. Então Halley ouviu um grande barulho e, imediatamente, sua visão escureceu, como se houvessem vendado os olhos da nefilim, porém ela sabia que não era isso. Tudo estava consumido por trevas. Onde ela estava? Será que ela havia morrido? E se ela houvesse morrido, para onde iria? Para o inferno outra vez? E Ícaro? Como será que ele estava? Um mar de interrogações inundava-lhe a mente e Halley sentia-se afogando cada vez mais com suas preocupações pesando como pedras, que a puxavam para o fundo do mar, ou melhor, o fundo da cratera que sua queda formara no chão. 

      "Escuridão"... era tudo o que Halley via naquele momento. Ela estava rodeada por trevas densas de uma negritude tão grande que parecia que haviam lhe colocado uma venda sobre os olhos. Não havia chão ou céu, não havia matéria nem leis da física, Halley flutuava em um caos contínuo em meio a um mar de trevas caóticas. 

  — Halley — disse uma voz grave, que ecoava em meio ao caos — não tenhas medo.

Halley, assustada, virava-se para todas as direções (mesmo sem saber para que direções ela virava) e procurava de onde aquela voz havia vindo. 

— Quem é você?! — Gritou Halley, preparando-se para o que poderia acontecer — Responda-me, seja quem for que estiver aí!

— Acalme-se, Halley — respondeu a voz do meio daquela escuridão — não precisa se assustar.

E do meio da escuridão, uma luz de cor violeta começou a surgir de forma tão bela que Halley relaxou todos os seus músculos, que estavam tensos e assustados, ao ver aquela luz surgir em meio ao caos. A luz violeta crescia gradualmente até que tomou o formato de um anjo feito de luz; seu rosto era incapaz de ser visto, assim como os detalhes de seu corpo, e apenas a sua silhueta reluzente em luz violeta era visível. Halley havia visto muitos anjos ultimamente, mas era a primeira vez que ela via algo como aquilo, era um anjo de luz, no sentido literal da frase.

— Qu... quem é vo... você? — Perguntou, Halley, dando um passo para trás.

— Eu sou Tzadikiel, o anjo da chama violeta — disse o anjo, reluzindo cada vez mais — mas quem eu sou não é o importante aqui.

Halley não havia entendido o que o anjo queria dizer, mas imediatamente ele retomou a palavra.

— Bem, querida nefilim, o que é realmente importante é a mensagem que eu tenho para te dar. 

— E o que você tem para me dizer?

— Fui enviado pela Corte dos Arcanjos para avisar que vocês estão em uma área perigosa. Onde vocês estão há um demônio que ronda por este lugar e seu nome é Bangungot.

 — Como assim, 'tiro-arma-tenho'? Isso não é nome de demônio! — Disse Halley, confusa.

—  O nome do demônio é Bangungot, Halley, e não bang-gun-got (que significa "tiro-arma-tenho" em inglês).  Esse demônio quer impedir que vocês cheguem até a Betel de Roma, pois vem observando vocês desde que vocês saíram da Betel do Japão.

— Mas ele ainda não nos atacou —  disse Halley àquela figura de luz violeta, que brilhava fortemente em meio à escuridão.

— Você é quem pensa, nefilim. O demônio já os atacou e você nem sequer percebeu.

— Como assim?!

Naquele momento um som alto como um despertador começou a ecoar no vazio onde Halley estava. Ela ouvia o anjo tentando dizer alguma coisa, mas o barulho que ecoava era muito maior, até que tudo ali começou a desaparecer, a luz do anjo se tornou mais fosca e menos brilhante e todo aquele lugar foi substituído por um quarto com um papel de parede cinza e uma grande penteadeira do outro lado do quarto. Halley abria os olhos e nem acreditava, ela estava deitada em sua cama, em seu quarto, em sua casa, sendo acordada pelo seu despertador.  

As Asas de Um Anjo - Livro II da saga 'A Última Nefilim'Onde histórias criam vida. Descubra agora