Cupido Inverso

5.1K 440 159
                                    

Nunca imaginei que Hermione Granger pudesse ser tão vaidosa. Juro que esperei na frente de seu quarto por pelo menos uma hora, antes dela sair com um vestido amarelo e me perguntar se estava bom.

– Você está parecendo um palhaço. – eu disse emburrado, e ela fechou a porta na minha cara. Foi um grande erro, porque depois disso ela demorou mais uma hora para arrumar outra roupa. Quando saiu novamente, agora com um vestido lilás, eu forcei meu melhor sorriso, e disse que ela estava fabulosa.

– Sério mesmo? Não sei se está combinando com minhas sandálias... – ela suspirou, rodopiando ao se olhar no espelho do quarto. Eu revirei os olhos.

– Francamente, Hermione. Desde quando você se preocupa com isso? Nem sei por que você está se arrumando tanto, se só vamos ao Beco Diagonal. Esse vestido está ótimo! Podemos ir agora? – eu falei, já de saco cheio da nova Hermione.

– Me deixa, Draco, ok? Me preocupo com o que eu quiser, tá bom? Eu é que pergunto por que você está se preocupando tanto comigo? – ela soltou um meio sorriso ao proferir a última pergunta, e saiu saltitando pela escada.

Um casal que passava pela calçada da rua em que fica o Caldeirão Furado podia até assumir que eu e Hermione éramos um casal esnobe da vizinhança, porque Hermione usava a sombrinha rosa da minha mãe, e com um par de óculos escuros redondos, caminhava com o nariz empinado. Achei esse novo estilo dela muito esquisito, e por isso perguntei o por quê de ela estar agindo daquele jeito.

– Odeio quando as pessoas na escola ficavam olhando pra gente e pensando por que nós andávamos juntos, e agora que ninguém conhece a gente, pensei em ficar parecida com você. – ela riu quando eu fiz uma careta de indignação. – Qual é, Malfoy? Agora sou uma versão feminina sua!

– Hermione, estou me perguntando se você tomou seus remédios hoje? Porque você anda muito estranha, sinceramente. Acho que as férias fizeram algo com você. – ela soltou uma gargalhada, e sem me responder, me puxou para dentro do Caldeirão Furado.

Com minha varinha, toquei nos tijolos certos que abriram passagem para o famoso Beco Diagonal. Estava incrivelmente vazio, e me senti alegre por isso, porque poderia me sentir à vontade sem ser julgado pelas pessoas, principalmente por estar com Hermione. Ela parecia estar muito feliz, e agora já não estava mais fazendo sua performance de garota mimada, correndo pela calçada de paralelepípedos, girando a sombrinha e rindo como uma criança. Toda essa alegria parecia ter me contagiado também, e me juntei a ela.

E isso continuou até chegarmos à sorveteria de Florean Fortescue. Nós estávamos rindo como loucos, e de repente, Hermione começou a acenar para alguém que estava sentado sob um dos guarda-sóis da sorveteria. Eu espremi meus olhos para enxergar através do sol e percebi que aquele indivíduo era o Oliver Wood.

Antes que eu pudesse falar alguma coisa, Hermione abraçou Oliver como cumprimento, e começou a conversar com ele e me ignorando completamente. Eu pigarreei, e chamei Hermione para um lado.

– Vem cá, você quis vir aqui por causa dele, né? – eu sussurrei, me sentindo traído. Hermione corou.

– Achei que eu tinha falado pra você que iríamos encontrá-lo por aqui... – ela mordeu um lábio, e eu sabia que ela sabia que eu não sabia. Ela suspirou. – Está bem. Eu não avisei porque eu sabia que você não ia me deixar vir.

– Claro que eu deixaria, eu não mando em você! – eu respondi, aumentando o tom da voz, mas ainda inaudível para Oliver, que nos esperava com as mãos no bolso, constrangido. – Mas deveria ter avisado, pra eu não vir até aqui! – eu estava soando magoado, para deixá-la com peso na consciência. Não que eu estivesse mesmo, me poupe!

– Desculpa, Draco! Você sabe que eu gosto muito dele – ela sussurrou com um fio de voz, e seus olhos cor de amêndoas brilharam. Mesmo sentindo-me rejeitado, assenti com a cabeça.

– OK, mas vou ficar aqui, está bem? Não vou voltar pra casa e me afogar no tédio! – ela revirou os olhos, mas aceitou minha condição. Na verdade, só queria ficar para poder impedir que os dois se agarrassem em público, eu não aceitaria nunca aquilo.

Nós voltamos para a mesa que Oliver estava agora sentado, e ele e Hermione continuaram conversando. Eu apoiei minha cabeça na mão, observando o ambiente, e fugindo um pouco do assunto que ambos conversavam. Então, nossas taças de sorvete chegaram, a garçonete ruiva piscou para mim enquanto colocava-as na nossa mesa. Estiquei minha perna quando ela estava prestes a colocar a taça de Oliver, fazendo-a derrubá-la em seu colo.

A garçonete lançou-me um olhar indignado, e começou a se desculpar e pegar lenços de seu avental para limpar a blusa de Oliver, o que, pelo que percebi, irritou bastante Hermione. Quase que não consegui segurar minha risada.

Depois de termos terminado nosso sorvete – o meu era de menta com abóbora – percebi que o sol já estava se pondo, e o Beco Diagonal começava a encher. Avistei aquele sem miolos do Neville Longbottom e a enorme Emilia Bulstrode passando pela sorveteria sem nos perceber, o que foi um alívio para mim.

– Então, acho que já devo ir, Mione. Foi um grande prazer encontrar você aqui. – ele sorriu, e eu quase consegui ver Hermione derretendo literalmente. – Podemos marcar outro dia, talvez em outro lugar?

– Claro que sim! – Hermione respondeu imediatamente, sorrindo da cor de um tomate. Eu revirei os olhos, já me levantando. Eles levantaram também, combinando o próximo encontro, e se despedindo.

Avistei a lua quando saímos do Caldeirão Furado, cheia e brilhante sobre o céu estrelado. Eu e Hermione andamos pela calçada em silêncio, de modo quase constrangedor.

– Desculpe por estar estragando suas férias, Draco. – Hermione falou de repente, quando chegamos ao ponto de aparatação. Eu não podia aparatar, mas ela podia, por isso estávamos lá.

– Não se preocupe, eu estraguei seu encontro. - Hermione me olhou incrédula.

– Então foi você que fez a garçonete derrubar o sorvete nele? – ela começou a estapear meu peito, mas segurei seus braços fazendo-a parar. – Me solta! – ela riu, tentando se desvencilhar.

– Vamos voltar para a mansão, depois você se vinga de mim! – eu propus, soltando-a.

– Você que pensa que vai sobreviver depois dessa, Draco Malfoy! – ela disse, segurando a minha mão, e nos levando para a minha casa.

A Maldição Dos MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora