"A morte da Lua"

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        Ela caía lentamente no chão; suas pernas estavam fracas, seus olhos estavam cheios de lágrimas e o seu icor dourado escorria de seu peito e formava uma poça no chão. Ali era o seu fim, ela estava dando seu último suspiro de vida enquanto via aquele demônio já morto com um sorriso no rosto. Aquela espada queimava, mas do que aquilo importava? Já estava feito, ela estava morrendo e ao olhar para o céu, percebeu ela que a lua também morria em um eclipse junto com ela... agora tudo fazia total sentido, era ela... sempre foi ela. E aos poucos sentiu Tsuki os seus olhos fechando e logo após isso veio o vazio do nada... era o fim.

—  O que aconteceu aqui?! — Veio Halley, correndo e gritando com Ícaro atrás dela.

Ao olhar para o lado, viu Ícaro que o corpo morto do Leviathan se desfazia em pó negro e Ariel limpava sua Espada de Luz  com a barra  de seu vestido florido. Ao virar-se para Tsuki, viu ele que de seu peito saíra bastante icor e sua pele, que era branca, estava mais pálida ainda. Mas como ele não vira? Havia uma espada enorme cravada em seu peito.

  — O que houve aqui?!  —  Halley tornou a perguntar, ajoelhando-se perto de Tsuki e verificando sua pulsação. 

  — Foi Leviathan — respondeu Ariel, aproximando-se de Halley e pondo sua mão esquerda em seu ombro — quando nós pensávamos que ele estava morto, ele reuniu todas as forças que restavam em seu perverso coração e cravou a Espada de Yekun no peito da Anja da Lua.  

Yekun... Lua... não era possível. Halley olhou para aquele céu noturno e percebeu algo de estranho; a lua estava tornando-se vermelha, como se alguém sangrasse e banhasse a lua com seu sangue. Antes que Halley falasse o que ela havia pensado, Ícaro se pôs a falar, com um olhar frio, sereno e calculista:

— Agora tudo faz sentido. Não havia como Yekun ser liberto do inferno ao tocar a lua, pois para isso ele precisaria estar fora do inferno, mas na verdade a profecia se referia a Espada de Yekun tocando na Anja da Lua, Tsuki.

Todos olharam para Tsuki, que tinha seus olhos de lua transformados em olhos cinzas e sem cor. O corpo da anja da lua, aos poucos, ia se desfazendo em neve e misturando-se com a neve que estava cobrindo do chão do Templo. Halley, abaixando sua cabeça, levou sua mão direita até os cabelos brancos da pretora e, ao alisá-los, viu-os se transformando em neve.

— Que assim como uma lua cheia entra em sua fase de lua nova e desaparece, assim você reapareça cheia de esplendor como uma supernova. Não penses que sua morte será em vão, pretora; faremos de tudo para parar Lúcifer e suas obras malígnas. Que seu Pai e todos os seus irmãos, neste momento, te acompanhem aos céus para que possas algum dia retornar. Amém. — Rezou, Halley, soltando e deixando algumas lágrimas, que estavam aprisionadas, fluírem.

E, quando Halley terminou de rezar, todo o corpo de Tsuki se desfez rapidamente em flocos de neve e abandonou o plano humano. Então, como se o tempo voltasse, ao invés de ver os flocos caindo do céu, os flocos de neve de Tsuki subiam aos céus como se o espírito angelical, isto é, a essência de luz da pretora, voltasse aos braços de seu Pai, que estava assentado nos mais altos céus.

— Espero um dia te ver novamente, irmã — disse Luciel com voz trêmula, observando os flocos de neve subirem enquanto ele enxugava suas próprias lágrimas. Ele porém, virou-se para os outros e continuou — mas não podemos parar, jovens. Agora que sabemos que a profecia foi cumprida, o eclipse da lua sangrenta começou e Yekun foi solto, é questão de tempo até que Lúcifer encontre os dois e liberte os seres mais perigosos de dentro do inferno.

— Que dois? — Indagou, Halley — O Leviathan também falou desses "dois". Quem são?

— Não posso falar agora — respondeu, Luciel — mas prometo que quando chegarmos a Betel de Roma explicarei tudo. Agora, dê-me o Urim e o Tumim, as pedras pretorias de Tsuki, porque precisamos nos comunicar com Netzach, a pretora de Roma.

