Felipe

241 42 40
                                    

16 de Novembro

- Detido de novo? - gritou meu pai.
Minha mãe estava parada, ao meu lado, segurava forte em minha mão.
- Ele com certeza tem uma boa explicação para o ocorrido -dispara minha mãe, senti que ela tinha medo que meu pai tomasse alguma medida drástica.
Meu pai olha para ela, com uma expressão séria no rosto.
- Acho bom ele ter uma ótima explicação - ele fez questão de mostrar sua cara de desgosto para mim.
- na verdade - me aproximei mais do corpo de minha mãe - eu não tenho uma explicação para isso -desabei.
- Eu sabia - ele depositou toda sua força bruta no seu punho e o afundou no meu rosto.
- Nãaao - minha mãe gritou em desespero - Para John, ele é só uma criança.
- Cala a boca Maggie.
Tentei me levantar, mas ele me acertou com um chute forte em meu peito, minha respiração começou a falhar.
- temos que ensinar esse garoto a ser um homem de verdade e não um delinquente de merda.

O que meu pai teria coragem de fazer comigo ao descobrir a verdade?
Uma escuridão tomou conta de mim.

17 de Novembro

-Bom dia, mãe e pai - me sentei na cadeira ao lado de minha mãe, meu pai estava na cadeira a frente, passando manteiga em uma torrada, minha mãe estava botando café na xícara.
- Bom dia meu filho - disse minha mãe sorrindo.
Meu pai ainda demonstrava raiva pelo acontecimento anterior.

-Como você está filho? Você nos deu um baita susto ontem desmaiando.
-

estou bem mãe!Obrigado por perguntar.

Será que essa seria uma boa hora para contar sobre minha bissexualidade?

- pode me passar a torrada mãe? Por favor - disse.
- não - disse meu pai apertando o pulso de minha mãe, que já estava pronta para me dar o que pedira.
Minha mãe assustada, perguntou:
- por que?
Ele rapidamente responde:
- Quero que Felipe passe fome e miséria para se tornar um homem direito, e não um projeto de delinquente que volta e meia é detido.
- não acha que tá pegando um pouco pesado de mais John?

Com toda certeza, aquela não era uma boa hora para contar sobre a minha bissexualidade,mas eu não podia guardar mais isso, só tinha contado a uma pessoa até agora, mas não era o suficiente, eu já estava sufocado entre a mentira de ser heterossexual, não conseguia mais guardar o que eu era, eu não podia mais.
- temos que conversar - desabei.
- a meu caralho, o que foi agora? -meu pai se levantou, a raiva era evidente na sua expressão.
- o que eu tenho para contar para vocês, não é de agora e não é uma escolha minha - Lágrimas já escorriam pelo meu rosto, já estava sentindo o gosto salgado em minha boca.
- Não, não, eu não acredito nisso -meu pai apertou forte a xícara - eu não posso acreditar no que você está para me dizer - ele apertou mais forte sua xícara.
- calma John - minha mãe se levantou da cadeira, apertou o ombro de meu pai.
- Pai você tem que entender que eu não escolhi isso, eu não escolhi nascer diferente, isso não é uma escolha - mais lágrimas escorreram pelo meu rosto.
- eu não criei filho para ficar com outro homem - Ele jogou a xícara que estava em sua mão, me abaixei, e escutei a xícara se estilhaçar na parede.
- John fica calmo, por favor - minha mãe apertava mais forte o ombro de meu pai.
- Cala a boca - ele gritou - Já não basta ele ser um delinquente de merda, ainda tem que ser viado? Eu não aceito esse tipo de coisa

Eu sabia que esse momento iria ocorrer algum dia, eu tinha ele gravado em minha mente, de várias formas, e eu tinha medo dele.

Meu pai se jogou contra mim e me acertou com um soco no rosto.
- eu não criei filho para foder com outro homem, eu criei um filho macho, para comer todas as meninas do bairro - ele me socou mais uma vez, mais lágrimas escorreram pelo meu rosto ,e a dor meu consumia, metal, física e sentimental.
A essa altura não importava contar que eu também gostava de meninas, tudo que importava agora era meu segundo lado.

- ajuda por favor - Minha mãe saiu em disparada para fora da casa.
- Viadinho de merda - meu pai continuava a me socar.

Fechei meus olhos a espera da morte, eu sabia que se apanhasse bastante a morte bateria em minha porta, pelo menos era o que eu acreditava, e então eu poderia me entregar a ela e acabar com todo o meu sofrimento.
Senti meu pai ser levantado de cima de mim e todo o peso e a dor foram reduzidos em 50%.
- Tá louco cara? Quer matar seu filho? - era Alfredo nosso vizinho da casa ao lado.
Meu pai se aproximou de mim e depositou toda sua raiva no cuspe que atirou no meu rosto.
- eu prefiro ele morto, do que vê-lo com outro homem.
Mais lágrimas escorreram pelo meu rosto. Eu não podia acreditar que isso tava acontecendo.
- Vem pra fora, tu ta precisando de ar - Disse Alfredo levando meu pai para fora.
Minha mãe se aproximou de mim. - Filho, vai para o trabalho, quando tudo isso passar, eu te ligo para você voltar, é melhor assim. Seu pai ta com a cabeça quente.Ele disse muitas coisas da boca para fora, é melhor vocês ficarem um tempo sem se ver - ela me abraçou - Te amo.
- mesmo depois de hoje? - desabei nos braços dela.
- Filho eu lhe gerei para ser uma pessoa feliz, não importa sua sexualidade, não importa suas escolhas, nada vai abalar o meu amor por você, sua sexualidade é um mero detalhe, você é uma pessoa boa, isso que importa.
Mais lágrimas caíam.Abracei ela mais forte, e tive a certeza que o único lugar que poderia me sentir vivo de novo depois de hoje,seria em seus braços.
- Mesmo depois de tudo que eu fiz nos últimos dias?
- Você estava tentando chamar atenção, da forma errada eu sei, mas você é adolescente é normar cometer erros, um atrás do outro, mas eu sei que você é uma ótima pessoa.
Abracei ela mais forte.
- mãe, como você é perfeita -disse.
Corri para a frente de casa, meu pai estava sentando no gramado, chorando.
- Eu te amo pai, mesmo depois do que você me disse - disse.
- Sai daqui sua aberração - ele gritou.
Mais lágrimas escorreram pelo meu rosto.
E naquele momento eu tive a certeza de que palavras doem mais do que ações, principalmente quando são ditas por pessoas que você ama e se importa.
Corri, peguei minha bicicleta e pedalei o mais forte que consegui em direção ao novo emprego, com lágrimas escorrendo em meu rosto.

Diversão, bebidas e Algumas Drogas! Onde histórias criam vida. Descubra agora