Março

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Os encontros voltaram ao normal depois disso. Estava começando a ficar entediado. Visitei a cabana de Hagrid com uma lufana escocesa chamada Ailsa, joguei bexigas com uma corvina loira muito bizarra com sobrancelhas roxas, e comprei bombas de bosta com Rabia, uma garota de cabelos rebeldes parecidos com os de Potter.

Também nadei no lago Negro com Eluned, uma grifinória de cabelos espetados e descoloridos, quando o tempo clareou e finalmente parou de chover. Também tive que aguentar uma garota chamada Jennifer, que só falava sobre mitologia egípcia. Houve muitos encontros em Março, poucos os que eu realmente gostei, para ser sincero. As melhores horas foram quando eu estava relaxando na piscina-banheira do banheiro dos monitores-chefes, e quando estava fazendo meu turno à meia-noite.

Apenas falava com Hermione a respeito da monitoria e dos encontros, mas, fora isso, estava passando bastante tempo com Blásio Zabini, como nos tempos antigos (não que eu seja assim tão velho).

Contudo, mesmo assim, andar com Blásio não era mais a mesma coisa. Ele continuava o mesmo, óbvio. Acho que fui eu que mudei. Não sei exatamente como e em quê eu mudei, mas sei que estou diferente, e é por isso que resolvi sair mais com Hermione, já que estamos tão envolvidos com esse negócio da maldição. Embora as pessoas achem a nossa amizade estranha, eu não me importo – depois de ter conhecido uma loira de sobrancelha roxa, nada mais importa -.

Faltavam alguns dias para o jogo de quadribol entre Grifinória e Lufa-Lufa, e eu estava arrumando coragem para convidar Hermione para ir comigo, não como um encontro, obviamente. Apenas uma confraternização amigável. Nada mais.

Ela apareceu no corujal na manhã de sábado toda feliz e saltitante, quando eu estava mandando uma carta para minha mãe.

– Você não vai acreditar! – ela gritou com a voz esganiçada, o que parecia um morcego guinchando.

– Calma! O que aconteceu? – perguntei, recuando. Hermione respirou profundamente e colocou a mão no coração.

– Consegui um encontro pra você com Verônica Malcolm! – ela começou a pular histericamente e eu recuei alarmado. Depois de alguns segundos, em que Hermione se acalmou, consegui ter fôlego para falar.

– Hum... E quem seria essa Verônica? – perguntei acanhado. Hermione olhou para mim incrédula.

– Como assim você não sabe quem é Verônica Malcolm? – eu dei de ombros. – Ela é simplesmente... Ela é a maior colecionadora de livros do mundo bruxo, e, detalhe à parte, neta de Cornélio Fudge. – meus olhos se arregalaram.

– Neta de Cornélio Fudge?! Tipo assim, neta do Ministro da Magia? – eu quase gritei. Essa seria minha chance de garantir meu emprego quando me formasse.

– É, mas isso não importa. Eu invejo a coleção de livros dela. Ela tem até livros trouxas, acredita? – revirei os olhos. Fiquei mais interessado na linhagem da tal Verônica do que nos livros dela.

O dia do jogo finalmente chegou. Hermione preparou uma cesta de piquenique para mim e deixou-a na Sala Precisa para eu pegar depois. O dia estava bonito pela primeira vez em meses, e me senti feliz por isso. Peguei a cesta e corri para as arquibancadas. Avistei-a acenando para mim, sorridente. Como Verônica era lufana, sentei-me ao seu lado na arquibancada da Lufa-Lufa. Ela era muito bonita, tinha cabelos ruivos e o rosto redondo. Sorriu e vi que usava aparelho. Engoli em seco. Ela tinha pintado as bochechas de amarelo, a cor da Lufa-Lufa. Mostrei a cesta de piquenique, para indicar que sairíamos depois, e ela assentiu.

– Você é o Draco, não é? Ouvi dizer que está procurando sua alma gêmea, e resolvi te ajudar. – ela inclinou a cabeça e soltou um guincho que presumi ser uma risada. Soltei uma risada forçada.

– Sim, e pensei de levá-la para um piquenique.

