"O seu passado te segura com uma coleira/ mas pelo que me disseram, você bem que mereceu/ faço um blefe, diga o que quiser/ estou te observando de lá de cima/ eu imploro por atenção em pequenas doses/ deixo a cena com cheiro de rosas mortas"
– Loverboy, You Me At Six
Segurei a porta aberta, uma mão aparando o peso da madeira escura e a outra segurando com desleixo a alça da minha mochila. Olhei para a grande sombra cruzando os braços acima de mim. As palavras haviam saído dos lábios do meu irmão, mas eu apenas não conseguia compreender. Para crédito meu, as coisas que ele disse não faziam o menor sentido.
Franzi as sobrancelhas e inclinei um pouco a cabeça para o lado. Apontando meu ouvido para ele. Talvez assim eu pudesse ouvir o que ele realmente disse e não uma projeção causada pela minha propensão a mais do que muito sono pela manhã. – O que você disse?
Ele nem suspirou, seus olhos permaneceram em mim. Dois orbes escuros enfeitados por uma infinidade de cílios castanhos mais escuros ainda. – Eu vou te levar para a escola hoje.
Ri um pouco, me virando para sair logo em seguida. – Tá certo. – eu disse a ele.
Sua voz era desconcertantemente séria quando ele falou novamente. – Eu vou te levar para a escola hoje, Suzanna.
Por algum motivo, que eu não queria pensar muito sobre, eu tinha recebido ligações do meu pai e ordens murmuradas da minha mãe sobre como eu não poderia colocar os pés para fora de casa até que as aulas retornassem. A única explicação para essa reação atípica estava no fato de que meu irmão tinha conversado com meus pais. Ele tinha estado assustadoramente próximo a mim durante as semanas que se seguiram, acompanhando de perto os meus passos e ligações. Sobretudo as que eram marcadas com o nome de Kaio.
Meu irmão estava agindo como um psicopata desde aquela noite estranha em que Dafne esteve aqui.
Suspirei. Ao contrário dele, eu não tinha problema algum em demonstrar meu aborrecimento. – Eu não preciso de carona. – estreitei os olhos para a sua atitude antipática. – Ou de uma babá.
— Sei que você pensa que vai encontrar uma saída segura ou uma válvula de escape em Kaio. – ele passou as mãos grandes por seus cachos macios. – Sei que você pensa que ele te entende, que vocês tem essa coisa juntos, a partilha de algo que ninguém mais no mundo consegue entender. Mas não funciona dessa forma, Suzanna. O processo de se apaixonar já é muito mais complicado sem a interferência de coisas ruins na bagagem. Acredite em mim, eu sei que tudo parece uma boa escolha agora, mas não é. Não é. Eu não quero que você só perceba isso no fim. Você não está perdida, Suzanna. Você nunca esteve. Confie em mim sobre isso.
Olhei em seus olhos. – Isso é sobre a sua coisa com a Dafne? Porque se for...
— Não há muito coisa sobrando entre Dafne e eu. Ou melhor, - meu irmão riu amargamente. – não há muita coisa sobrando de Dafne e eu.
Todas as conversas e ameaças dos meus pais e o castigo incluso... Nada disso me fez vacilar ou temer. Mas as palavras do meu irmão ou a dor implícita nelas? Sim, sim, eu entendi o recado.
Depois de um silêncio tenso, meu irmão puxou uma mochila, que eu ainda não tinha notado, para as suas costas e pousou a mão morena na minha cabeça. Seu olhar fraternal me fez voltar aos cinco anos outra vez. – Você me importunou para que eu voltasse a agir como um ser humano normal. Eu estou indo para aquele inferno de qualquer maneira. Agora, você pode aproveitar a carona. É meu último oferecimento.
Mesmo que eu soubesse que aquela sua presença marcada no Lemoine tinha muito mais ligação com o fato de ele querer me proteger do que por ele querer se formar, eu não esperei que ele desistisse da oferta.
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Always Attract
Romance"Suzanna Reverton é uma garota de dezesseis anos, invisível, solitária e totalmente contraria a qualquer tipo de muita exibição. Kaio é tudo aquilo que ela odeia personificado em olhos de mel, sorriso de anjo e uma pose de badboy. Ela o conhece quan...