"De volta ao meu mundo normal"

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         Halley sentou-se e desligou o despertador ao lado de sua cama. Como ela havia chegado ali? Não fazia sentido. O quarto estava do jeito que ela se lembrava, levemente bagunçado, com algumas roupas em cima da cama, as cortinas antreabertas e a penteadeira cheia de maquiagens e de prendedores de cabelo, com o espelho um pouco sujo.

     Ao se levantar da cama, Halley sentiu a sua cabeça doer fortemente, como se estivesse pulsando, e sua visão girar como se ela estivesse tonta, ou de ressaca... mas ela não havia bebido! Halley apoiou-se na parede de seu quarto e fechou seus olhos, respirando profundamente pelas narinas e soltando o ar pela boca. E, inesperadamente, Halley ouviu alguém bater na porta de seu quarto, dizendo:

— Halley, filha — era sua mãe Rachel Faithway, que agora ela sabia que era adotiva e que era uma legionária da geração passada, assim como sua mãe verdadeira Annie Griffiths — já está acordada?

— Estou, mãe — respondeu Halley, dirigindo-se até a porta do quarto e abrindo-a — estou acordada, acordei agora na verdade.

Ao abrir a porta, ela viu sua mãe adotiva Rachel, que a amava tanto, e imediatamente deu-lhe um abraço cheio de saudade, já que ela havia passado tanto tempo fora de casa, apenas dormindo na Betel de Betesda. Ela respirava fundo e sentia o cheiro de jasmin no cabelo macio e ondulado de cor negra de sua mãe. Halley jamais abraçara alguém assim, com exceção de Ícaro quando ele ressuscitara no Tanque de Betesda ao voltarem do Templo de Abigor nas semanas anteriores.

— Mãe, que saudade!  — Disse Halley, soltando-a aos poucos de seu abraço — senti tanto a sua falta.

Rachel, soltou Halley definitivamente do abraço e franziu o cenho; ela olhava para Halley sem entender o que a nefilim havia falado.

— Do que você está falando, Halley? — Perguntou, Rachel — Você saiu ontem somente por algumas horas para a casa do Bryan e, confesso que voltou tarde, mas não foi tanto tempo assim.

— Casa do Bryan? — Perguntou, Halley, sem saber do que sua mãe estava falando.

— Sim, não é Bryan o nome do namorado da sua amiga Donnye que fez aniversário?

— Sim, mas eu não fui para a casa dele ontem, mãe. Eu estava no Japão, protegendo o mundo dos demônios. O arcanjo Gabriel não te deu o recado?

Rachel deu uma risada baixa, sem acreditar no que Halley havia contado. O Pretor Raphael não havia dito que o arcanjo Gabriel iria dar o recado para sua mãe quando ela ainda estava prestes a ir ao Templo de Abigor há algumas semanas atrás? O que havia acontecido?

— Pelo visto vejo que seu sonho foi bom, minha filha — disse, Rachel, saindo do quarto, prestes a descer as escadas — agora se arrume porque você tem prova de espanhol. A senhorita Hilda vai reclamar outra vez se você se atrasar.

— Mas, mãe, não tem mais aula! A prova da senhorita Hilda já passou semanas atrás e eu já a fiz.

— Não minta para mim querida — sua mãe disse, descendo as escadas — Donnye ligou para mim perguntando se você já estava pronta para ir para o colégio.

— O que ela estava fazendo ligando para você?! — Gritou Halley, descendo as escadas atrás de sua mãe — Ela é um demônio, mãe!

Rachel virou-se para Halley, incrédula no que estava ouvindo.

— Halley, não fale assim dela. Ela é sua amiga, não diga uma coisa tão pesada assim com ela. Por acaso vocês brigaram?

— Mãe, você não entendeu, ela é um demônio no sentido real da palavra — disse Halley, fixando seus olhos nos olhos de sua mãe — Donnye não é quem você pensa que é, ela é Lilith, rainha dos demônios!

— Halley, agora você já passou dos limites! — Gritou, Rachel, sem paciência — Não gosto dessas brincadeiras. Vá se arrumar para fazer sua prova!

Halley pegou seu celular e viu a data, era dia 14 de junho, o dia em que tudo havia começado, um dia antes de Ícaro aparecer em sua vida. Não, isso não poderia estar acontecendo! Era para ser dia 3 de julho... mas ela voltara ao dia em que tudo começara, mas como? Ela havia voltado no tempo? Não havia outra explicação para o que estava acontecendo.

