XI A Ala Verde

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O dia passou lento. Fiquei a maior parte dele lendo. Neal comprou três livros sobre magias curativas e mal consegui acabar de ler um. André passou o dia ao lado do leão embaixo da cerejeira. Eles pareciam conversar sobre alguma coisa fantástica, mas eu não podia escutar aquilo que só acontecia em suas mentes. Fiquei no pátio também, assim podia admirar tudo ao meu redor enquanto tentava entender as palavras no livro de capa velha.

As palavras eram complexas e os rituais ainda mais. Quando cheguei ao final do livro já estava começando a escurecer, mas foi no ultimo capitulo que consegui entender melhor tudo aquilo que eu havia lido. Em uma sacola em cima dos livros de cura tinha algumas pedras coloridas, não consegui distinguir todas, mas o livro me ensinou. Também tinha uma bolsinha de pano velho com um bordado diferente, os símbolos deveriam ser celtas.

Minha mente estava funcionando a uma velocidade incrível. No final do primeiro livro que li tinha uma ritual mental de percepção. Um ritual para se usar em iniciados nas artes curativas para poderem enxergar com maior facilidade tudo ligado a cura. Como eu não era um iniciado decidi fazer o ritual. Foi por isso que consegui entender o que havia lido nos capítulos anteriores, mas agora eu podia entender muito mais. Consegui sentir ate mesmo as energias que as pedras estavam liberando.

— Você esta mergulhado nesse livro há horas. Vem cá. — André falou me chamando indicando para que eu sentasse ao seu lado.

Fechei o livro faltando apenas algumas paginas para acabar e fui ate a cerejeira. Sentei-me do lado do jovem loiro e ele me abraçou com um de seus braços. Beijou-me lentamente tirando meu folego. Parecia um sonho encantado. Sentado com um amor embaixo de flores rosa em uma terra desconhecida pela maioria. Mas então percebi que também havia as trevas nesse sonho e tive vontade de chorar. Ainda nos beijando ele pode sentir minha angustia e parou.

— Eu irei te proteger ate o fim da minha vida. — Passou a mão nos meus cabelos e sorriu.

—Não. Você escutou a profecia. — A primeira lagrima escorreu. — Eu irei morrer assim como ele. Deveremos anular um ao outro.

— Não seja tolo. — Sua voz saiu rustica. — A profecia é interpretada de muitas formas, então não pense na pior das suas interpretações. Mesmo que isso seja verdade iremos lutar juntos ate o fim.

— Obrigado. — Sorri.

— Não precisa agradecer amor. Abu contou-me sobre muitas batalhas em que esteve, ira nos ajudar.

— Abu? — Perguntei confuso. Achei que o animal se chamava Numídia.

— Os seus semelhantes lhe chamam assim. — Explicou passando a mão pela juba da fera.

Ficamos ali apenas aproveitando a companhia um do outro por um tempo e então resolvi terminar o livro. Enquanto terminava de ler a ultima pagina Neal chegou da faculdade. Ele tinha um semblante agradável, deverias gostar de dar aula. Nos cumprimentou e foi para seu quarto. Depois de um tempo saiu e foi preparar o jantar, quando acabei o livro fui ajuda-lo. Divertimo-nos falando de como era nutritivo comer hambúrguer algumas vezes na semana como hoje.

Depois que jantamos fui para o quarto com André. Deitamos e ficamos abraçados por muito tempo apenas nos beijando, mas não passou disso. Dormimos rapidamente, eu estava cansado por ter passado o dia lendo e ele parecia ter dor de cabeça, provavelmente por usar a ligação mental por tanto tempo. Teríamos que acordar cedo no dia seguinte então acabou sendo bom.

Acordamos com Neal batendo na porta:

— Acordem.

Abri meus olhos e vi que ainda não estava claro, comecei a achar que Neal tinha errado a hora, mas quando levantei-me da cama e fui ate a janela vi o céu começar a clarear. Chamei André que estava completamente apagado sobre a cama, mas ele parecia não querer levantar de jeito nenhum. Aproximei-me do seu rosto e comecei a beija-lo, mas nem assim o menino se animou para abrir os olhos. Recorri a algo mais baixo. Fui ate a cozinha e busquei um copo de água e voltei para o quarto.

O filho do fauno Onde histórias criam vida. Descubra agora