12 - Sexta Prisão - A Casca

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12 - Sexta Prisão - A Casca

Voltei! Sentiram minha falta? Não!? É... Tanto faz, sei que é melhor acompanhá-la. Mas como nada que é bom dura para sempre, vocês estão de volta comigo. Dentre os meus pesadelos, um em especial me causava demasiado desconforto.

Nesse sonho em particular eu sofria algum tipo de ferimento grave, derivado de um acidente ou algo do gênero, e ficava comatoso. O grande problema era que eu me sentia consciente durante todo o tempo, apenas meu corpo não respondia a minha vontade. Sentia quando as agulhas entravam na minha pele buscando minhas veias. Ouvia cada dizer e conversa entre os médicos e enfermeiros. Ouvia quando minha mãe e amigos iam até lá para me ver e cuidar de mim, falar comigo.

Ouvia, e odiava, cada movimento dos ponteiros do relógio acima da minha cama. Isso em especial me enlouquecia. Estar imerso na escuridão, sendo acompanhando pelo ritmo constante do tique-taque, tique-taque, tique-taque. Ver o tempo se arrastar e ao mesmo tempo em que se está parado nele.

Sempre chamei esse sonho de "Casca", me mantinha confinado em mim mesmo. Prendiam minha alma e mente dentro do meu corpo. Nos demais pesadelos eu podia ver um fim ou até mesmo fazer algo a respeito. Nesse não.

Era como se eu ficasse consciente durante toda a duração do sono, como uma paralisia do sono aprimorada. Eu percebia o passar do tempo, e não me encontrava nada descansado ao abrir os olhos no dia seguinte.

Assim que apareci com Neku na frente de sua casa, tive forças para arrastar ele até a porta e bater. Sentia um frio descomunal irradiando por meu corpo e eu tremia. Um luz se acendeu em algum lugar da casa. Ouço vozes e passos apressados. E então falam comigo por trás da porta:

- Quem é?

Minha voz não saia enquanto mexia minha boca com letargia. Estava quase escorregando para a inconsciência e consegui reunir concentração o bastante para bater debilmente mais duas vezes. TOC TOC. Por fim ele abriu a porta, primeiro um pouco e a medida que o assombro tomou conta do seu rosto ele escancarou a porta de vez.

- FILHO!?

Nesse ponto, meu corpo parou de me obedecer. Esperei que tudo ficasse negro, mas isso não aconteceu tão depressa. Senti a dor quando meu rosto bateu no batente da porta, desmoronando sob meu próprio peso. Senti a mão quente do pai do meu amigo medir minha temperatura, abrir meu olho para checar a pupila. Um misto de sons e cores embaçadas preencheu tudo o que se seguia. Fui carregado pelos três para deitar numa cama, envolvido em um cobertor e as mãos dele checaram dessa vez meus batimentos no pescoço. Após algum tempo aferiu minha pressão.

- O que aconteceu, Lucas? Eu falei com ele no telefone mais cedo. Como ele pode estar aqui!? - A mãe dele soava desesperada.

- Eu não sei, mãe. - ele começou a chorar. - Eu vacilei. Eles me pegaram, me levaram para um lugar. Eles iam me matar e... - ele perdeu o controle e falava soluçando ao meio em prantos, chorando intensamente. - Faz dois dias que eu tô lá, e eu merecia, ai ele apareceu, todo mundo sumiu. Eu não sei como a gente chegou aqui. Tava pegando fogo, mãe. Fogo!

- Lucas, meu filho, se acalma. Não entendi nada. Olha o estado dele, Matias.

- Uma coisa de cada vez mulher. Tira o menino daqui enquanto eu cuido dele.

- EU NÃO VOU SAIR!

- Então fica quieto, Lucas! - a voz do pai dele foi fria como gelo. Ele estava nervoso, com medo. - Esse rapaz tá quase morto, e eu não sei de que diabos. Nunca vi nada assim. Não é veneno, não é infecção, não é ferida. não é hipotermia. Onde vocês estavam?

- Eu... - Neku hesitou. Inspirou fundo e soltou o ar devagar. - Eu fui pego, por um pessoal da pesada. eu tava preso... - ele segurava o choro, e a voz parecia morrer na garganta as vezes. - Eles iam me matar. Eu não faço ideia de onde era, me pegaram na rua, me bateram e quando acordei tava nesse porão. Ele apareceu lá. Tirou todo mundo de dentro e pôs fogo na porra toda, pai!

As Doze PrisõesOnde histórias criam vida. Descubra agora