20 - Nona Condicional - Preto
Pisquei confuso. Visitas? Ele retirou a mordaça e examinou meu rosto para procurar marcas ou ferimentos. Depois desatou as correias que prendiam meus braços removendo a camisa de restrição em seguida. Conduziu-me com truculência até o dormitório e me fez tomar outro banho.
Uma vez vestido com as roupas características dos pacientes do local, pude enfim fazer uma refeição. Um guisado com pães torrados. Eu até gostava desse tipo de comida, mas sabia que logo estaria com fome de novo. Era melhor eu ficar bem caladinho para não ir parar no quarto Branco de novo.
Nós teríamos um tempo livre, e como de costume, peguei um livro e me sentei à janela com vista para o jardim. Lia sem muito interesse e deixava meu olhar vagar das páginas para o jardim de outros internos de outras alas que passeavam ao sol, às vezes eu observava o interior de minha ala e as atividades dos demais internos. Pintura, desenhos, esculturas em argilas. Faziam de tudo.
Uma enfermeira, dessa eu não sabia o nome, se aproximou de mim e pediu-me para acompanhá-la. Segui-a durante todo o trajeto até a área social. Um lugar separado dos demais internos para oferecer conforto e privacidade aos familiares e pacientes. Ouvi histórias e esse tipo de encontro às vezes fica bem intenso.
Daqui era possível ver as portas da sala do Doutor Pesadelo. Sento-me numa poltrona larga e aguardo, seja lá quem for, deve estar lá dentro conversando sobre mim como ele. Será que eu conseguiria ir embora? Parecia bem improvável.
As portas da sala do chefão se abrem e para minha surpresa minha mãe sai de lá de dentro. Seu semblante carregado de preocupação e um sorriso fino e frágil colado em seu rosto às pressas. Ele me vê ainda de longe e se adianta deixando o médico para trás, que se limita a acompanhar a cena com uma expressão austera no rosto. Levanto-me tímido sem saber o porquê e recebo o abraço de minha mãe.
- Oi, filho! Que saudade.
- Oi, mãe. - um riso nervoso rompe minha boca, mas logo o consigo disfarçar. - A senhora está linda.
- Ah, Marvin... - ela sorriu de um jeito cansado e gentil ao mesmo tempo. - Você tá tão magrinho filho, está comendo direito? E o seus remédios? Eles estão cuidando bem de você!?
Aceite a sua realidade. Você precisa de ajuda. És um perigo, para ti e para os outros. MENTIRAS! Eles devem ter mentido para ela. Eu não sou louco. MAS POR QUE EU NÃO CONSIGO ME LEMBRAR DE COMO CHEGUEI AQUI?
Is this the real life?
Is this just fantasy?
Caught in a landslide no escape from reality.
- Eu estou me sentindo cansado, mãe... Não posso ir embora? Eu quero sair.
Eu senti, no meu peito, a dor e o aperto no peito dela. O bom humor desmoronou na minha frente, agora só a dor e a culpa estavam ali.
- Filho, eu quero que você fique bem. Você está doente. Precisa de ajuda.
Open your eyes.
Look up to the skies and see.
I'm just a poor boy, I need no sympathy.
Ela continuou:
- Eles estão fazendo o melhor para... reabilitar você... - segurou minha mão e me olhou nos olhos. - Eu não gosto de estar longe de você, meu amor...
Because I'm easy come, easy go.
A little high, little low.
Anyway the wind blows, doesn't really matter to me, to me.
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As Doze Prisões
Misterio / SuspensoMarvin sempre foi assombrado por seus recorrentes pesadelos. Ao contrario do que muitos pensam ou estão habituados, ele não acordava aos gritos. Seus despertares eram silenciosos e frios, e muitas vezes ele não tinha certeza se havia saído completam...