17 - Oitava Prisão - La Maison Dieu

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17 - Oitava Prisão - La Maison Dieu

Os dias que se seguiram após os eventos do pesadelo sem nome foram inquietantemente tranquilos. Eu ficava a espera que algo acontecesse e às vezes agia de forma meio paranoica. Eu dormia bem ultimamente, visitava o Véu, estava tendo vida social de novo e as coisas iam de bom a melhor entre Iwa e eu. E minha mãe e eu conversamos sobre o bebê.

Ela estava grávida de um namorado dela, eles estavam juntos ao um certo tempo, mas eu praticamente não interagia com ele. Ele não morava na cidade, era de outro estado e eles sempre tinham que combinar de se verem, uma ou duas vezes por mês, pois a rotina de ambos eram bastante lotadas.

Minha mãe não cogitava se mudar, e nem pediria que ele fizesse o mesmo. De certa forma, ela estava disposta a criar o bebê sozinha, como fez comigo. Mas eu sabia que nós poderíamos contar com o suporte, apoio e, na medida do possível, com a presença dele aqui. Isso, pelo menos por hora, estava conversado.

Minha mãe recebeu com muito agradado a notícia da minha relação com Iwa, ela já a via como família. Eu estava feliz por tanta coisa ir bem ao mesmo tempo. Mas a ansiedade insistia em me deixar com aquela coceira no fundo da mente.

Parte de mim tentava me preparar para toda e qualquer coisa que pudesse acontecer, por isso passei a ir ao Véu pelo menos uma hora por dia. Conhecia as mutáveis paisagens, aprendia sobre a sociedade deles com meu trio de amigos de lá. Shakira me ensinava muito sobre a história do lugar, mas era difícil estabelecer conexões sem coisas como datas ou outros detalhes. Zouk me mostrava as diferentes criaturas que habitavam a vastidão do Véu. Jhonny me mostrava como viajar, de modo que após algum tempo, aprendi a girar pelo mundo.

E foi aqui que cometi, talvez, meu maior deslize.

Eu sou um homem curioso por natureza, adoro aprender. E à medida que eu descobria todas essas coisas fantásticas que eu poderia fazer e viver, ia ficando cada vez mais embriagado pela sensação que elas me passavam.

Sabe quando se passa a vida lendo sobre pessoas com capacidade fantásticas ou com super poderes e você se pega imaginando como usaria tal habilidade? Eu sempre apliquei teorias sobre as capacidades, limites e até mesmo o caráter dos heróis que eu admirava.

Devo ter dito em algum momento mais cedo: eu não sou um herói.

Quando Jhonny me ensinou como me guiar pelo Véu, eu descobri que poderia estar em qualquer lugar do mundo, viajando pelo Véu. Você consegue imaginar isso? Fecho os olhos e vou para o Véu, giro e estou na França! Japão! Holanda! Rússia!

Girar? É... é como se eu fosse sugado por um ralo, que está dentro de mim mesmo, então é como se eu girasse. Não vai fazer sentido. Mas à medida que eu ficava melhor com esse lance de viagem, passei a usar isso com um certo descuido. Ia à casa do Neku às vezes, como se ele morasse na outra esquina. Vi monumentos milenares e ouvia idiomas desconhecidos. Era um cidadão do mundo.

Eu estava viciado, e não era apenas em fazer turismo mundial, mas o próprio mundo dos sonhos tinha lugares de belezas surreais. Cidadelas nos céus, ilhas que flutuavam. Achei uma vez um imenso navio que estava metade afundado no mar e metade fora, como se alguém tivesse pausado o naufrágio. Estatuas colossais, faróis, castelos, monastérios, grandes círculos de pedras que flutuavam no ar.

Sem perceber investia tanto esforço nessas experiências com os sonhos, que gradativamente deixei de viver, me tornando de fato um prisioneiro.

***

Tive quase um mês de paz depois dos eventos da noite dos sinos. E até mesmo minhas paranoias estavam mais sobre controle. Pensando agora, o curioso é que eu tinha enfiado na cabeça desde o começo que eu teria doze pesadelos. Mas nessa época, não tinha como eu saber se isso era realmente o que aconteceria.

As Doze PrisõesOnde histórias criam vida. Descubra agora