A Maldição Dos Malfoy

Novembro

– Hum... Er... Oi. - eu cumprimentei a menina de cabelos azuis à minha frente. É que, concordemos, meninas com cabelos azuis é um pouco inesperado. Ela sorriu e se sentou no chão.

– Sente-se também! - ela convidou, mas quem ia sentar no chão gelado da torre de Astronomia? Eu só sentei porque não queria ser mal educado. - Hermione me contou de você. Na verdade, ela que arranjou esse encontro, por que ela também não está aqui?

– Porque esse é um encontro romântico, e não pode ser de três. - eu disse como se fosse óbvio. Ela deu de ombros.

– Não estou acostumada com encontros. - ela comentou, piscando seus cílios grudados por rímel azul. Mas essa menina gosta de azul, hein.

– É só uma conversa a sós que resulta em um beijo, talvez. - ela ergueu as sobrancelhas. - Você quer me beijar? - aquela pergunta me pegou de surpresa. Não, eu não queria beijá-la. Mas, pensando bem, ela até que era bonita, afora os cabelos tingidos e os cílios grudados. Ela era cheinha, os braços fortes e uma barriga protuberante da camisa branca da escola. Estava sentada de perna de índio, e eu podia ver sua calcinha (azul também ¬¬), já que estava de saia. Mas, seus olhos castanhos e redondos eram estranhamente bonitos, e seus lábios eram carnudos, como aqueles morangos silvestres que nunca tem no café da manhã. Mas, enfim. Eu concordei com a cabeça e ela se aproximou desajeitada, coitada, e eu nem sabia o nome dela. Hermione nos apresentara rapidamente, acho que era Meredith, nunca soube.

Depois que ela me deu um beijo (um ótimo beijo, aliás), eu tive o impulso de me levantarr e ir embora, como se ainda fosse uma aposta. Mas era a minha vida. Eu tinha que me apaixonar, e não beijar mais garotas. Eu enterrei o rosto nas mãos e apertei os olhos, esperando acordar de um pesadelo, ao lembrar tudo o que Olivia havia dito duas semanas atrás.

– Você está chorando? - Meredith perguntou, passando os dedos com unhas pintadas de azul pelo meu cabelo.

– Não. - eu disse simplesmente. Ela sorriu quando eu levantei a cabeça.

– Você quer dar comida para a lula gigante? - ela perguntou de repente. Percebi que ela queria que eu esquecesse qualquer fosse a coisa que estivesse na minha cabeça. Eu sorri e balançei a cabeça em negativa. - Então o que quer fazer?

– Conversar.

Agora eu estava na sala de reuniões com Hermione, sentado, com as mãos entrelaçadas, respondendo ao seu interrogátorio.

– Meredith (acho que foi isso que ela falou) gostou muito de você. Ela perguntou se você quer participar do clube das bexigas? - Hermione perguntou, me lançando um olhar de semi-aprovação.

– Eu, hein. Bexigas são para terceiranistas.

– Ela tem dezesseis anos, Malfoy.

– Ai, sei lá, vamos ser só amigos, ok? - ela me encarou por um momento e anotou algo na sua prancheta.

– Você está bem?

– Claro, vou morrer daqui onze meses, e ninguém vai se lembrar de mim! Olha meu sorriso! - eu nem me dei o trabalho de sorrir. Hermione suspirou.

– Marquei um encontro para você e Sophie. Trate ela bem, sendo que ela é mais nova. Ela gosta de cinza e é apanhadora da Corvinal. Vocês vão se dar bem. Amanhã, oito da noite, no corujal. Boa noite, Malfoy. Espero que esteja mesmo se esforçando. - e saiu, sem olhar para trás.

Agora são oito da noite, e estou no corujal. Sophie apareceu dez minutos depois. Cabelos cacheados e castanhos, presos em um rabo de cavalo. Seus olhos são verdes e seus cílios são loiros. Ela sorri torto e me abraça, como se fossemos melhores amigos.

– Draco, não é? - ela perguntou e eu assenti. Ela alargou o sorriso.

– Prazer, Sophie. Hermione me contou que você é apanhador na Sonserina. Eu lembro de você no jogo do ano passado. - Ela falava com sotaque arrastado. - Nós perdemos de lavada. Você deve ser muito bom.

– É que eu pratico muito. Você também parece estar em forma. - eu comentei, observando as pernas dela. Um garoto não pode reparar nessas coisas também? Dá um desconto!

– Obrigada. Queda de braço? - ela desafiou, erguendo uma sobrancelha. Eu aceitei e nós nos debruçamos no parapeito da janela, as corujas nos encarando, com seus olhos cor de âmbar. Isso me fez lembrar de Hermione. Onde será que ela estaria?

Sophie acabou ganhando de mim decorridos dois minutos, e depois ela começou uma longa história sobre a vida dela no Arizona. Depois de uma hora eu não aguentei e disse pra ela que só seríamos amigos, ao que ela concordou, e foi embora depois de me dar um selinho.

Uma semana depois era aula de Feitiços e fiz dupla com Hermione. Enquanto ela fazia os sapos ficarem mudos, eu contava a ela o meu encontro com Sophie. Hermione então disse:

– Ela disse que ficou um pouco aborrecida por você ter dito que seriam só amigos. Ela realmente gostou de você, Malfoy. Por que não dá uma chance pra ela? Ela é bonita, e vocês são parecidos em relação a Quadribol. Ah, e ela perguntou se você tem uma tatuagem. Silencio. - ela ordenou, e o sapo ficou quieto.

– Não! Eu já disse mil vezes que não tenho tatuagens.

– Eu duvido! Só vendo, mesmo. - eu a encarei mal-humorado e tentei silenciar o meu sapo.

– Falando em tatuagens, Grace aceitou se encontrar com você amanhã.

– Quem é Grace?

– Outra candidata a quebrar sua maldição.

Resumindo, o encontro com Grace foi um tremendo desastre. A menina não sorriu nem pra me cumprimentar, e seu corpo inteiro era cheio de tatuagens, ela nem precisava usar roupa, a tatuagem já era uma camuflagem. Seu cabelo preto escorrido pelas costas e seus olhos verdes faziam-na me lembrar da Megan Fox, mas de nada tinham de parecidas. Ela era grossa e só falava d'As Esquisitonas, o que foi muito maçante.

E para piorar, ela tinha um piercing na língua, e quando a gente se beijou, eu nem havia percebido. Até eu engolir o piercing dela. Ok, ok, pode parar de rir, porque ela pelo menos tem sentimentos, e chamou a Hermione para vir me salvar com um feitiço que desconheço. Nunca mais falei com a tal Grace.