10 - Quinta Prisão - A Jaula do Macaco
O lugar era uma bagunça. A rua era de chão batido, sem pavimentos. Pareciam aqueles setores habitacionais criados em zonas rurais, onde uma grande propriedade era loteada e cada novo terreno tinha uma casa com um pequeno quintal ou garagem. As casas não revelavam nenhum endereço, de modo que eu não sabia onde estava.
Andei olhando para as casas ainda sem acabamento, mato alto e com todo tipo de lixo espalhado pelo lugar: pneus velhos, latas, garrafas e carros depenados. Muros pichados, janelas e portas quebradas. Uma terra de ninguém.
De ninguém, não. Era de alguém.
Me encontro na frente da última casa da rua tortuosa, a maior de todas. Vejo os homens do macaco, mantendo posto de sentinela, o olhar nas cartas que estavam na mesa improvisada de um carretel de fiação, armas próximas ao alcance das mãos. Um rádio sobre a mesa, entre dois deles.
Avanço, sei que eles não vão me notar, ainda não tinha começado.
Ao entrar no casarão, noto duas escadas levando ao andar de cima, e algumas portas. Pessoas estavam espalhadas, e notei pela primeira vez que várias delas tinha macacos em suas costas, eles grunhiam e gesticulavam comandos, e os pobres miseráveis obedeciam desconsolados.
Essa casa, julgo eu, seria digna de uma novela se um dia fosse acabada. Agora era apenas um esqueleto cinza de um lugar, com cortes nas paredes de cimento revelando os tijolos vermelhos.
Ele estava parado entre as duas escadas que saiam do térreo para o primeiro piso. O titereiro segurava fios e movia as pessoas e macacos do piso inferior. Os olhos do Titereiro eram vazios, mas o seu sorriso era cruel. Tinha um rosto que só alguém que se banqueteia de desgraças é capaz de possuir. Uma caveira de primata estava alocada num manto, e adornava macabramente seu ombro esquerdo. Ele era a fome, a miséria e o vício. Seus dedos nodosos, longos e finos moviam o madeiro de cordas e faziam eles mover-se ao seu capricho. Eles dançavam conforme as cordas, e essas estavam sob o poder daquelas mãos asquerosas. Era isso então!?
Ele me lança um olhar ao me dar as costas e andar para as escadas a sua esquerda, entra num corredor e desce um novo lance de escadas, para o subsolo da casa. Neku estava amarrado numa cadeira, de frente para outro prisioneiro do Macaco.
O Titereiro pega uma arma que estava sobre a mesa. Um pistola com tambor para seis balas. Neku e o outro abaixaram a cabeça e choraram baixinho. Ele colocou uma única bala na pistola girou o tambor, apontou a arma para a cabeça do jovem e apertou o gatilho.
*click*
- 6. - ele disse mecanicamente, sem qualquer emoção.
Girou o tambor novamente, apontou o cano da arma para Neku e puxou o gatilho.
*click*
- 5. - e houve um risinho.
Giro e click, quatro. Giro e click, três. Giro e click, dois.
- Quer fazer as honras? - perguntou para mim. Deu de ombros, apontou para meu amigo.
Giro.
Click.
- Um. Parece que vocês estão com sorte. Amanhã a gente brinca de novo.
Se levantou e saiu.
Pisquei e estava de volta na sala de entrada. Fiquei horrorizado com o que via. Alguns dos traficantes violavam sexualmente moças enquanto elas se drogavam sobre a mobilha. Uns ainda urinavam naqueles que ficavam desacordados, cuspiam insultos e desferiam chutes. É verdade que toda ruína, nasce primeiro em nós, mas isso não quer dizer que em algum momento, não passamos o controle para algo, ou alguém. Preciso fazer algo a respeito...
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Doze Prisões
Tajemnica / ThrillerMarvin sempre foi assombrado por seus recorrentes pesadelos. Ao contrario do que muitos pensam ou estão habituados, ele não acordava aos gritos. Seus despertares eram silenciosos e frios, e muitas vezes ele não tinha certeza se havia saído completam...