“Nesse mundo cheio de pessoas existe uma me matando/ e se nós só morremos uma vez, eu quero morrer com você.” (Something I Need, OneRepublic)
- Uma folha de papel quase parcialmente amassada, escrita em uma caligrafia masculina e um pouco borrada, que foi encontrada dentro de um dos livros preferidos de Selene Skyker.
12 anos antes
— Tem certeza de que não quer que eu os acompanhe? – Selene sorriu ao ouvir a voz preocupada do pai de seus filhos ao telefone. Não era como se eles estivessem indo para o Alasca ou algo parecido, ela tentou explicar pacientemente à Daniel, eles só iriam para o litoral pegar um pouco de sol. Alguns longos quilômetros de onde moravam, mas, mesmo assim, uma viagem bastante tranquila.
— Acho que posso dirigir até o litoral sem quebrar uma unha, Dan. - ela riu. O som chamando a atenção de quem quer que passasse por ali para os tons cristalinos de sua voz. — Prometo que não deixarei os garotos comerem nada impróprio.
Daniel suspirou do outro lado da linha enquanto passava seus dedos distraidamente pelas teclas de um elegante piano em uma sala especial na casa deles, Selene podia dizer isso sem nem ao menos estar no mesmo recinto que seu marido. O som suave que flutuava, um pouco afônico, mas belo, até o seu ouvido, sussurrava-lhe segredos sobre melancolia e preocupação. — É uma viagem um pouco longa demais para você dirigir sozinha, Selie. Tem certeza de que não quer que eu os acompanhe? – Perguntou-lhe Daniel pelo que pareceu ser a décima vez só durante aquele telefonema. As teclas de seu piano começaram a formar uma melodia sincera; Selene imaginou Daniel sentado em frente ao bonito instrumento, o telefone no viva voz descansando próximo a ele, enquanto seus dedos morenos reproduziam as notas de Canon in D de Pachelbel. Ouvindo a melodia, ela se perguntou pelo que, possivelmente, ele estava se desculpando, embora tivesse suas suspeitas. A tristeza, a confusão e o arrependimento do marido eram claros demais para Selene, talvez porque ela o conheceu e o amou desde os 17 anos.
— Nós vamos ficar bem, Daniel. – Selene sussurrou para ele, tentando colocar em sua voz uma certeza que não possuía, embora nunca fosse admitir isso em voz alta.
A melodia que Daniel reproduzia se tornou cada vez mais clara, mais sombria, mais triste, quase perdendo a essência que a fazia ser Canon in D e se transformando em algo mais. — Nós falhamos, Selene. Eu falhei. - ele disse em um fio de voz.
— Nenhum de nós falhou em nada, Dan. Essas coisas acontecem. Nós fizemos bem. – Selene respirou fundo uma vez. — Os garotos vão entender algum dia.
— Eles não vão. – Daniel disse com uma certeza que fez o coração de Selena fraquejar uma ou duas batidas até que voltasse a seu ritmo normal. Perguntou-se por um momento se o marido estava certo, se os filhos a odiariam um dia. Pensou nas coisas que diziam por ai sobre como ser mãe mudava sua perspectiva da vida, ela não podia concordar mais. Agora mesmo, odiava seus atos passados, as pequenas e grandes coisas más que uma vez fizera, seus erros, tudo que a faria ser um pouco distorcida diante dos olhos de seus garotos. Deus, queria ser perfeita para os seus meninos. Queria ser a melhor mãe do mundo, mesmo que isso fosse meio que impossível.
Selene mordeu os lábios, tentando pensar em algo para tirar um pouco do peso de cima dos ombros do pai de seus filhos. — Você acha que eles querem que a gente seja infeliz só para manter a fachada, meu bem? Você acha que eles querem que a gente minta para eles?
As teclas do piano pararam de fazer som e Selene ouviu o marido suspirar através da linha telefônica. — Nós estamos sendo egoístas, eles só tem 6 e 7 anos. São tão pequenos para entender qualquer coisa, ou enfrentar o mundo sem uma estabilidade.
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Always Attract
Romance"Suzanna Reverton é uma garota de dezesseis anos, invisível, solitária e totalmente contraria a qualquer tipo de muita exibição. Kaio é tudo aquilo que ela odeia personificado em olhos de mel, sorriso de anjo e uma pose de badboy. Ela o conhece quan...