I n t e r l ú d i o

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"Adeus, meu quase amante /  adeus, meu sonho sem esperança / estou tentando não pensar em você / você não pode apenas me deixar? / até logo, meu romance sem sorte / virei minhas costas para você / eu deveria saber que você me traria dor? / quase amantes sempre trazem. " 

– Almost Lover, A Fine Frenzy.

Se havia uma coisa que aprendera, era que o tempo era tempo em qualquer parte do mundo. Embora só recentemente tenha necessitado distinguir o que era passado do que era presente. Confundiam-se, as vezes. Douglas deu de ombros enquanto jogava seu corpo no sofá e fechava os olhos desejando ter comprado mais cigarros. Não é como se estivesse saudável, todavia. Achava que depois de tudo pelo que sua mente teve de passar, todas as coisas sujas e todos os pecados proibidos, e sonhos e anseios e memórias viciosas... era um milagre que ao menos pudesse diferenciar algo. 

Eu te amo. – ela disse. Era como um dia de hoje a noite. Era como se estivesse realmente lá. Sentia o cheiro, o gosto e o sentimento. Sentia até as ondulações no ar que se arremetia contra o vento invisível. Pequenas partículas de poeira que dançavam na luz do abajur. A cabeça dela em seu peito, os dedos dela escrevendo seus nomes em sua pele. 

Parecia que realmente havia ficado lá; cravado, tatuado, rasgado para sempre. Entretanto quando ele passava a mão sobre a pele só sentia maciez e calor. O rude roce de seus dedos nunca poderia ser comparado aos dela. Eram suaves, mas não por vaidade, era só por ser realmente. Era a pele dela, composta por seu próprio gene. Única. 

Oh, claro que havia se dado conta disso. Mas até lá vários tons de louro já preencheram suas mãos, varias variedades de maciez já haviam se esfregado em sua pele. Bocas vermelhas tinham estado na sua. Olhos perfeitamente marcados por rímel já haviam borrado por sua recusa. Mas se havia uma coisa que ele nunca tinha conseguido encontrar, que havia o frustrado como inferno, foi aquela nuance de azul. Era azul céu limpo como a casa dos arcanjos. Azul provocante. Azul dominante. Azul doloroso. Azul por Azul. Azul de perda. Azul de dor. Azul que tingia a sua vida de pesares e pesadelos, que o fazia ser quem não era. Não era culpa dela. Não, não, era realmente, realmente tudo culpa dela. Dafne era culpada.

Diabos. Tudo isso o fizera lembrar a irmã. A pirralha tinha cuspido na cara dele o que ninguém mais teve coragem de lhe dizer. Se bem que isso era bem a cara dela. Embora, na maior parte do tempo, ela o fizesse suave e docemente. O momento que percebeu o que estava acontecendo, o quanto a tinha machucado, foi doloroso. Apegou-se a imagens da infância. Felizes e descomplicadas. Sorriu com as lembranças da pequena garota sempre o idolatrando. Não era papai, era ele. Era ele quem era o seu herói. Desde pequena tinha aquela coisa com ele. Buscando-o com suas mãozinhas se ele fosse muito longe. Sorrindo sorrisos inocentes se ele estava triste. Irmãzinhas têm esse tipo de dom de fazer com que você se sinta meio pai e meio irmão. 

O pior foi o olhar de decepção. Suspirou sentindo-se cansado. Sentia-se como um homem velho. Onde ela possivelmente tinha ido? O relógio marcava uma hora muito tarde para ser aceitável. Imaginava o pior, estava a ponto de partir em uma busca cega quando a porta abriu de rompante. Mamãe já estava dormindo, afogada em sua depressão. Só poderia ser Suzanna. 

Douglas caminhou de encontro a porta só para vê-la passar por ele como um furacão. Não olhou em seu rosto. Parecia tão perdida que dava dó. Ele ficou olhando a escada que ela tinha subido tão rápida e perigosamente. Correu suas mãos pelo cabelo. Não se lembrava muito do que fazer com adolescentes problemáticos. Deus, ele era a droga de um! Não deveria estar pensando em formas de lidar com o comportamento de sua irmã de quase 17 anos. Mas quem mais iria senão ele? A mamãe, depressiva e triste? Ou o papai, do mesmo modo, só que com mais a  adição de centenas de quilômetros distante? 

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