- O que você vê nessa imagem? - a iluminação da sala estava reduzida e o frio do ar condicionado contra a fina camada de pano de minhas roupas fez arrepiar-me. Não fazia ideia de como tinha chegado ali, sentia que estava dormindo até agora pouco.
- Eu sei lá... Uma borboleta? Uma mariposa, talvez. - o médico moveu mecanicamente a pasta para o próximo desenho.
- E nessa? - me olhou inexpressivo.
Os borrões pretos eram difusos e sem padrão algum, raramente eram simétricos. Eu achava aquilo tudo muito estúpido. Esse desenho parecia um boi.
- Vaca... - respondi apático. Ele fez anotações num bloco de papel qualquer ao seu alcance, sorriu de um jeito amarelo e mudou de página novamente.
- E agora?
- Uma casa? - ele se abaixa para anotar e eu reviro os olhos. Ele então põe o portfólio de lado, checa um gravador de voz e retoma o caderno de anotações.
- Agora eu vou te falar uma emoção ou sentimento, e você vai me falar uma cor, e se quiser um objeto que você pode associar ao sentimento. Entendeu?
- Acho que sim...
- Pronto?
- Acho que sim...
- Nojo ou desgosto.
- Verde... Remédios... - os olhos dele estudavam minhas reações e respostas com uma certa avidez.
- Esperança.
- Dourado. Areia...?
- Acuamento.
- Cinza. Paredes. - sinto uma certa coceira no rosto, mas resisto ao impulso de demonstrar qualquer desconforto na presença dele. Sustento o seu olhar por pura birra.
Que lugar era esse? Estou usando roupas de hospital, e aqui parece ser uma sala de exames. Tem pôsteres de saúde, pouca mobilha e um ar séptico. Ele seguiu com a rodada de cores e me fez outras perguntas sem sentido algum. Me sentia terrivelmente cansado daquilo.
Queria ir embora, mas eu não conseguia pensar em nada para fazer ou algum compromisso. Que lugar era aquele? O que eu estava esquecendo? Ele me dispensou como um aperto de mão e agradeceu pela minha cooperação.
Tanto faz.
Andei até minha cama no meio das demais e senti a exaustão me envolver. Era o efeito dos meus remédios. Às vezes eles limitavam minhas respostas físicas, percepção do ambiente, concentração.
Algumas noites eu precisava ser sedado por conta dos pesadelos. Meus pesadelos eram intensos. Eram reais... Quase reais! Quase. Se eu insisto nessa ideia de que eles são reais, eu levo bronca.
Deito para dormir sob os olhos vigilantes deles e com uma certa velocidade apago.
***
- AAAAAAAAAHHHHHHRRRRRGGGGGGGGGG! - Droga! Eu tive um sonho ruim de novo. Ouço os passos apressados deles vindo até mim. Não! Algo está errado!
Salto da cama e tento me refugiar, mas naquele lugar não tem saída nenhuma. Meu rosto coça como se tivesse sujo com alguma coisa. Não consigo ir muito longe e eles me cercam.
Sou derrubado no chão com violência.
- Não devia fazer tanto show, Bela Adormecida. - um deles diz as minhas costas.
- Cara eu detesto quando ele faz isso. Aplica Propofol nele.
Sinto a picada no pescoço e apago.
***
O alarme soou estridente. O cheiro de desinfetante preencheu as minhas narinas. Mesmo nessa hora da manhã, a luz do lugar era desconcertante. O fino lençol claro estava meio de lado, e ao abrir meus olhos notei que eu estava parcialmente descoberto. Tiras de couro prendiam minhas mãos e pés ao leito.
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As Doze Prisões
Tajemnica / ThrillerMarvin sempre foi assombrado por seus recorrentes pesadelos. Ao contrario do que muitos pensam ou estão habituados, ele não acordava aos gritos. Seus despertares eram silenciosos e frios, e muitas vezes ele não tinha certeza se havia saído completam...