Ícaro caminhou até Luciel com as duas pedrinhas na mão, uma branca e preta, e as pôs nas mãos da Estrela do Entardecer. As pedras eram idênticas, mas ao mesmo tempo era perfeitos oposto; possuíam o mesmo tamanho, o mesmo formato, o mesmo peso, mas energias opostas.

— Senhor — Ícaro começou a perguntar — o que o senhor fará com essas pedras?

Luciel, porém, não respondeu nada, apenas segurou as pedras fortemente e jogou-as no chão. As pedras caíram no chão e se movimentaram para o lado esquerdo e assim pararam.

— Pelos poderes celestes, eu conjuro a presença da Shekinah de nosso Pai para que possamos usar o Urim e o Tummim.

Naquele momento uma névoa branca subiu da terra e encheu o lugar com um perfume de jasmim. As duas pedras começaram a brilhar e as letras hebraicas que estavam na fronte das pedras passaram a reluzir tanto quanto uma estrela nos céus. Luciel tomou a sua espada, que antes possuía a forma de uma lança, e com um rápido e inesperado movimento, ele fez cortes na palma de sua mão esquerda, escrevendo os símbolos דם e, como um rio de icor fluindo, assim fluía a sangue dourado do anjo do entardecer. O icor de Luciel escorria da palma de sua mão lentamente e pingava em cima das pedras, que ardiam como brasa; elas reluziam como pequeninas estrelas que haviam caído na terra e eram envolvidas por uma fumaça de poeira, mas aquela fumaça enevoada não era feita de poeira, muito menos era uma névoa comum, mas uma materialização de energia celeste e divina.

— Desejamos falar com Netzach — disse Luciel — a anja da vitória.

As pedras começaram a girar ao redor delas mesmas e, no centro, formou-se uma espécie de espelho que aos poucos ia se desfazendo e mostrando uma mulher de asas douradas, segurando uma coroa de louro e uma lança de ouro na outra mão. Ela estava sentada em um Trono todo detalhado, feito a mão, com o desenho de uma cobra gigante nas costas.

— Netzach — chamou, Luciel.

A anja, dentro do espelho criado pelas pedras, ouviu Luciel chamando-a e respondeu, com medo:

— Quem está aqui?!

— Calma, irmã, sou eu, Luciel! Estou falando pela pedras sagradas.

A anja soltou o ar que estava preso no peito e relaxou suas feições. Netzach levantou-se do trono e perguntou:

— Mas o que te trouxe a falar comigo?

— Acho que soubeste que a Betel da Grécia, a Betel do Japão, e a Betel de Israel foram atacadas, e pelo visto, não vai demorar muito até os nossos irmãos das trevas invadirem tua Betel romana.

— Estou ciente — disse a pretora da Betel de Roma — que a qualquer momento podemos ser atacados. Os anjos e humanos legionários já estão prontos.

— Os demônios estão a procura dos dois, por isso estão invadindo as beteis. Eles não vão descansar até que os encontrem.

Netzach assustou-se e começou a tremer suas mãos e suas pernas, ainda que tentasse contê-las. Com uma voz trêmula, ela disse:

— Luciel, os dois estão aqui! O que iremos fazer?!

Novamente eles estavam falando desses dois. Quem eram eles?

— E você não avisou a nenhuma outra Betel que estava com os dois primeiros aí em Roma?! — Perguntou Luciel, desesperado — Estamos indo para aí.

— Venham depressa!

E a imagem se desfez. Luciel tomou sua posição e imediatamente as amazonas se posicionaram perante o pretor.

— Os dois primeiros estão em Roma — disse, Luciel — partiremos agora para lá, pois é questão de tempo até que as legiões infernais ataquem a Betel romana.

As amazonas montaram em seus unicórnios alados e deram sinal para o pretor de que já estavam preparadas para partir para Roma. Quando todos estavam prestes a partir, Halley não se conteve e perguntou para Luciel outra vez:

— Pretor, quem são esses dois de quem vocês estão falando?

O pretor virou-se para ela e respondeu-lhe:

— Adão e Eva, eles reencarnaram e estão na terra outra vez.

As Asas de Um Anjo - Livro II da saga 'A Última Nefilim'Onde histórias criam vida. Descubra agora