Eu: Um monstro?

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Consegui fazer com que ele saísse do meio da rua e entrei no meu carro rumo à casa dele. No caminho chorei pensando na Luana, a amizade dela comigo era falsa, mas a minha era verdadeira e eu a amava como uma irmã que eu nunca tive.

Pensei também no dia em que ela foi queimada, até hoje não consegui saber se foi a pedido do demônio ou se foi alguém que queria se vingar dela tanto quanto eu a ponto de queimá- la viva. Fato é que ela agora está na companhia do demônio. Só espero que a filha dela não esteja no inferno, a menina não tinha culpa de nada.

No caminho mandei duas mensagens: Uma para o Erick, dizendo que eu estava com saudades dele e outra para o Matheus, contanto o ocorrido.

O que eu sinto pelo Erick é puramente sexual, mas também ele é a figura mais próxima de amigo que eu tenho. Ele é quem eu mais consigo confiar ( não confio plenamente, mas confio de certo modo) e tudo que eu queria naquele momento era estar nos braços dele.

Chegamos na casa do Rafael, a Luísa tinha acabado de chegar e por isso estava com o uniforme da escola.

Quando ela viu que chegamos foi logo me dar um abraço e então ela percebeu que estávamos chorando. "Tia, papai, por que estão chorando?"

Olhei para o Rafael, não sabia como agir. A babá logo entendeu e saiu da sala com um discreto sorriso.

Rafael respondeu : "Filha, homem não chora. Foi um cisco que caiu no olho do papai. Só isso." Ele forçou um sorriso e a beijou.

" Mas se foi um cisco, entrou nos dois olhos. E por que a tia está chorando, papai? Também foi um cisco?"

Rafael olhou para mim e disse: " Alice, por favor conta a verdade. A minha filha só tem 4 anos, mas é muito esperta. Eu não tenho forças para falar."

Luísa direcionou aqueles pequenos olhinhos preocupados para mim, buscando uma resposta. Então eu tentei me controlar para que a emoção não viesse à tona e disse: " A mamãe estava com muitas saudades da sua irmãzinha, então ela resolveu ir lá em cima cuidar dela. Mas antes de partir, ela me disse que sempre irá cuidar de você e que quando você sentir a falta dela é só você olhar para o céu. A estrela que mais brilhar é a sua mãe. "

Luísa começou a chorar eu a abracei e ela me disse: "Mamãe morreu? Eu nunca mais vou vê- la?"

" Vai ver sim, quando você também virar estrelinha" Eu respondi.

" Eu quero ver a mamãe agora, mas não quero virar estrelinha." Choramos juntas.

Quando percebi Rafael não estava mais lá. Fui até a cozinha e pedi para que a babá ficasse com a Luísa e perguntei também se ela sabia aonde estava o Rafael. Ela disse que ele estava no quarto.

Fui até o quarto dele e nos beijamos intensamente, ele me pediu desculpas por ter me deixado sozinha, mas disse que não tinha forças para presenciar aquela cena. Tudo que eu queria era tirar a dor dele. O ajudei a organizar o enterro que aconteceu no dia seguinte.

Estava me sentindo mal por tudo aquilo. Se eu não tivesse feito a brincadeira ela não teria sido dada como louca, mesmo que a última não tenha sido de minha autoria. Eu só queria que ela ficasse com depressão, sabia que ela poderia ficar louca, mas essa não era a minha intenção. Eu a coloquei num dos piores sanatórios que existe no Rio de Janeiro. Ela morreu com medo de voltar para lá.

Ela ia atravessar, mas desistiu. Quando viu o Rafael sentiu medo e atravessou. Ela não queria voltar para a clínica que eu indiquei, por isso ela sentiu medo ao vê- lo. Eu me senti como se eu a tivesse matado. Um lado meu ainda gostava dela e era exatamente por todo o amor que eu sentia por ela que eu não conseguia aceitar o que ela fez comigo. Os dois amores da minha vida me traíram.

Lágrimas  De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora