IV O enterro

298 36 7
                                    

O abismo na minha frente era de uma vista sufocante. Meus olhos estavam marejando e meu corpo parecia leve, minha mente estava entorpecida. Dei um passo à frente e quando estava prestes a cair um latido alto e forte me avisou do perigo. Sobre meus ombros eu olhei para trás e vi Apolo sentado me observando. Minha cabeça começou a latejar e uma aflição encheu meu peito. Eu iria cair.

— Lucio, acorde. — Escutei as batidas na porta de madeira do quarto. — Acorde. 

Ainda de olhos fechado falei:

— Já estou acordado mãe.

— Esta de tarde e você ainda não levantou. — Escutei a porta abrir. — Fiquei preocupada. — Sua voz foi ficando mais inaudível na medida em que ela abria a porta.

Espantado abri os olhos, alguma coisa deveria estar errada. Fiquei perplexo com o que vi. Eu estava coberto de raízes e folhas, por toda a madeira da cama estava crescendo folhas e flores de diferentes espécies. Assustado olhei para minha mãe que olhava ainda mais incrédula.

— O que é isso?

— Vida meu filho. — Aproximou-se da cama e pronunciou lentamente. — Quia ad vitam eius Conditoris, que a vida volte a seu criador.

Todas as plantas começaram a diminuir gradualmente ate sumirem por completo. Agora eu estava livre das raízes e pude me levantar da cama. Ainda sem entender procurava a resposta em minha mãe que apenas gesticulou para que eu a seguia-se. Fomos ate a sala e sentamo-nos à mesa. Um livro de couro estava em cima dela e minha mãe rapidamente o abriu. Sorriu pra mim o que fez a tensão diminuir e explicou:

— O que aconteceu foi que você ainda não sabe dominar sua energia e acabou liberando-a enquanto dormia. O mais curioso é a forma em que ela se manifestou. Estique sua mão dominante à frente e diga "elementum" significa elemento.

— Elementum. — Pronunciei um pouco incrédulo, mas depois de uns segundos uma grande massa de água flutuava na frente da minha mão, porem não só ela. Circulando a água havia um anel de fogo, ar e terra. Bem finos, mas circulavam com uma velocidade surpreendente. Fiquei perplexo. ¾ Não era para ter aparecido apenas um elemento?

— Não necessariamente, seu elemento principal é água, mas parece que sua essência possui todos os outros quatro elementos.

— A senhora falou que podia controlar os outros elementos também, não falou?

— Sim, porque posso e os outros bruxos também. O que muda no seu caso é que você poderá usar eles em uma intensidade e maestria diferente. Isso é raro, mas há outros que podem fazer tal coisa. Sua bisavó podia, mas normalmente quem possui esse tipo de habilidade não consegue controlar com muita facilidade. Por isso muitos morreram acidentalmente com magias perigosas.

— A senhora ira me treinar para eu poder controlar isso adequadamente? — Estava nervoso e preocupado.

— Tem alguém que ira lhe ensinar, faz muito tempo que não ensino magia. — Falou enquanto se levantava.

— Quem? — Quem poderia ser?

— Seu irmão.

O silencio passou a se fazer presente naquele momento. Meu rosto se contraiu com um semblante de surpresa pelo que minha mãe acabará de me contar. Olhei para ela que agora estava andando em direção à sala. Ela se virou para mim e sorriu carinhosamente.

— Aposto que vai gostar dele. Um pouco excêntrico, mas uma ótima pessoa. — Continuei olhando com uma expressão de confusão. — Va se trocar. Vou leva-lo para conhecê-lo.

O filho do fauno Onde histórias criam vida. Descubra agora