Escapamos de Hogwarts

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Passou-se uma semana e Hermione já tinha feito todo um plano para a nossa ida clandestina à Hogsmeade. Iríamos na sexta-feira à tarde e voltaríamos na hora do jantar, para despistar as pessoas que sentissem nossa falta, ou seja, muitas. O plano não podia dar errado por causa do jogo de quadribol no dia seguinte - e eu não podia levar detenção e ficar ausente.

Durante o café da manhã, Hermione não parava de olhar pra mim. Tipo, eu sei que eu sou lindo e tudo o mais, mas, não precisa estragar o plano babando por causa do meu lindo e charmoso cabelo. Enfim, tivemos aula de Herbologia e depois de Poções. O tempo se arrastava lentamente e tudo o que eu conseguia pensar era em nosso plano.

O almoço é uma das horas em que ou você rói as unhas ou você come, e eu escolhi roer as unhas. Meu prato com bolo de carne e amêndoas estava intacto enquanto eu cumpria o trabalho de deixar minhas unhas no talo. Até Blásio ficou intrigado com meu nervosismo. Às duas em ponto, horário da aula de DCAT, esperei por Hermione atrás de uma estátua de uma velha caolha, lugar que Hermione pediu pra eu ficar esperando. Ela chegou logo em seguida, com uma capa-tapete nos braços.

– O que é isso? - me referia à capa-tapete.

– Uma capa da invisibilidade que roubei do malão do Harry agora há pouco. - ela respondeu arfando. Contemplei-a por um instante.

–Por que você está fazendo tudo isso por minha causa, Hermione? Por que você aceitou matar as aulas sem nenhum ressentimento? Por que de repente você quer infringir as regras? - Hermione não respondeu imediatamente. Ela olhou para as mãos e sorriu corada.

– Porque você é um idiota e não conseguiria viver sem mim. Vamos! Quero voltar antes do anoitecer! - ela se virou e eu sorri para suas costas, confiante de que ela escondia algo.

Hermione ergueu a varinha e fez um feitiço que, de alguma forma, abriu a estátua da velha, nos mostrando um imenso túnel subterrâneo.

– Aonde isso nos levará?

– À Dedos de Mel. Mas não se preocupe. Estamos com a capa da invisibilidade. - entramos no túnel. Estava escuro, e além disso, úmido. Hermione se enrolou na capa e apenas sua cabeça era visível. Eu já havia usado uma capa dessa em um passado distante. Passaram-se dez, quinze, vinte minutos subindo e descendo aquele túnel sem fim. Quando finalmente Hermione abriu uma porta pesada de cimento, ela deixou que eu dividisse a capa com ela. Nossos pés eram os únicos visíveis. Estávamos definitivamente na Dedos de Mel. Ocorreu-me roubar uns doces, mas Hermione não deixou.

De repente, ouvimos passos e vozes. Hermione desvencilhou-se da capa e com as pontas dos pés, foi ver o que estava acontecendo. Nos ajuntamos atrás de uma pilha de caixas de sapos de chocolates. Professora Trelawney estava no caixa acertando as contas de uma caixa de varinhas de alcaçuz e um sapo de chocolate. A professora aproximou-se de nós, e Hermione, tropeçando, entrou debaixo da capa comigo, batendo a cabeça na minha e pisando no meu pé.

– Que diabos! - eu deixei escapar. Professora Trelawney e o homem da caixa registradora viraram-se para nós, mas ao mesmo tempo não conseguiam nos ver.

– Demônio! Quer calar a boca!? - Hermione gritou, me abraçando, para seus pés não aparecerem fora da capa.

– Merlin! Almas Penadas! Vozes do Além! - Trelawney gritou, arregalando seus olhos esbugalhados, e deixando suas compras caírem no chão. Eu segurei meu riso, e continuei parado, esperando. Meus ombros doíam - claro, devido ao peso extra da Hermione apoiada em mim como um bicho preguiça. Nossos narizes estavam a alguns centímetros de distância.

De repente, Hermione espirrou.

Trelawney ficou boquiaberta.

– Ai meu Deus! Você me paga! - gritei, cuspindo as palavras nela.

– Não é minha culpa se você cheira a Fuinha! - Trelawney fez uma cara de horror hilária, mas eu não podia rir, obviamente.

– Acho melhor eu sair e ir chamar um exorcista. Essa loja está possuída pelo Sinistro! - a professora se afastou em direção à porta. Hermione soltou-se de mim, e percebi que ela tinha uma ideia. Li em seus lábios: "Seguir Trelawney".

Nos arrastamos até a porta, e quando a professora abriu a porta, eu a segurei. Soltei a porta quando passamos, mas o homem que estava no caixa percebeu que a porta havia ficado tempo demais aberta e começou a gritar: "Eles saíram! Os espíritos saíram! Graças a Merlim!"

Olhei pra cara da Hermione e ela olhou pra mim. Começamos a rir sem parar.

***

A livraria estava vazia como sempre e cheia de fumaça. Ed fumava um cachimbo. As prateleiras estavam cheias de livros que eu nunca havia visto. Hermione contou que eram livros trouxas. Não sei bem se os trouxas escritores também sabem escrever como os bruxos. Ela também brigou comigo quando eu disse isso, falando algo sobre preconceito, mas, pra ser sincero, eu nem prestei atenção. Eu sei, é claro, sobre os conceitos étnicos e morais que a Hermione diz sobre preconceito, porque ela é um alvo. Mas eu não me importo muito. Principalmente agora que devo me preocupar com o meu destino traçado.

Tiramos a capa, e Hermione cumprimentou Ed.

– Onde está a garota nova?- Hermione perguntou.

– Emily? - Ed perguntou com seu sotaque caipira.

– Quem me chama? - uma voz cantarolou dos fundos da loja. Aquela voz me lembrava de rosas e jardins. E o nome dela, Emily, também deixava aquela impressão de leveza e delicadeza. Foi aí que comecei a querer vê-la.

Emily saiu do escuro segurando uma pilha de livros.

Hermione deixou cair o livro que ela tinha escolhido no chão.

Emily era definitivamente a pessoa mais feia que eu já vi na minha vida. Arrependo-me agora do que falei alguns parágrafos atrás. Emily era uma velha de mais ou menos 70 anos careca e com uma tatuagem de tartaruga na testa. Ela deixou os livros em cima da mesa, e só por pena, peguei o primeiro e comprei. Hermione entendeu imediatamente que deveríamos ir embora e que aquele encontro fora uma piada. Nos despedimos e voltamos para o castelo.

Quanto a isso, decidimos ir pelos portões (não queria ser chamado de espírito do além novamente na Dedos de Mel). Chegamos na hora do jantar. Ninguém havia sentido nossa falta.

A Maldição Dos MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora