Histórias da carochinha

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E não percebemos o passar do tempo

não percebemos nada

sentamos um do lado do outro

(...)

e amanhã quando eu acordar eu vou apostar

que nós andaremos junto de novo

porque eu posso perceber que nós vamos ser amigos

– The White Stripes



Acordar cedo nunca foi um problema para Isabelle. De fato, levantar-se junto com o Sol sempre fez parte da rotina da vida da Lightwood: seu pai sempre a acordara cedo para tutorá-la, ela amava o calor da manhã enquanto cavalgava e, depois que ficara mais velha, Kaelie sempre a acordava cedo para que ela pudesse se encontrar com Meliorn.

Portanto, era mais que normal que Isabelle estivesse acostumada a levantar assim que sentisse os primeiros raios de Sol batendo em seu rosto. Ali na mansão Montgomery, ela sempre acordava com as alucinações do violoncelo e a sensação de uma péssima noite de sono. Bem, agora sabia que não eram alucinações...

Ela abriu os olhos lentamente, piscando por conta da claridade e sentindo a diferença de ambiente e uma leve dor no pescoço. Era uma sala creme com vários livros espalhados e empilhados em estantes; havia uma mesa de mogno lotada de papéis no fundo da sala, contra uma janela; ela estava em um divã de tecido azul marinho e, de frente para ela, estava um lorde Montgomery segurando um violoncelo com uma mão e um pano com a outra. Ele olhava diretamente para ela com os óculos ligeiramente tortos e com um sorrio discreto.

— Bom dia, senhorita Lightwood — ele falou.

Isabelle pareceu se dar conta de onde estava e porque estava ali e se sentou rapidamente no divã. Notou que estava apenas de camisola e sentiu o calor indo para suas bochechas enquanto buscava uma maneira de se cobrir. Lorde Montgomery apenas apontou para uma coberta caída no chão e ela pegou com pressa enrolando em torno de si. O lorde não parecia constrangido, mas também ostentava um rubor no rosto.

— Você estava me olhando dormir — não foi uma pergunta, foi uma afirmação.

— Estava — ele disse simplesmente. Bem direto, pensou.

— Isso é esquisito — ponderou. — Passou a noite fazendo isso? Porque se passou, é assustador. — ela encolheu-se no divã.

Ele riu abertamente, exibindo os caninos levemente pontudos. Isabelle decidiu em um instante que era um dos sons favoritos dela, era contagiante e genuíno e ela quase queria sorrir junto. Quase. Logo depois ela ficou com raiva dele por estar rindo dela.

— Não, pelo anjo! — ele negou ainda com resquício de risada — Eu acordei há pouco tempo e voltei para polir meu violoncelo.

— Então por que estava me encarando? Continua sendo estranho, principalmente quando deveria estar prestando atenção em seu violoncelo.

Ele deu de ombros, parecendo não se importar muito com o assunto.

— Gosto de olhar para o que eu acho belo — ele disse — E você é linda, senhorita Lightwood.

Aquilo pegou Isabelle de surpresa. Claro, ela sabia que era bonita. Ela estava acostumada com as pessoas falando que ela era bonita. Meliorn vivia a enchendo de elogios e, quando morava com os pais e eles estavam de bom humor, eles também viviam para a beleza dela.

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