09 - Quarta Condicional - Enter the Sandmann

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09 - Quarta Condicional - Enter the Sandmann

Say your prays, little one

Don't forget, my son

To include everyone

I tuck in, warm within

Keep you free from the sin

'Till the sandman he comes

***

A doutora tirou uma mecha de cabelo da testa.

- Honestamente, estou sem palavras.

- Não surpreende, doutora. - admiti cansado.

Doutora Marta era minha psicóloga e me acompanhava desde o meio da minha adolescência, quando os pesadelos começaram. Ela era uma mulher de estatura baixa, os cabelos, que não passavam da linha dos ombros, hoje estava presos num rabo de cavalo. Usava seu jaleco por cima de um daqueles terninhos executivos de mulheres poderosas.

- O shopping, o fogo, o prédio, tudo. Eu vi essas coisas nos jornais, meu jovem. Bem, não o prédio, mas mesmo assim eu não sei o que diabos te dizer. Não vi nada assim na faculdade. - e riu, levemente desesperada pude perceber. Ela sabia como lidar comigo.

- Não se preocupe 'Doc', encontrei uma ajuda especializada além da sua, mas você ainda é minha número um.

- Como assim?

- É um guru da china, ou algo assim.

- Sério? Você? Cadê meu "pa-cético-ciente"?

- Com tudo o que tem acontecido, não tenho como não procurar a verdade lá fora. - deixei meus ombros penderem como reflexo do cansaço que sentia. - A Iwa podia ter morrido ali, e cara, ia ser 100% culpa minha.

- Não é tão simples assim, agente Molder. Ela poderia já estar morta, e você ajudou a evitar isso também. Você tenta entender a verdade, e desde sempre seus sonhos tem te afetado e aqueles ao seu redor. Mas agora, é algo completamente diferente. Eles são reais Marvin, e isso coloca você e todos aqueles próximos a ti em uma situação no minimo arriscada. Não tem que enfrentar todos sozinho, tem?

- Na verdade, tenho sim, 'Doc'. As pessoas a minha volta são afetadas, isso é certo, mas a coisa toda precisa ser feita por mim.

De repente me dei conta de como as demais coisas da minha vida estavam totalmente em segundo plano. Boa parte das coisas que vinham me incomodando nos últimos meses tinham se tornado completamente irrelevantes. Sempre tive a sensação de solidão e de não me sentir parte de nada.

Minha solidão agora era nova.

Sempre me senti deslocado, isso é até comum. Eu sei que não é "mais fácil", e que as pessoas que lidam com essa situação sofrem bastante. Mas agora, me sentia deslocado, por razões completamente novas. Eu ainda era um cara solitário, mas não no que diz respeito as pessoas a minha volta. Me conectei profundamente com os que me cercam. Poucos, mas de qualidade, entende? Minha solidão agora, era derivada de uma grande responsabilidade, de um desafio, que ninguém jamais entenderia.

Você já teve um medo paralisante de falhar? Num vestibular, ou numa entrevista de emprego, talvez medo de causar um impressão ruim para os pais da pessoa que você gosta.

Se sim, então talvez você comece a entender os meus medos.

Eu tinha medo de não conseguir. Um medo enorme. E eu o sentia nas minhas costas, me pressionando silenciosamente. Como uma pessoa sem paciência na fila enquanto você pede informações ao pagar uma conta.

As Doze PrisõesOnde histórias criam vida. Descubra agora