– Seria fantástico. Ah, olha! O jogo vai começar! VAI ZACH! – ela gritou quando Zacharias Smith piscou para ela, segurando-se na vassoura. Smith nunca fora um bom apanhador. Ele só estava substituindo interminavelmente o posto de Cedrico Diggory, que morrera dois anos atrás. Luna Lovegood narrava o jogo, ou melhor, narrava o horóscopo e descrevia o céu, mas enfim. Tentei puxar conversa com Verônica e gritar tão forte quanto ela, quando a Lufa-Lufa marcava ponto. O problema era: Lufa-Lufa marcou apenas trinta pontos. Grifinória está em uma vantagem de duzentos pontos, incrivelmente, e já era quase hora do almoço.

Nunca pensei que diria isso, mas, finalmente Potter pegou o pomo e o jogo acabou. Verônica começou a praguejar e dizer todos os nomes feios possíveis enquanto descíamos a arquibancada. Estava meio óbvio que Grifinória ganharia, mas não fiz nenhum comentário, temendo levar um soco na cara.

Finalmente chegamos à beira do Lago Negro, e estendi a toalha de piquenique. Nós nos sentamos e tentei puxar assunto.

– Então... Você torce pelo Chudley Cannons? Eles são demais, não são? – eu disse, tirando uma caixa de bombons da cesta de piquenique. Verônica bufou irritada.

– Não acredito que Zach não pegou o pomo novamente! Inaceitável! Sempre disse para Susana que Zach não era um bom apanhador! E agora saímos das semifinais! Injusto! – ela continuou falando sobre o jogo, mas eu apenas revirei os olhos. Nem eu que sou um rapaz falo tanto assim sobre quadribol, Deus me livre! Abri a caixa de bombons e comecei a comer sozinho, enquanto ela tagarelava. Os bombons estavam magníficos, eu tinha que perguntar onde Hermione havia comprado aqueles chocolates deliciosos. Tinham até o cheiro dos cabelos de Hermione, que eu podia até imaginar ela os comprando. Quando me dei conta já tinha comido todos, e o rosto de Hermione oscilou no rosto de Verônica enquanto ela falava.

– Hermione... Hermione... Hermione... – eu comecei a sussurrar de um jeito abobalhado, admito que até Verônica parou de falar e me fitou com as sobrancelhas erguidas. – Eu preciso da Hermione... – pisquei algumas vezes, tentando tirar Hermione da cabeça, mas era simplesmente impossível. E, bem... Eu não queria tirá-la da cabeça. Não, espera. Eu tentei OK, nada de bullying com a minha pobre pessoa. Quando abri os olhos momentaneamente, confundi Verônica com Hermione – o que seria improvável e possivelmente estranho, se eu estivesse em sã consciência. – Você é a Hermione? – eu indaguei confuso.

– Não, imbecil! Eu sou a Verônica, ainda se lembra de mim? Fomos ver o jogo de quadribol agora há pouco... O que há de errado com você? – Verônica cuspiu, quase sem voz de tanto gritar. – Hermione deve estar no Salão Principal, almoçando. – quando comecei a me levantar, a ruiva me puxou para baixo novamente. – E não vou deixar você passar vergonha no estado em que você está. Pode ficar aí que eu vou chamá-la.

– Ela vai vir então? – eu perguntei me sentindo muito feliz subitamente. Isso parece estranho e talvez inconveniente para você, porque, como sou uma pessoa totalmente empática, sei que se eu estivesse em seu lugar, eu exclamaria um enorme “Mas que diabos?!”, porém, na situação em que eu me encontrava sentado em uma toalha de piquenique babando pela Hermione, eu não pude perceber o quão ridículo eu fui. Alguns minutos de longa espera, a cabeça flamejante de Verônica apareceu ao lado de Hermione, que estava deslumbrante com... Hum, roupas normais. Ela parecia preocupada.

– Hermione... – eu chamei, entre uma risada tosca que nunca imaginei ser capaz de dar. Hermione fez uma careta. Resolvi conquistá-la declamando um soneto que decorei uma vez para falar para Pansy Parkinson, quando estávamos bêbados. – Se te comparo a um dia de verão, és por certo mais belo e mais ameno. O vento...

– Mas que diabos... – Hermione sussurrou, me estudando enquanto eu falava monotonamente. De repente ela me levantou pelo braço, e me puxou para a entrada no castelo. – Sinto muito, Verônica, mas acho que sei o que está havendo... Vamos, Draquinho. Temos muito o que fazer. – ela disse, e eu soltei outro sorriso abobalhado.

A Maldição Dos MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora