As Asas de Um Anjo - Livro II da saga 'A Última Nefilim'

"A serpente com milhares de cabeças"

        O Leviathan correu em direção a Ícaro como um lagarto gigante desorientado e, com suas milhares de cabeças, lançou fogo púrpura com suas respectivas bocas. Como poderia um anjo caído tão belo como Leviathan se tornar aquele dragão horrendo, uma espécie de serpente-lagarto-dragão cheio de cabeças que era tão feio quanto... quanto... ESPERE, NÃO EXISTIA NADA TÃO FEIO QUANTO AQUELE DRAGÃO! NÃO HAVIA NADA COM QUE SE PUDESSE COMPARAR A FORMA MONSTRUOSA DO DEMÔNIO DOS MARES. Halley arregalava seus olhos cada vez mais enquanto sentia o frio de inverno envolvendo-a, mas, ao mesmo tempo, também sentia o calor das chamas roxas que saíam da boca do Leviathan. Ariel, com sua espada divina, protegeu Ícaro, defendendo e repelindo todas as chamas de fogo. 

Naquele momento, Halley sentiu quando algo gélido tocou sua pele e se desfez; algo pequeno e branco, delicado e belo, com mínimos detalhes naturais desenhados. Aquilo que caíra em seu ombro e se desfizera fora um floco de neve, apenas um dentre vários que estavam a cair do céu à terra, enfeitando o chão do lugar como um cobertor branco, caindo feito branquinhos e pequeninos anjinhos que decaíam continuamente.... e continuamente... e continuamente.

— Leviathan, porque vocês, demônios, querem tanto destruir nossas beteis?! — Gritou Ícaro, limpando o sangue do canto de sua boca e fixando o olhar no monstro dos mares — Não há razão para isso!

— Não se façam de tolos! — Disse o demônio — eu sei que eles dois estão aqui. 

— Eles quem? — Perguntou Tsuki, a pretora da Betel japonesa.

— Não tente me enganar, Tsuki! Traga-os aqui, caso contrário, matarei todos que residem nessa Betel.

— Cale a boca, seu verme imundo! — Gritou uma amazona de cabelos raspados nas laterais e presos em um coque apressado, que aproximou-se correndo.

Ela correu com as outras amazonas para cima do Leviathan e, agarrando-lhe pelo queixo e tirando uma espada de bronze celestial, cortou-lhe a cabeça central, fazendo com que o icor negro da criatura espirrasse por todos os lados. A cabeça caiu e rolou para perto de Ícaro; os olhos da cabeça cortada, então, perderam seu brilho do alvorecer e se desfizeram em pó cinzento deixado dois buracos ao invés dos globos oculares. 

Entretanto, da parte cortada, onde costumava estar a cabeça, algo passou a sair, na verdade duas coisas passaram a sair, duas coisas que pareciam mais duas... O QUE?! Eram duas cabeças?! E logo Halley lembrou de um ser mitológico parecido, um monstro da mitologia grega chamado de Hidra. Do mesmo modo que a Hidra, o Leviathan era uma serpente enorme com várias cabeças que ao ter uma das cabeças destruída a regenerava, fazendo duas crescerem no lugar. Na mitologia greco-romana, Herácles (também chamado de Hércules pelos romanos) derrotou a Hidra cortando lhe as cabeças e queimando o local, para que elas não pudessem crescer novamente; de acordo com os escritos judaico-cristãos, Yahweh desceu dos Céus e, com sua espada, despedaçou as cabeças do Leviathan, e deu como comida aos habitantes do deserto; já nos escritos ugaríticos o deus Baal-Hadad faz a mesma coisa com a Serpente dos Mares chamada de Lotan. 

Entretanto aquilo só havia tornado o demônio mais furiosos ainda. Ele começou a correr na direção das amazonas com seus olhos brilhando como o sol e quando este levantou a pata esquerda com suas enormes garras para atacá-las, Luciel, ao lado de ícaro, segurou-lhe a pata e tentou cortar a pata do Leviathan, mas algo havia dado errado, a espada, que antes fora uma lança, não conseguia penetrar a pele do demônio dos mares. 

— Luciel... ou Vesper... Estela do Entardecer... Pretor da Grécia... enfim... o nome ou título não importa! — Disse Ícaro — Não conseguiremos causar dano a ele se apenas o atacarmos diretamente. O único jeito que temos de derrotá-lo é destruindo o seu Amuleto da Imortalidade que ele carrega em seu pescoço.