III As flores

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Eu estava surpreso com tudo que acabara de escutar, mas por algum motivo eu entendia. Tudo parecia estar saindo de um conto de fadas. Fechei meus olhos e suspirei profundamente. Um pensamento perturbador começou a surgir e consegui sentir o olhar do meu pai cair sobre mim. Sem abrir os olhos perguntei:

— Nas historias todos os filhos de Deuses passam por aprovações. Minha mãe ensina historia mitológica na faculdade. Sei bastante sobre isso. Assim como sei que o seu nome. Cernnunos. — Fiz uma pausa e pude sentir a energia que meu pai emanava. Ainda de olhos fechados continuei. — Qual será meu Karma? Minha provação nessa vida.

Abri os olhos e vi meu gerador sentado com as pernas em forma de Buda. Seu olhar era severo e me confirmava o que eu acabara de falar. Como todos antes de mim. Eu não estava aqui apenas a passeio.

— Eu não sei.— Sua voz saiu rouca. — Mas os oráculos contaram-me a muitos séculos atrás que um filho meu seria um salvador ou um destruidor. Podemos interpretar as profecias de muitas formas. Mas só saberemos a verdade quando o mundo precisar de um dos meus filhos.

—Um dos? — Fiz uma cara de reprovação, mas apenas recebi uma resposta fria.

— Um dos. — Ele soltou um suspiro e continuou. — Atualmente tenho treze filhos. Sendo você o mais novo.

— Treze? — Minha cara de reprovação passou para uma cara de espanto que fez eu ficar de boca aberta. — Isso traz juiz a você ser um Deus da fertilidade.

— Parece que sua mãe contou sobre mim então.

— Sim. Mas não fazia ideia que meu pai era o Deus garanhão.

— Respeite-me! — Sua expressão foi de repugnação pelas minhas palavras.

— Desculpa.

— Você não cresceu conhecendo os caminhos da magia. Isso faz com que você precise de treinamento atualmente. Sua mãe ira te ensinar. — Falou sem sentimento na voz e se levantou.

— E você?

— Se precisar de mim estarei nos bosques. Um de seus irmãos esta na cidade. Preciso me encontrar com ele, alguns anos que não nos vemos. — Ele fez uma pausa e ficou pensando em algo. Virou-se para mim e disse: — Todos os meus filhos completaram sua dualidade com o sexo oposto. Tanto minhas filhas quanto filhos. Mas eu entendo sua sexualidade, ela é tão antiga como o universo e normal quanto a vida. Achei que precisava saber que não vejo mal. Venha aqui e de um abraço no seu pai. — Ele fez sinal com as mãos para que eu me aproxima-se.

Levantei-me da grama e fui ate ele. Abracei seu corpo e ele abraçou o meu. Não me controlei e lagrimas escorreram. Cresci sem um pai e agora ele estava ali. O grande guardião das florestas. O Sol.

— Não chore. — Ele secou minhas lagrimas e beijou minha testa.

Após o beijo um grande vendaval levantou as folhas do chão e nos rodeou. Ele então sumiu. O vento sessou e um circulo perfeito de folhas agora estava ao meu redor com o meu ser no centro.

Olhei para o caminho de volta e comecei a caminhar para a casa com Apolo me seguindo logo atrás. A floresta estava em silencio, mas percebi olhares de todos os cantos. As aves nas arvores pareciam comentar umas com as outras sobre mim. Ignorei as olhadelas e segui em frente. Cheguei ao jardim da casa e vi fumaça saindo da chaminé da cozinha.

Quando cheguei na porta da sala abri e fui direto para a cozinha. Senti o cheiro de comida. Minha mãe estava fazendo o almoço e quando me viu cumprimentou-me com o enorme sorriso.

— Bom dia filho.

— Dia estanho.

— Eu sei. Desculpe-me. Vamos almoçar e conversamos.

O filho do fauno Onde histórias criam vida. Descubra agora