I A chegada

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Já estava de noite quando chegamos a nossa nova casa. Paramos o carro na frente do muro baixo coberto por hera. Olhei para a casa e senti um frio arrepio na minha espinha. Pedra e madeira. Era disso que a casa era feita. Grandes janelas de vidro enfeitavam a casa histórica. Desci do carro e fechei a porta, olhei para o portão principal. E comecei a escutar latidos furiosos.

— Lucio abra a porta para Apolo sair. — Escutei mais uma vez os latidos, mas meu corpo parecia paralisado. Minha mente não funcionava. — Lucio. — Minha mãe dessa vez gritou e sai do transe.

— Desculpa. Vem garoto. — Abri a porta e o cão saltou de alegria para fora do confinamento. — Mãe, essa casa é meio assustadora não acha? — Olhei para ela que já abria o portão de entrada soltando um rangido horroroso.

Ela começou a rir e disse:

— Tenho que concordar com você, mas era o que o salario de uma professora dava para pagar. — Ela avia aceitado o emprego de professora na faculdade local. — Vamos entrar e depois voltamos para buscar as malas.

Ela fez um leve aceno me chamando e segui-a pelo jardim. Mesmo sem claridade o grande gramado parecia bem cuidado e os canteiros estavam cobertos por flores. Seguimos a trilha de pedras ate a varanda da casa. Mamãe começou a remexer sua bolsa e depois de alguns segundos tirou um molho de chaves. Pegou a maior e enfiou na porta de madeira maciça, ao ser aberta não produziu um único barulho e nos deparamos com uma imensa escuridão.

— O corretor me falou por telefone que o interruptor ficava por aqui. — Tentando se guiar pela sala escura, tateou a parede ate achar o botão inundando o ambiente de luz. — Achei. — Sorriu e se virou para mim. — O que acha?

— Muito bonita a mobília, espaçoso, mas essa casa me da medo. — Nesse momento Apolo soltou um latido fazendo-nos lembrar de sua existência. — Também da medo em você amigão? — Ri e comecei a caminhar pela casa.

Depois de ter visto a sala, uma outra sala anexa que provavelmente minha mãe faria de escritório, além da cozinha. As dependências no primeiro andar tinham acabado. Então fui em direção a grande escadaria de mármore verde musgo. Assim que subi o primeiro degrau minha mãe saiu da cozinha e me chamou.

— Ajude-me a pegar as malas no carro.

— Porque a senhora não coloca o carro para dentro da casa? Seria mais fácil do que carregar as malas ate aqui. — Falei com um tom de sabichão.

— Verdade, não pensei nisso. Ajude-me a abrir o portão. — Antes que eu pudesse protestar ela se retirou.

— Apolo, vem! — Chamei o cachorro que estava deitado no piso de madeira da sala. Veio alegre para o meu lado.

Caminhando para fora pela trilha de pedras pude ver minha mãe conversando com alguém. Antes mesmo que eu chegasse ate eles, já haviam partido e minha mãe tentava abrir o portão metálico completamente coberto de plantas.

— Quem eram? — Perguntei curioso vendo três vultos no horizonte da rua.

— Vizinhos, estavam voltando da feira cultural que esta tendo no centro. Um casal com um filho da sua idade, todos muito educados e bonitos.

— Uhmm. — Meus olhos brilharam de interesse, minha mãe não era de elogiar a beleza das pessoas, deveriam ser realmente bonitos. Devo ter deixado transparecer minha curiosidade.

— Ajude-me aqui e pare de sonhar com o vizinho gato. — Ela riu e fiquei ruborizado, não me acostumara ainda com minha mãe fazendo piadas sobre esses assuntos.

— A senhora não deixa passar uma! — Resmunguei com um sorriso nos lábios.

Minha mãe estacionou o carro na frente da casa e fechei o portão. Segui para a entrada e ajudei-a a colocar as malas na sala. Depois de carregar todas as malas subimos para ver os quartos. Minha mãe foi na frente e Apolo nos meus calcanhares. Chegamos ate um corredor que possuía apenas duas portas e no final dele uma segunda escada. O corretor comentara também que havia um terraço. A escada deveria levar a ele. Minha mãe abriu a porta do primeiro quarto e fiquei espantado com o tamanho. Amplo e elegante.

O filho do fauno Onde histórias criam vida. Descubra agora