— Mãe, eu sei que eu sou adotada — disse, Halley, tentando provar que não estava falando coisas a esmo — sei que você era uma legionária, amiga de Annie Faithway, que era minha mãe biológica, e juntas vocês lutavam contra demônios. Vocês eram pupilas do Pretor Raphael, o arcanjo do Templo de Betesda. Eu sei dessas coisas porque eu sou uma nefilim e estive lá, lutei contra demônios e conheci legionários.

— Halley, você não está bem — respondeu, Rachel — vou ligar para o seu pai e vamos levar você no médico. Você está delirando! Você não é adotada, meu amor, tenho fotos suas bebê no meu parto. Não estou entendendo nada do  que você está falando. Você está delirando... não usou nenhuma droga ontem na festa do Bryan não, não foi?

— Claro que não, mãe. Eu sei que você é uma legionária, você lutava contra demônios e me protegeu para que meu pai biológico Ephizael, o anjo caído, não me matasse.

— Halley Emma Faithway, você não está bem! E que história é essa de anjos e demônios?! Eu não acredito nessas coisas espirituais e você sabe, e você também não acreditava. Isso é um sinal que você não está bem.

Sua mãe pegou uma caixa de cor lilás, que estava perto do sofá, e retirou algumas fotos da caixa e jogou em cima da mesa. Halley aproximou-se da mesa e viu as fotos; não era possível, eram fotos do parto de Rachel e o bebê da foto, sem dúvidas, era Halley. Como era possível? Halley era filha biológica de Rachel... e como ficava Annie e Ephizael? Eles não existiam? E Ícaro?

— Não sei com o que você sonhou esta noite, minha filha — disse, Rachel, sentando-se à mesa e colocando um pouco de mel nas panquecas matinais para comer — mas creio que era um sonho muito real para você confundir sonho com realidade.

Halley não conseguia acreditar que tudo não passara de um sonho, que os anjos eram ilusões de sua cabeça, que Ariel não existia e que Ícaro... que Ícaro não era real. Ela não poderia viver sem Ícaro, não conseguiria viver sem ele, que dava sua vida por ela e que lutara tanto por ela. Não era possível que tudo fosse sonho. Naquele momento, porém, a campainha da casa de Halley foi tocada e o som começou a soar pela casa. Halley se levantou e caminhou em direção à porta; ela girou a maçaneta e, ao abrir a porta, viu uma garota de pele muito branca, cabelos ondulados e ruivos, de textura macia, e com bastante sardas no rosto vir em sua direção para abraça-la, era Donnye. Naquele momento, Halley não sabia o que fazer, se recuava e a atacava por ela ser Lilith, ou permanecia ali, quieta, e aceitava que tudo não passara de um sonho.

— Halley, amiga — disse, Donnye puxando Halley para um cantinho perto da porta — e aí, a tua mãe percebeu que você estava bêbada ontem?

— Felizmente não — disse, Halley, olhando para o rosto de Donnye.

Agora estava explicado a dor de cabeça de Halley, ela estava de ressaca pelo dia anterior na festa de Bryan.

— Uffa, que sorte, porque você não vai acreditar, depois que todos saíram da festa, a mãe do Bryan chegou e eu estava escondida com ele na piscina e, quando ela viu, ligou para a minha mãe e contou que eu estava lá bebendo.

— Não acredito! — Disse, Halley, tentando não relacionar o rosto de Donnye com Lilith, mas parecia impossível — e sua mãe fez o que?

— Me espancou!

— Jura?! Meu Deus!

— Mentira, ela só tomou meu celular. Mas bem que eu poderia ter levado a surra e ter ficado com o celular.

— Credo, Donnye! — Disse, Halley.

Donnye olhou para a roupa de Halley e percebeu que ela estava de pijama; era um pijama azul com listras em lilás que seu pai havia comprado quando ele viajara para Ohio no verão passado. Ele era tão confortável e tão macio que lembrava até o casaco cinza de Ícaro que ela usara quando eles chegaram do Templo de Abigor... mas ela não queria pensar mais naquilo.

— Halley — disse, Donnye — vá logo se arrumar, porque precisamos ir logo para o colégio, é prova da senhorita Hilda e eu preciso dessa nota.

Halley assentiu e foi para o banheiro tomar banho.

As Asas de Um Anjo - Livro II da saga 'A Última Nefilim'Onde histórias criam vida. Descubra agora