VI O Lagarto

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Comecei a sentir frio e acordei escutando o crepitar da madeira. A fogueira ainda ardia com força e não fazia sentido eu estar sentindo frio. Aproximei-me um pouco mais e notei que Neal estava sentado apoiando-se em uma arvore grossa. Um livro de capa preta estava em sua mão. Parecia tão entretido que não me viu aproximar um pouco mais da fogueira. 

O céu ainda estava muito escuro. Provavelmente faltavam algumas horas para o amanhecer. Fechei meus olhos novamente para tentar dormir, mas comecei a me perguntar se Neal me contaria certas coisas que eu desejava saber. Impaciente abri os olhos e sentei-me. Ele nem ao menos tirou os olhos do livro para reparar o que eu estava fazendo.

Levantei e fui ate a arvore em que ele estava, sentei ao seu lado e ele pela primeira vez pareceu notar que eu estava acordado.

— Volte a dormir. Faltam poucas horas para o amanhecer. — Ele nem tirou os olhos do livro para falar comigo.

— Perdi o sono e eu queria te perguntar algumas coisas. — Falei lentamente imaginando se ele iria querer responder minhas perguntas.

— O que você deseja saber? — Falou fechando o livro e fazendo um grande suspiro em seguida olhando para mim.

— Como você conhece minha mãe?

— Ela foi uma grande sacerdotisa.

— Foi? Mas como vocês se conheceram?

— Foi. — Olhou para mim e percebeu que eu não sabia do que ele estava falando. Notei que seus olhos ficavam vagando, provavelmente tentando um jeito de me contar o que eu queria saber. — Ela fazia parte de uma sociedade onde havia quatro grandes sacerdotisas, isso foi antes de você nascer. Quando ela conheceu o seu pai, na verdade nosso. — Ele parou de falar e sorriu, por algum motivo achava engraçado sermos irmãos. — Ela saiu da sociedade e se dedicou a criar você. Claro que ela é uma grande bruxa ainda, mas ela não possui mais um posto dentro de alguma sociedade.

— Parece que tem mais para eu saber sobre isso. — Falei quanto passava a mão no cabelo jogando para traz. — Mas de onde você a conhece?

— Minha mãe faleceu quando eu tinha alguns anos de vida, nem consigo me lembrar. — Seus olhos voltaram a vagar procurando uma maneira de continuar. — Nosso pai assumiu minha custodia, acho que foi a primeira vez que ele criou algum de seus filhos. Na verdade ele só permaneceu presente por alguns meses, conheci sua mãe quando eu tinha uns dez anos. Ela ainda fazia parte da sociedade e me ajudou a controlar meus poderes, sua mãe conheceu meu pai por minha causa, mas creio que o destino teria juntados eles um dia de qualquer forma. — Olhou em meus olhos e falou se aproximando do meu ouvido. — Satisfeito?

Estremeci quando senti seu hálito quente tocar minha pele, ele percebeu e voltou para o seu lugar como antes. Um grande sorriso malicioso surgiu em seus lábios e resolvi confronta-lo.

— Não. Ainda acho que eu deveria saber mais. — Olhei em seus olhos e me aproximei de sua orelha. Se ele queria brincar, eu iria começar a jogar. — Conte-me professor. — Fiz questão de praticamente soletrar a ultima palavra. Senti seu corpo tremer assim como o meu a alguns segundos a traz.

— O que você quer tanto saber? — Falou quase que gaguejando.

— Quero saber da profecia.

Ele simplesmente arregalou os olhos e se afastou alguns centímetros. Vi que ele sabia sobre ela e que provavelmente meu pai não me contara tudo que os oráculos lhe contaram. Se Neal contaria o que ele sabia eu não podia ter certeza, mas eu tentaria arrancar. Olhei em seus olhos eu os vi espantados. Eu não havia contado para minha mãe que meu pai me contara. Provavelmente ele também não sabia que eu sabia.

O filho do fauno Onde histórias criam vida. Descubra agora