Entre encontros e despedidas

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Quando cheguei no cemitério fui andando até achar aonde seria o enterro dos meus pais. Andava ainda sem acreditar no  que estava fazendo, que seria a última vez em que veria os meus pais e que já tinha completado  uma semana   em que ouvi a voz deles pela última vez e que, na época, tinha uns 3 meses que não os via.

Cheguei  no local e vi a minha tia Laís, foi tão estranho vê-la  após tanto tempo! Foi ali que de fato caiu a ficha do que estava acontecendo e sem eu perceber deixei uma lágrima escorrer pelo meu rosto e a minha tia me abraçou. No enterro quase não tinha ninguém, meus pais eram bastante reservados e tenho certeza que isso foi a pedido deles.

Os caixões  estavam fechados, pois os corpos estavam desfigurados. Queria vê-los  pela última vez, mas talvez tenha sido melhor assim. Não sei qual  seria a minhas reação ao vê-los  mortos na minha frente, mas só de ver o caixão  e saber que eles é que estavam lá dentro e que eu nunca mais poderia beijá-los, abraçá-los, ouvir as vozes,
sentir os perfumes deles... Aquilo arrancou um pedaço de mim que jamais se restabelecerá.

Eles morreram. Algo em mim também  morreu. E só ali caiu a ficha do que a minha tia disse. Eles estavam realmente  mortos. Não era  um sonho. As únicas pessoas que eu podia confiar no mundo e que verdadeiramente  me amavam morreram. E  pela segunda vez o meu mundo desmoronou.

Enquanto estava escutando o padre falar, senti a cruz que eu estava usando queimar a minha pele. Tive que tirar e colocar em minha bolsa. Na hora pensei que fosse o calor do Brasil, coisa que foi bem difícil  de me adaptar. Eita país  para fazer calor!  Mas  depois percebi que era um aviso.

Após eu guardar o meu colar de cruz olhei para o lado e bem distante estavam os dois me olhando. Poderiam ter se passado 500 anos, mas eu sempre os reconheceria.

Luana me olhou, sorriu e deu um selinho  no Rafael e doeu da mesma forma que  doía antigamente. Mesmo sendo apenas um selinho  doeu e doeu muito. Encontrei o  passado que queria esquecer e me despedi da única coisa do meu passado que queria que fosse eterno.

Naquela hora eu percebi que por algum motivo eles também  não me esqueceram.

Aquilo tudo tinha acabado comigo. Eles ainda estavam juntos, meus pais não estavam mais aqui, o meu mundo estava de cabeça para baixo  de novo e o castelo de areia que eu construí nos Estados  Unidos  caiu assim que botei os pés novamente  no Brasil.

Naquela hora estava me sentindo uma menina, estava voltando no tempo. Era como se eu tivesse entrando pela primeira  vez naquela toca do coelho, era  como se eu tivesse voltado a ter 17 anos.

Peguei duas rosas vermelhas as beijei com todo o meu amor e depositei cada uma em um caixão. Abracei cada caixão como se estivesse abraçando os meus pais pela ultima vez. Me despedi das pessoas e saí de lá do cemitério  e fui direto para a casa dos meus pais, eu ainda tinha a minha cópia.

Abri a porta e olhei para a casa, era como se eu tivesse voltado no tempo, então fechei os olhos. Era como se eu conseguisse ouvir as vozes dos meus pais, os risos, as brincadeiras, era como se eu pudesse me ver com 14 anos feliz, de rosa, escrevendo  no meu diário, consegui até sentir o cafuné  que a minha mãe costuma me fazer,o cheiro dela...

O meu coração  disparou ao escutar o barulho da porta se fechando. Devia ter sido o vento, mas na hora levei um  grande susto! Pelo menos isso fez com que eu saísse do país das maravilhas  e voltasse ao planeta terra.

Lágrimas  De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora