II A floresta

483 45 19
                                    


A luz solar penetrava a floresta fazendo grandes feixes no ar agitado. O barulho de folhas e galhos sendo quebrados por nossos pés era de certa forma amedrontador. Seguimos por um caminho de pedras cravadas no chão, mas era praticamente invisível pelo cobertor de folhas. Ele ainda segurava minha mão gentilmente e minha cabeça não parava de pensar em tudo que poderia acontecer ali, sozinhos, na imensa floresta. 

Acredito que caminhamos lentamente apenas para aproveitando a presença um do outro por uns cinquenta metros ate que ele parou bruscamente fazendo meu coração saltar em pânico. Colocou o dedo indicador na frente dos lábios e balançou a cabeça para frente. Olhei e não vi absolutamente nada além de uma pequena clareira. Meu coração quase saiu da boca quando de repente comecei a escutar barulho de passos. Diferente dos nossos, mas mesmo assim podia escutar as folhas sendo amaçadas e galhos partidos.

Pude então ver algumas sombras aparecendo nas margens da floresta com a clareira. Uma corça apareceu e seguindo-a mais cinco corças surgiram, uma tinha um filhote que deveria ter poucos dias. Alguns servos jovens também apareceram e foi então que escutei alguma palavra desde que entrei na floresta com o intrigante menino.

— Eles sempre costumam aparecer nesse horário. Venho aqui desde pequeno. — Disse com um tom melancólico. — Lembro-me de quando aquele cervo jovem nasceu. Era tão pequenino.

— Eu não tinha visto cervos de tão perto. Aliais ontem um apareceu perto dos jardins da casa. Parece que não possui muro, apena as arvores como proteção. — Falei inocentemente.

Ele se virou para mim com uma cara de interessado e segurou minha mão um pouco mais forte.

— Eles não costumam se aproximar das casas. Aqui é o lugar mais perto da cidade que eles se aproximam. — Disse intrigado.

— O que vi ontem não esta aqui. — Recordei-me da imagem da noite anterior. — Vi apenas sombras, mas era um cervo adulto. Suas galhadas eram grandes, não pequenas como desses jovens. — Foi então que o vi fazer ainda mais uma cara de perplexo.

— Você sabe de quem era a casa onde você mora agora? — Balancei a cabeça em negação e com medo nos olhos.

— Minha mãe comprou a casa, mas não comentou nada sobre isso.

— Não quero dizer nada sobre isso, mas acho impossível ela ter comprado a casa. — Ele falou desviando seus olhos para o chão.

Uma súbita raiva brotou em mim e tive vontade de ir embora. Ele parecia insinuar que minha mãe não tinha condições de comprar a casa. Larguei sua mão e me virei de costa para voltar o caminho de pedra. Fui surpreendido com ele segurando meu braço.

— Solte-me. — Falei com certa irritação na voz.

— Espere. Não falei por mal. Deixe-me explicar porque ela não poderia comprar a casa. — Sua mão subiu ate meu ombro e chegou ate minha nuca. Colocou-se mais uma vez de frente para mim. Seus olhos encontraram os meus e me penetram. Pude sentir seu hálito invadir minhas narinas. — A casa pertencia a um antigo bruxo celta e ela passou a ser de sua filha apos sua morte. Meu pai é dono da imobiliária da cidade e ele falou que a filha do velho estava voltando para sua casa de infância.

Meus olhos começaram a lagrimejar e não conseguia acreditar no que ele estava falando. Eu não conhecia meus avos, mas minha mãe comentara que faleceram antes do meu nascimento. E ela teria me contado se estávamos indo morar na casa de sua infância. Um turbilhão de coisas começaram a invadir meu cérebro. Olhei para André assustado e disse.

— Pode me levar pra casa. — Pronunciei quase que chorando. — Por favor.

— Claro. — Sua mão foi de encontro a lagrima que escoria pelo meu rosto e ele a secou. — Vem.

O filho do fauno Onde histórias criam vida. Descubra agora