VII Os mortos

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— Tem lobos nessa floresta? — Perguntei depois de escutar mais um uivo.

— Não tem animais nessa floresta. Mas os antigos falam que se pode ver a morte aqui no anoitecer.

Aproximei meu rosto do ouvido de André e perguntei:

— Ele esta falando serio?

— Sim, mas porque você perguntou se tem lobos aqui?

— Por nada. — Desconversei. Comecei a achar que a floresta não esperaria o anoitecer para nos mostrar algo.

— Aperte o passo vocês dois ai.

Neal parecia não estar confortável na floresta e eu também não estava. Caminhamos durante uma hora e parecia haver ainda uma boa caminhada. Olhei para o céu e percebi que o sol ainda ardia com força. Isso me deixou mais aliviado. Mas eu ainda estava assustado por um motivo.

Os uivos. Eram contínuos e pareciam cada vez mais se aproximar de nos. Estava me arrependendo de não ter contado nada para eles. A trilha nos levou a uma caminhada de mais duas horas e então chegamos aos limites da floresta. Um grande paredão rochoso com um portão que levava para uma escadaria por entre as fendas da montanha. O portão metálico enferrujado rangeu quando Neal o forçou para abrir.

Os degraus eram irregulares. Foram esculpidos na rocha dura e fiquei me perguntando quem teria feito todo aquele trabalho insano. Não conseguia ver o topo da montanha. Estava completamente coberto por nuvens, isso me fez imaginar que ainda teríamos muito o que subir. Comecei a ficar ofegante pelo cansaço e pela altura em que já estávamos.

Pela primeira vez me dei ao luxo de parar sem o comando de Neal para tomar fôlego. Sentei-me em um dos degraus e admirei a vista, uma grande lua já estava presente no céu e o sol começava a se esconder por de traz do horizonte. Procurei pela clareira, mas não consegui acha-la. Comecei a notar que a floresta ficava entre um conjunto de montanhas.

Há quilômetros distantes de nos no outro lado extremo da floresta parecia haver uma aldeia. Luzes e fumaça eram visíveis do ponto em que estávamos. Estava realmente aproveitando a paisagem exuberante, quando me recordei dos garotos e olhei para a escadaria acima vi que nenhum deles me esperou. Nem mesmo André.

Coloquei-me de pé e comecei a subir novamente. Esforcei-me para alcança-los, mas eles já estavam muito a frente. Decide andar no meu ritmo e depois de alguns longos minutos alcancei André que parecia esperar-me enquanto descansava um pouco. Ele me ofereceu o cantil e eu aceitei agradecido.

— É um vilarejo no outro extremo da floreta? Onde se pode ver aquelas luzes? — Perguntei devolvendo-lhe o cantil.

— É sim. Chamam de Cidade do portal. — Explicou enquanto se levantava e dávamos continuidade para a subida. — Não é um nome muito criativo você deve ter notado, mas ela é a parada mais próxima do portal. Tem muitas tabernas e estalagens. E um ótimo vinho.

— Você falou para minha mãe que não bebia. — Ri e esperei sua explicação.

— Não bebo, mas já provei. — Abriu um de seus lindos sorrisos e me beijou na bochecha.

— O que tem para lá do vilarejo?

— Muita coisa. Tenho um mapa na minha mochila. Depois quando chegarmos ao mosteiro e nos instalarmos eu mostro.

Apressamos a subida porque notamos que Neal já estava muito adiantado. Nem podíamos mais vê-lo, sumira entre as nuvens. Demoramos mais deu uma hora para alcançar Neal. Já estava escuro e ele não parecia estar satisfeito por ter que ficar nos esperando durante um tempo. Agora todos nos subíamos juntos. André projetou uma chama acima de sua cabeça para poder iluminar o caminho.

O filho do fauno Onde histórias criam vida. Descubra agora