Capítulo 2

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- Você pode me explicar? - Joguei as cartas na mesa que minha mãe colocava o jantar.

Ela olhou para as cartas boquiaberta sem acreditar naquele momento. Respirou fundo e olhou para mim me vendo derramar lágrimas.

- James! - Minha mãe gritou. - Venha aqui por favor.

Ouvi alguns passos vindo em direção a sala de jantar e com eles meu coração acelerava sem parar. Não esperava isso dos meus pais. Eu fui jogada no lixo? Por quem? Quem fez isso comigo?

- O que houve? - Ele disse me vendo derramar lágrimas e a cara de preocupação da minha mãe. Não sei se posso chama-la assim.

Ele iria dizer outra coisa, eu sei que diria. Mas quando ele viu as cartas acho que tudo fez sentido. Para eles tudo fazia sentido, mas para mim não.

- Dani nós... - Ele se aproximou de mim mas me afastei.

- Nós o quê? Mentiram pra mim durante 17 anos? É isso? Por que não me contaram? Se é que iriam contar. - Eu dizia me afogando nas minhas próprias lágrimas.

- Porque não sabíamos como! Como contar que você não é nossa filha biológica? Tem noção de como isso doi em nós? Saber que o inevitável iria acontecer e você descobriria? Tem noção? - Ele dizia com lágrimas caindo dos olhos, minha mãe colocou a mão em meu ombro.

- É difícil pra você quanto é para nós. - Agora minha mãe dizia. - Mas vamos explicar a você. Tudo. - Ela arrastou uma cadeira e sentou. Fiz o mesmo.

Meu pai ficou em pé com lágrimas nos olhos nos observando e acho que passou na mente dele o momento em que me encontrou em uma lata de lixo.

- Você tinha apenas dias de vida e quando a encontramos senti que você seria minha filha e eu nunca deixaria você naquele lata novamente. Nunca. E eu cumpri a minha promessa. Você estava doente, com fome e frio. Foi o resultado de um aborto que você veio ao mundo e isso causou um problema pulmonar em você: a asma. - Ela respirou fundo e percebi porque uso a bombinha. - Você é um milagre para a medicina, os médicos diziam que você iria morrer, mas não, você lutou até o fim.

- Com quantos meses fui abortada? - Perguntei enquanto lágrimas caiam de meus olhos.

- Os médicos especulam seis meses. - Ela disse. - Te levamos para o hospital e lá você teve cuidados médicos e sobreviveu.

Dentro de mim surgiu um sentimento que nunca tinha sentido. Ódio e raiva dos meus pais biológicos terem me abortado e ainda eu parar na lata de lixo, largada como um barco em alto mar. Eu os odiei naquele momento, me envergonhei por ter sido pro-criada por pessoas como aquelas que permitiam crianças serem abortadas e depois jogados na lixeira. Eu os odiava isso era fato, mas só agora percebi o quanto.

Me levantei sem saber como andava, ainda desnorteada com a notícia e pelo novo sentimento que brotava em mim com uma facilidade fora do normal. Eu estava com raiva, muita raiva.

- Filha, nós... - Meu pai tentou se aproximar, mas me afastei.

Eu balançava a cabeça tentando afastar o pensamento, tentando esquecer tudo aquilo, tentando voltar ao normal, mas sabendo que não poderia. Eu queria voltar a ser a filha biológica deles como eu achava que sempre fui, mas de um segundo para outro tudo mudou. O conceito que eu achava existir, na verdade nunca existiu. Ficar ali com eles só digerindo o que eles falavam não estava me fazendo bem, eu queria correr dali. Queria fugir pra bem longe. E foi isso que eu fiz. Eu corri para fora da minha casa, minha mãe teve o impulso de correr atrás de mim, mas meu pai a impediu e eu o agradeci em silêncio ainda correndo para longe dali.

O vento batia em meu rosto fazendo voar meus cabelos, mas também estava frio lá fora, muito frio. E de repente eu pensei que estava naquela mesma maneira quando fui encontrada na lata de lixo pelos meus pais. E o ódio pelos meus pais biológicos aumentou ainda mais. Eu corri o máximo que pude tentando voltar no tempo, tentando fugir dos meus pensamentos, mas sabendo que era uma rua sem saída. A rua parecia mais comprida do que era, parecia que eu pisava em cacos de vidros e isso machucava até a minha alma.

Em Busca De Respostas *Até 16/09/2017* [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora