Prólogo

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- O que aconteceu? – Luis Del Monte perguntou ao seu paciente, sentado como estavam acostumados a fazer. Um em frente ao outro, olhos nos olhos, verdades sendo lançadas ao vento. O psicólogo nele desvendando os traumas do garoto, o amigo que se escondia por trás da máscara profissional tentando achar um jeito de ajudar o menino a lutar contra os seus demônios pessoais.

Kaio Skyker levantou os olhos cor de mel e os lançou janela a fora, o olhar do garoto estava perdido, mas não desfocado. Ele estava se lembrando do que havia acontecido naquele dia. – Eu a conheci, - ele disse. Um pequeno sorriso se formando em seus lábios. – e ela é extremamente intrigante.

- Explique melhor.

Kaio deu de ombros, seus olhos foram para as suas mãos. – Minhas impressões estavam erradas. Há mais nela do que o simples fato de ela não querer se misturar. – Ele o olhou nos olhos. – É como se ela tivesse medo disso, entende? – Luis balançou a cabeça em afirmação. – Na verdade, eu estava decidido a não chegar perto dela. Eu estava decidido a ignorá-la. Mas quando soube que ela estava tendo problemas com matemática, simplesmente me candidatei a ajudá-la. – ele riu. – Nem faço parte do grupo de auxiliares, entretanto sei que ninguém vai descobrir ou discordar.

Luis franziu as sobrancelhas. – Você vai ser o professor particular?

Kaio balançou a cabeça. – Sou bom em matemática e, - Ele sorriu discretamente mais uma vez. Seu sorriso se apagou momentos depois. – não sei o porquê, eu não costumo me perguntar o porquê de eu fazer alguma coisa, mas, eu quero ajudá-la. Conhecê-la.

Luis se inclinou um pouco mais na direção de seu paciente e tentou entender esse súbito interesse por essa garota desconhecia. Na consulta passada, o garoto havia dito que simplesmente desprezava o jeito desta menina, embora gostasse do modo como ela o fazia sentir. Era contraditório. Confuso. Estranho. Quase perturbador. Mas era real. Luis poderia ver isso nos olhos de Kaio. O menino nunca foi bom em lidar com sentimentos, ainda mais os que ele não conseguia entender ou refrear. – E porque você quer fazer isso?

O paciente retorceu as mãos. – Eu não sei. Só... Eu me sinto bem ao lado dela. Gosto da cor de seus olhos. – Kaio olhou para Del Monte. – Ela tem os olhos mais escuros que já vi. – Sorriu, mas foi rápido, como o sorriso anterior. – É só este aperto em meu peito. A falta de ar quando eu a vejo. Eu tenho vontade de sorrir. E eu esqueço, - ele suspirou. – Deus! Eu esqueço toda essa merda feia que é a minha vida. É como se ela me trancasse naquele seu mundinho inventado e não me deixasse sair. E embora eu tivesse alguma chance de escapar, eu não o faria.

Del Monte olhou para o paciente e os olhos de Kaio se trancaram aos dele. Luis deixou que as palavras saíssem de seus lábios. – Você já pensou que pode estar apaixonado?

O paciente riu. – Sim, claro. Já pensei. – Kaio fez uma pausa. – Mas eu acredito que não.

- Como você pode ter tanta certeza?

Kaio se recostou na cadeira e seu olhar âmbar se direcionou ao teto, a luz serena rodeada de bonitos cristais era alguma combinação rica para os moveis antigos. A sala em si parecia ter sido tirada de outro século. – Porque essas coisas que sinto permanecem apenas no plano físico. Eu não tenho nenhum sentimento mais forte por ela.

- Como uma droga? – Luis perguntou, sorrindo internamente. Era curioso.

O paciente assentiu. – Sim, exatamente como uma.

Luis Del Monte se levantou de sua cadeira e andou elegantemente até sua mesa de mogno escuro comprado por sua esposa. Na verdade, toda a decoração daquele consultório era fruto do amor de Marie pelas peças vintage. E quem era ele para discordar daquela mulher? Não, ele era apenas seu marido amoroso e dedicado, que ela tinha ao redor de seus dedos. Ela fazia o que queria dele. Del Monte quase sorriu, mas então se lembrou do paciente. Luis segurou uma caderneta em suas mãos, apertou a tampa da caneta. – E qual é o nome da sua droga, Kaio?

O garoto suspirou. Um sorriso característico dele surgindo em seus lábios. Os olhos se iluminaram. – É Suzy, - ele riu. – Suzanna Reverton.

E embora Luis não quisesse, um sorriso escapou de seu controle. Algum tempo atrás ele tinha conhecido um tipo de droga muito estranha, começou com sintomas físicos. Ele a conheceu e começou a sentir mais do que o bem estar em seu corpo. O calor daquilo se espalhou tanto com o passar do tempo que havia atingido seu coração de gelo com nenhuma outra droga havia conseguido. Hoje, a sua droga tinha o seu sobrenome. Um sorriso doce, um jeito imperativo e atendia pelo nome de Marie.

Kaio Skyker teria algumas surpresas pela frente.

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