02 - A Primeira Condicional - As Horas
Certo, eu não morri. Desculpe por preocupá-los. Mas eu poderia jurar que sim. Quem pode me culpar? Aparentemente eu cai com o bebê numa especie de cama kingsize que estava na exposição de móveis finos. Espero não ter que pagar por ela ou eu iria preso.
Desmaiei no ato.
Fui desperto por um solavanco da ambulância em que eu estava. Abri os olhos e vejo um paramédico e minhas duas amigas. Tina estava chorando assustada. Mira estava puta da vida. Dava para ver o fogo no olhar dela. Eu ia precisa de muita jujuba para deixar ela de boa comigo de novo.
Apertei a mão de Tina, que segurava a minha. Mas não tentei falar e nem me mexer. Assisto seriados médicos e minha mãe é doutora, sei que ficar agitado em casos como esse dão muito errado. Muito, muito errado.
- Ele acordou!
- Não tente se mexer rapaz, não sabemos se houve algum dano ou lesão na sua espinha e é melhor não fazer nada até termos certeza.
Assenti com um aceno leve de cabeça.
- E o bebê? - perguntei para testar a minha voz.
- Ileso, graças a você. Ainda assim foi idiota. - Mira deu um suspiro cansado. - Sério, Marvin! Se você não tivesse dado sorte com aquela cama, teria morrido. Você e o pequeno.
- Eu sei poxa! - estava a um passo de um colapso nervoso, agora que o choque me deixava eu queria chorar. Eu quase morri, como num dos meus pesadelos. Que porra tinha sido aquela!?
Nossos ânimos estavam muito instáveis para uma conversa e um silêncio pesado caiu sobre nós. Tina não estava mais chorando e Mira tinha tirado uma foto minha imobilizado na ambulância. Por tudo de mais sagrado que ela não faça um post no Facebook ou o no Twitter. Eu já podia ver: "Para cada curtida e amém...". Sim, Mira tinha um senso de humor bem insensível as vezes.
A ambulância parou e o paramédico me preparou para descer. Assim que olhei o exterior da emergência, o meu estômago embrulhou e eu torci a cara.
- Vocês não me trouxeram para o hospital da minha mãe... Vocês não fariam algo desse tipo comigo, né!?
- Se lascar, Marv! Era o mais próximo. O que você queria? - Mira protestou.
- CARA! Ela vai saber no segundo que eu cruzar aquela porta!
- Correção: eu já sei.
Cara, isso era ruim.
Olhei para a voz que veio de minha esquerda para vislumbrar a Doutora Miranda Costa em toda sua preocupação e fúria me encarando. Seus olhos e bochechas estavam vermelhos, então ela havia chorado.O cabelo estava um tanto quanto desgrenhado, então talvez ela tenha sido acordada de uma pausa ou passou as mãos nervosas pela cabeça. Ela ficava de mau humor quando acordavam ela, mas tanto faz a situação aqui não era nada simples. Sua boca estava fechada numa linha inexpressível.
Os enfermeiros do hospital começaram a me levar para onde eu seria examinado e perdi as meninas e minha mãe de vista. Intermináveis duas horas depois sendo levado de um lado para o outro para ser filmado, espetado, escaneado, estudado, analisado e muitos outros 'ados'. Sai andando para o que seria o quarto onde eu "passaria a noite em observação".
Os médicos fazem muito isso: não te deixam ir para casa quando você está bem e querem "te observar" durante a noite, mas só aparecem no outro dia de manhã. Nunca fez muito sentido para mim.
Ninguém no meu quarto. Meu celular ia ficar sem bateria e eu não estava com nada que pudesse me manter distraído. Super! Desse jeito eu vou acabar dormindo.
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As Doze Prisões
Misterio / SuspensoMarvin sempre foi assombrado por seus recorrentes pesadelos. Ao contrario do que muitos pensam ou estão habituados, ele não acordava aos gritos. Seus despertares eram silenciosos e frios, e muitas vezes ele não tinha certeza se havia saído completam...