Contagem para a forca

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Quando a escuridão se insinua

Eu sinto meus pesadelos me assistindo

E quando os meus sonhos estão dormindo

Eu sinto meus pesadelos me assistindo

– Ed Sheeran

A jovem não conseguia ouvir o próprio pensamento, todos os sons eram mínimos comparados com a pulsação nos seus ouvidos. Sua cabeça já ameaçava latejar, suas mãos tremiam, mas sua cabeça ainda não assimilara o que tinha acabado de ouvir.

— Acho que entendi errado.

Maryse sufocou o riso debochado e negou levemente, enquanto Robert apenas mostrava os dentes em um sorriso duro e frio.

— Uma menina tão bonita, pena que tão estúpida.

— Não chame Isabelle de estúpida — interveio Maxwell, apenas para levar um beliscão de Maryse.

— Quantas vezes terei que dizer-lhe para não falar quando não for convidado?

Isabelle estava tão desnorteada que não conseguiu pensar em nada nem para dizer em defesa do irmão mais novo. Sua mente esvaziava à medida que a veia em sua testa pulsava com mais força e a dor de cabeça aumentava.

Não fazia sentido nenhum. Esperava nunca ser pedida em casamento após o baile desastroso; esperava ficar boa dos machucados e ser jogada para fora de casa. Com sorte, a deixariam ficar como uma das criadas. Com muita sorte, seus pais a trancariam em um convento para o resto da vida.

— Não compreendo — colocou os talheres que ainda segurava de lado e resistiu ao impulso de mexer no cabelo trançado — Por que alguém ainda cogitaria pedir minha mão? Não sou e nunca fui considerada uma boa jovem para bom casamento.

Mesmo sendo tão suja a atual reputação da moça, a frase causou uma reação inesperada nos pais, que contiveram – não tão bem – uma delicada surpresa. A beleza de Isabelle sempre foi e sempre seria notada pelos homens, um casamento não lhe faltaria. Sempre haveria homens de nomes de menos peso que Lightwood que não se importariam de casar com uma moça sem talentos. Ela era linda e, por enquanto, uma jovem de nome.

Homens sujos – como Maryse chamava os pobres – não valiam. Os Lightwood precisavam estabelecer um casamento com alguém que mantivesse o nome da família com algum prestígio, assim como os bens que eles ainda tinham, o casarão sendo o principal.

Seus pais que desejavam manter o nome... E o casarão.

Num momento de paz interior, ou talvez pena, Robert Lightwood caminhou pela sala de jantar, puxou uma cadeira ao lado da filha e a olhou nos olhos. Ela estremeceu, só que não de frio; a jovem se prendeu a esse sentimento, medo é algo que ela reconheceu nessa confusão. Nunca mais verei a luz do sol, chegou a pensar.

Porém, no olhar do pai não havia nenhuma ameaça. Ele a olhava como a muito não o fazia. Segurou as mãos da filha e disse:

— Querida, você vai se casar. O lorde enviou uma carta, uma proposta irrecusável. Você vai salvar a família, certo? — foi um momento raro, ela se sentiu segura perto dele. Podia ser sincera pela primeira vez.

— Mas, senhor, e se eu não quiser? — disse tão baixo que achou que ele não a ouviria. Mas ele ouviu nitidamente.

— Então você não preza ou pertence a essa família. — Robert levantou-se e a menina se sentiu mais sozinha do que nunca.

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