I - E se você me procurasse... Eu fugiria.

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É engraçado observar como é contraditório o destino. Eu não deveria ter te conhecido. Você vê, éramos de mundos diferentes. No entanto, quando você errou a trilha que te levaria ao seu verdadeiro caminho e acabou na trilha que me levava até o meu, criamos um caminho único. E nós caminharíamos juntos por ele. E você descobriria quem era. E eu descobriria que não era nada daquilo que pensava ser. E juntos, nos encontramos. E juntos, seriamos quem deveríamos ser.

- Estou preocupada com você. – disse a professora depois de me chamar ao final de sua aula e me dizer que tinha algo a me contar.

Eu suspirei, sabia o porquê de toda essa preocupação. Ela atendia pelo nome de matemática. E eu era péssima nela. Havia conseguido alcançar a média com algum esforço durante os primeiros meses desse ano, a professora Verônica estava de olho em mim desde minhas primeiras notas. Eu sabia que não era marcação. Que ela só estava preocupada comigo e tudo mais. Só que é meio difícil você se lembrar disso no momento em que é chamada atenção.

Por não ter nada mais a dizer, eu apenas disse a verdade. – Eu sei professora, estou tentando recuperar matéria.

A professora se recostou em sua mesa e dobrou as mangas da blusa de seda azul clara. Ela era uma mulher jovem, bonita e elegante de cabelos e olhos castanhos, lábios vermelhos e um ar de quem sabia muito da vida. Eu gostava dela. O que já era um avanço, já que eu odiava todas as minhas professoras de matemática justamente pelo que elas ensinavam. Sabia que era injusto, infantil, mas as vezes você tem que fazer um pouco birra para não estourar. E esses dias eu tinha economizado em birra, estava no meu limite. – Não, você não vai. – Ela disse, sincera em sua opinião. Permaneci calada, meus dedos tremendo e uma vontade gritar gigante. Verônica suspirou. Desencostou-se de sua mesa e ficou de frente a mim, seus braços cruzados. E mesmo que eu estivesse com os olhos baixos saberia disso, a presença da professora era imponente como só poucas pessoas sabiam ser. Era o negocio que eu havia comentado antes, ela parecia saber muito da vida. – Suzanna, eu só quero te ajudar, você me entende?

 Assenti.

- Eu sei. – disse baixo.

Verônica suspirou. – Olhe para mim. – Eu levantei a cabeça e encontrei seus olhos castanhos. Eles sempre foram tão sérios e respeitáveis, hoje carregavam uma parte gigante de simpatia, eu senti meus próprios olhos esquentarem. – O que está acontecendo?

Dei de ombros. – Nada demais, alguns problemas em casa. Vai passar.

Ela segurou meu ombro e sorriu um pouco. – Não vou te forçar a falar, mas saiba que sempre pode me contar qualquer coisa. – eu assenti novamente. – Ficará entre nós.

- Tudo bem.

Verônica me envolveu com um dos braços e caminhou comigo pela sala, catou minhas coisas em cima da carteira e as entregou para mim. Quando nós já estávamos na porta, o som dos saltos altos dela e o barulho abafado dos meus tênis allstar soando em acústico ficando para trás, ela me encarou. – Deixe os problemas de lado um pouquinho, - eu iria falar, ela me interrompeu. – você vai fazer isso se quiser passar. – quando eu não protestei, Verônica continuou. – Você não pode mais tirar uma nota vermelha, ou reprovará na matéria. Então sugiro que você vá até a sala do diretor e preencha uma ficha para que um dos auxiliares te ajude com isso, está bem?

Fiquei um pouco surpresa, mas acabei respondendo que sim. O grupo de auxiliares eram as últimas pessoas que passaram na minha cabeça quando pensei em meu problema com a matemática, embora o papel deles fosse semelhante ao de um professor particular. E agradeci internamente por Verônica me observar tanto, a vigilância dela havia me salvado do que provavelmente seria uma reprovação certa.

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